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Energia solar brasileira está parada por altos custos e regras restritas

7 minutos de leitura

Por Luciano Costa
Via Reuters

Um plano do governo para estimular a construção de fazendas de energia solar no Brasil está vacilando por causa de altos custos, regras rígidas que exigem componentes locais e concorrência a baixo preço de fornecedores chineses, dizem reguladores e executivos do setor de energia.

Os desenvolvedores estavam entusiasmados com o potencial da energia solar em um país de tamanho continental com 200 milhões de consumidores e abundante luz solar. Mas muitos ficaram desanimados e o programa de três anos do governo está se movendo tão lentamente que o banco nacional de desenvolvimento está dando outra olhada em regras que exigem uma quantidade mínima de componentes feitos localmente em projetos.

“Os investidores estão desanimados”, diz Armando Abreu, diretor da Braselco, consultoria de energia na cidade de Fortaleza, no Nordeste. “Muitos desses projetos, na minha opinião e em muitos outros, provavelmente não sairão da prancheta”.

Mesmo que o programa atual fosse bem sucedido, mais que dobrando a oferta atual de energia gerada por energia solar, ainda representaria apenas cerca de 2% da matriz elétrica total do Brasil. Isso dificilmente revolucionaria a energia no maior país da América Latina, alimentado principalmente por hidrelétricas.

Até agora, o governo realizou três rodadas de licenciamento para as empresas para construir e operar instalações de geração de energia solar.

Dos 3 gigawatts em projetos concedidos, a maioria no nordeste árido do Brasil, apenas 19 dos 111 parques solares começaram a construção. De acordo com um relatório de inspeção do regulador de energia elétrica ANEEL, 24 das plantas aprovadas enfrentam “dificuldades na viabilidade econômica do projeto”.

Enquanto isso, apenas uma nova fábrica para construir suprimentos locais cruciais para os projetos começou a produção.

Essa fábrica de painéis solares começou a operar em dezembro e já está lutando com os impostos notoriamente altos e os custos de produção que há muito prejudicaram os fabricantes brasileiros. Seus painéis são 40 por cento mais caros do que as importações chinesas, de acordo com executivos de sua operadora, Canadian Solar Inc.

Depois, há a questão do financiamento. O banco nacional de desenvolvimento é a única fonte a longo prazo disponível para financiar o setor. As taxas de juros historicamente altas do Brasil tornam proibitivos os empréstimos comerciais de longo prazo para grandes projetos de energia, e as autoridades do setor de energia dizem que os credores estrangeiros estão cautelosos com os riscos cambiais, especialmente durante a pior recessão do país.

“DESESPERADO”

A maioria dos desenvolvedores solares que receberam licenças no programa em andamento esperava financiamento do banco de desenvolvimento do Brasil, conhecido como BNDES. Ela financia a maioria dos grandes projetos de infra-estrutura, energia e industrial no Brasil com empréstimos subsidiados.

No entanto, de acordo com as regras vigentes, os empréstimos do BNDES só estão disponíveis para empresas que se comprometam a usar equipamentos produzidos localmente. Como existem poucos fabricantes locais, os desenvolvedores de parques solares têm poucas opções para satisfazer essas regras.

“Todos estavam apostando no financiamento do BNDES”, diz João Victor Ferraz, especialista em energia da consultoria E & Y. “Agora eles estão todos desesperados.”

Empresas como o Grupo Cobra, Fotowatio, Renova Energia SA e Rio Alto Energia estão negociando com o governo para cancelar suas licenças e evitar multas por atrasos.

Embora os suprimentos locais sejam escassos, essas empresas argumentaram em uma carta de 2016 à ANEEL que a desvalorização da moeda brasileira, o real, tornou as importações muito caras.

Nenhuma das empresas respondeu aos pedidos de comentários da Reuters.

Funcionários do BNDES reconhecem os problemas. Carla Primavera, que supervisiona o financiamento do setor elétrico brasileiro, disse que o BNDES espera atrair outros fabricantes de painéis solares.

Ela disse que o banco também está repensando as regras existentes que elevarão os requisitos de conteúdo para sistemas fotovoltaicos para um mínimo de 76% de componentes produzidos localmente em 2020 de 56% agora.

“Estamos olhando para possíveis mudanças, também levando em consideração a demanda futura de energia”, disse ela, sem especificar potenciais mudanças.

Outra complicação: o consumo de energia no Brasil caiu desde o início da campanha de desenvolvimento do setor. O governo realmente cancelou uma rodada de licenciamento para projetos solares e eólicos no final do ano passado, um movimento que atraiu críticas.

“Foi um sinal ruim”, disse Abreu, consultora em Fortaleza. “Para os produtores de equipamentos, tem que haver um mercado, os investidores terão falta de confiança para construir fábricas aqui”.

E os fornecedores, subcotados pelos produtores chineses, precisam encontrar maneiras de superar as importações de baixo custo.

A Canadian Solar, cuja fábrica está sediada no estado de São Paulo, diz que estava tentando se tornar mais competitiva. “Esperamos reduzir esses custos no médio prazo”, disse Hugo Albuquerque, diretor de vendas da empresa para a América do Sul.

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