Grupo pesquisa camarão da Gruta do Lago Azul em Bonito

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Crédito: O Estado

Por O Estado

Quinze anos depois do último mergulho para pesquisa feito na Gruta do Lago Azul, em Bonito -a 245 km de Campo Grande-, expedição passou 90 dias mergulhando nas águas misteriosas e protegidas da cidade sul-mato-grossense, que é cartão postal reconhecido internacionalmente pela riqueza ambiental.

É o Projeto Potiicoara, comandado pela doutora em zoologia da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Lívia Medeiros Cordeiro, e leva esse nome por conta de um crustáceo pré-histórico, tão antigo quanto ou mais antigo que os próprios dinossauros encontrados no sistema aquífero da Serra da Bodoquena.

É um camarão de água doce denominado Potiicoara brasiliensis, que já havia sido catalogado por uma aluna de doutorado da USP (Universidade de São Paulo) em 2002. “Depois disso, o trabalho de pesquisa não teve continuidade e eu resolvi começar esse projeto”, explicou.

Descrito inicialmente como uma espécie exclusiva do Lago Azul, a pesquisadora agora sabe que ele também está presente em cavernas da bacia do Pantanal. Pesquisadores também encontraram exemplares do minúsculo camarão em cavernas da Serra da Bodoquena, Corumbá e Nobres (MT).

A dúvida maior que a professora de biologia agora tenta desvendar é: como eles podem estar presentes em áreas tão distintas? Qual a conexão das águas subterrâneas?

Especialista na fauna de cavernas, a pesquisadora lembra que, do ponto de vista de conservação, é comum que elas abriguem comunidades muito específicas. “Em uma única caverna pode haver uma espécie que é só dela. Se você extingue aquele lugar, extingue também uma espécie inteira”, explicou.

Durante o trabalho de pesquisa foram coletadas espécies que, levadas para o laboratório passaram por procedimentos como a extração no DNA, o que possibilitou entender várias questões, descobrindo se tratar de uma espécie exclusiva de águas subterrâneas.

“São animais extremamente adaptados, que estão lá há milhões de anos, evoluindo de tal modo que não possuem mais olhos e são albinos, já que não há luz nas águas subterrâneas”, explicou.

Esse projeto, segundo a doutora, nasceu para responder pesquisas muito específicas sobre a espécie e seu habitat natural. “No caso do potiicoara, a gente já sabia algumas informações mas precisava de um projeto com foco maior. Queremos saber como ele foi parar nas cavernas em volta de todo o Pantanal, por exemplo”, argumentou.

Considerado uma espécie troglóbia, ou seja, um tipo de animal adaptado a viver exclusivamente no ambiente de cavernas, em escuridão absoluta, é fato que antigamente eles tinham outra forma.

“Ele é uma das espécies mais enigmáticas do Brasil. Primeiro porque tem a maior área de distribuição conhecida”, explicou a pesquisadora. Segundo ela, parentes muito próximos foram encontrados na África e Austrália, levando a crer que existem desde quando todos os continentes estavam unidos.

Mergulho na gruta passou dos 100 m

A equipe da doutra Lívia é composta por mergulhadores profissionais, guias e acadêmicos do curso de biologia. Ela mesmo tem experiência com mergulho e atua junto no trabalho de campo no interior das cavernas, descobrindo espécies e estudando a fauna local. Os mergulhos são feitos com a devida autorização do órgão ambiental e com todos os cuidados necessários para garantir questões de segurança e preservação do local visitado.

Com ela, três mergulhadores adentraram às águas geladas da Lagoa Azul. “Se você me perguntar qual a profundidade eu vou responder que não sei. Ninguém sabe exatamente qual a profundidade da Lagoa Azul, mas é fato que chegamos a pouco mais de 100 metros”, explicou.

Lá em baixo, segundo ela, a água é ainda mais cristalina do que se pensa, sendo possível encontrar ossadas de animais pré-históricos como a famosa preguiça gigante, tigre dente de sabre e muitas ossadas humanas.

Um crânio batizado pela equipe com o nome de Chico foi achado lá em baixo com uma pedra enfiada no meio. Difícil é saber a história de vida daquela pessoa. Ele pode ter caído acidentalmente, ter se afogado, ter sido morto. A pedra pode ter caído e se fixado no meio do rosto.

Não se sabe ao certo, mas a pesquisadora já cogita o novo projeto para mapear as águas subterrâneas locais na Serra da Bodoquena. O fato é que, antes de ser preservado, apesar de todo o valor histórico que representa, a gruta era aberta à visitação e já houve um tempo em que as pessoas se banhavam nas águas calcárias do Lago Azul.

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