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Nascentes de rios do Pantanal podem secar, alertam especialistas

9 minutos de leitura

Via Correio Braziliense
Por Vilhena Soares

Uma das maiores áreas úmidas do planeta, região de extrema importância para o ecossistema global, o Pantanal é ameaçado pela atividade humana, como a expansão da agricultura e da pecuária e o uso de pesticidas. Símbolo da região, o tuiuiú está entre as espécies em risco de extinção, condição que tem levado organizações de proteção ambiental, como a World Wildlife Fund (WWF), a mapear com mais detalhes os perigos e a reforçar a necessidade de implementação de medidas que protejam a região. Ambas as medidas nortearam, ontem, um dos painéis do Fórum Mundial da Água, em Brasília, com participação de representantes dos governos brasileiro, boliviano e paraguaio, países cobertos pela imensa planície.

Reconhecido como Reserva da Biosfera pela Unesco em 2000, o Pantanal é um santuário com rica fauna selvagem e extensão superior a 170.500 quilômetros quadrados. De acordo com a WWF, a região abriga 656 espécies de aves, 159 de mamíferos, 325 espécies de peixes, 98 de répteis, 53 de anfíbios e mais de 3.500 plantas. A região conserva mais de 85% de sua cobertura vegetal nativa, constituída principalmente por uma savana, mas a maior área úmida do planeta corre o risco de morrer se as nascentes dos rios não forem protegidas, alertam biólogos, ecologistas e ativistas. “Essa região está em risco e, se nada for feito para mudar isso, nos próximos anos, poderemos ver o Pantanal entrar em colapso”, afirma Júlio César Sampaio, coordenador do programa Cerrado-Pantanal da WWF, em comunicado.

Apesar de ser o bioma brasileiro melhor preservado, a região adjacente, onde nascem muitos dos rios que transportam água para o Pantanal, foi desmatada em 55%, denuncia a WWF. De acordo com os dados da organização internacional, 391 mil hectares da região das chamadas cabeceiras do Rio Paraguai ainda não têm proteção legal necessária. O desmatamento e a erosão do solo, devido ao avanço das monoculturas de soja, cana-de-açúcar, eucalipto, entre outros plantios, além de dezenas de usinas hidrelétricas, constituem uma séria ameaça à região.

Há ainda os impactos para além da imensa área pantaneira: ela tem extrema importância em relação às mudanças climática mundiais. Segundo especialistas, essa área úmida funciona como uma espécie de espelho de água, refletindo o calor e deixando o ambiente mais agradável, além de contribuir para a ocorrência de chuva em outras regiões. “O Pantanal não é só um patrimônio brasileiro. Mas do mundo, é uma joia rara que merece ser conservada”, destacou o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, durante a assinatura de um acordo com os governos do Paraguai e do Uruguai para a proteção do bioma.

Corredor protetivo

Os três países assumiram esse compromisso durante a 12ª Conferência das Partes da Convenção de Ramsar, ocorrida no Uruguai em 2015. Medidas foram tomadas ao longo desses três anos e, ontem, a união foi oficializada com a assinatura da Declaração de Interesse para o Pantanal. A construção de um corredor ecológico entre os três países é uma dos projetos em conjunto a serem implementados.

Conhecidos também como corredores de biodiversidade, essas áreas unem as unidades de conservação, separadas por interferência humana, como a construção de estradas e as atividades madeireiras. A intenção é permitir o livre deslocamento de animais, a dispersão de sementes e o aumento da cobertura vegetal. Segundo especialistas, a medida reduz os efeitos de fragmentação dos ecossistemas ao promover a ligação entre áreas distintas e permitir um fluxo entre as espécies da flora e da fauna.

O ministro das Relações Exteriores do Paraguai, Didier César Olmedo Adorno, ressaltou a importância de buscar esse tipo de equilíbrio na região pantaneira, respeitando também os moradores da região. “Eles fazem parte dos sistemas que regem o local, justifica. “O Pantanal está no centro da produção de alimentos da sociedade. Por isso, nosso trabalho de proteção tem que andar de mãos dadas com a população. Precisamos de programas e projetos coordenados, levando em conta diversos fatores da área, como o transporte fluvial, um dos pilares mais importantes. A responsabilidade para lidar com esses recursos está em nossas mãos”, destacou.

A WWF foi uma das responsáveis pelo acordo firmado. Maurício Voivodic, diretor executivo da organização, ressaltou a importância da parceria firmada. “Esse compromisso é importante porque é um ponto de partida de uma agenda de ações integradas entre os três países. Temos vários temas no Pantanal que não podem ser cuidados por um país sozinho. A infraestrutura, a pesca, tudo isso precisa de um olhar compartilhado. Acho que o compromisso é o ponto de partida para isso acontecer”, frisou.

Gigante verde

Aproximadamente 62% do Pantanal encontra-se na Região Centro-Oeste do Brasil, nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A área úmida se estende ainda pelo norte do Paraguai (20%) e pelo leste da Bolívia (18%).

No Brasil

Segundo o governo brasileiro, a Agência Nacional de Águas (ANA) direcionou R$ 8 milhões para o programa Produtor de Água, projeto que estimula financeiramente os produtores da região a investir na proteção da água. Outra medida é o uso de recursos arrecadados com multas ambientais. A primeira utilização foi direcionada ao Rio São Francisco. A próxima deverá ajudar na conservação da Bacia do Taquari, que é de extrema importância para o ecossistema da região pantaneira.

Novos sítios de conservação

O Brasil teve mais três sítios Ramsar reconhecidos, anunciou ontem o Ministério do Meio Ambiente. Trata-se de um título conferido pela Convenção de Ramsar, criado na década de 1970, que prioriza a proteção de habitats aquáticos e de aves migratórias. As três áreas que passam a integrar a lista brasileira fazem parte do mosaico do Rio Negro, no Amazonas. O país tinhas outros 22 sítios. Com os novos, passa ter a maior extensão em áreas reconhecidas como sítio Ramsar. O título contribui para que regiões contempladas consigam apoio a pesquisas e inanciamento de projetos.

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