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Santa Catarina é referência na procura, construção e certificação de condomínios sustentáveis

10 minutos de leitura

Por Procel Info
Via Diário Catarinense

Depois que participou em 2012 da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, o empresário Luiz Augusto Marchi, 36, voltou a Florianópolis com um propósito: criar na cidade natal um condomínio que proporcionasse o menor impacto ambiental possível. Assim ganhava forma um residencial localizado na orla de Cacupé com 43 terrenos distribuídos em área verde de 99 mil metros quadrados.

O empreendimento ilustra o caminho que Santa Catarina vem trilhando para destacar-se no contexto green building — conceito estrangeiro que dá conta dos empreendimentos sustentáveis. O Estado tem 22 construções registradas na principal certificação, a LEED (liderança em energia e design ambiental, na tradução do inglês, promovida pelo GBC Brasil), sendo o segundo da região Sul e o 10º do Brasil.

Além da horta orgânica e coletiva, da energia fotovoltaica nas áreas comuns, com tomadas para reabastecimento de veículos elétricos, da estação de tratamento de efluentes (esgoto) e da adequação à Política Nacional de Resíduos Sólidos, que impõe a separação, armazenamento e destinação final dos resíduos, o Vivá Residence Cacupé possui normas cobradas em convenção e no regimento de obras para as casas instaladas ali — até o momento são duas, mas 70% dos terrenos já foram vendidos a R$ 1,2 mil o metro quadrado.

Com uma residência situada no topo do terreno e atuando praticamente como síndico do residencial, Marchi indica aos proprietários o reaproveitamento de água da chuva, implantação de placas fotovoltaicas, uso de materiais específicos na construção, impermeabilização de solo, ventilação e luminosidade natural nas casas construídas.

“Cada pessoa executa o seu projeto no terreno, mas tem que ser dentro de uma visão que pontuamos como sustentável, que é baseada no social, no econômico e no ambiental, para que percebam a importância desses métodos”, diz.

CUSTO ALTO É OBSTÁCULO

A percepção é confirmada na pesquisa Condomínios sustentáveis de baixo impacto ambiental, desenvolvida pelos arquitetos gaúchos da Universidade de Passo Fundo e da Universidade Federal de Pelotas, Stífany Knop, Eduardo Grala da Cunha e Luciano de Vasconcellos. Eles deduzem que a busca da população por empreendimentos sustentáveis está associada à má utilização dos recursos naturais nas construções em geral, que pode ser revertida em espaços maiores como edifícios residenciais e comerciais.

“Existe uma procura por soluções praticáveis. Em escalas maiores, como em condomínios, os impactos gerados podem ser muito menores. A implantação de um sistema de tratamento de esgoto, por exemplo, torna-se praticamente inviável financeiramente para uma unidade habitacional. Implantando em áreas de abrangência maiores, quadras ou bairros, torna-se atrativa do ponto de vista financeiro e ambiental”, explicam.

No caso do Vivá Residence Cacupé, a introdução de conceitos sustentáveis respondeu por 30% dos custos do projeto. Em outros condomínios, essa porcentagem pode ser maior e, por consequência, os valores de venda também sobem. Por esse motivo, o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil da Grande Florianópolis (Sinduscon), Hélio Barros, pondera que se trata de um mercado de luxo ameaçado em um momento de crise econômica.

“De 2006, quando o conceito foi definido pela ONU [Organização das Nações Unidas], até agora a sustentabilidade é levada em conta na hora da aquisição ou aluguel de um imóvel. Mas quem está mandando é o bolso do cliente. Estamos produzindo imóveis sustentáveis, mas também temos que atender a outras demandas, como a de menor custo”.

Visão mais otimista tem o presidente do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis e dos Condomínios Residenciais e Comerciais de Santa Catarina (Secovi-SC), Fernando Willrich. Ele afirma que tecnologias pontuais podem dar conta de projetos sustentáveis no que chama de um “momento de transição”.

“São iniciativas que não são necessariamente sustentáveis, mas que começam a ter essa pegada. Medidas que provavelmente não terão certificação, mas que indicam uma preocupação. Mas seria mais fácil se tivéssemos incentivo fiscal”, analisa.

Em Santa Catarina, construir edificações sustentáveis tem benefícios isolados, como em relação à energia solar e ao aproveitamento de água de chuva — com deduções nas contas de luz e água, respectivamente. Além disso, a Fundação do Meio Ambiente (Fatma) lembra que todos os empreendimentos que utilizam verbas públicas têm que ser sustentáveis. Desde 2015, a prefeitura de Florianópolis prevê descontos progressivos no IPTU para esse tipo de empreendimento, mas a legislação ainda não é regulamentada.

AQUISIÇÃO ALTA, MANUTENÇÃO BAIXA

Se o custo para adquirir um imóvel sustentável pode ser elevado, mantê-lo compensa. Esse argumento motivou Margareth Razzera, 56, a trocar um condomínio convencional no bairro de Campinas, em São José, por um empreendimento de menor impacto ambiental no bairro Cidade Pedra Branca, em Palhoça, o Smart Residence. Proprietária de um apartamento de dois quartos cujo metro quadrado custa em média R$ 5 mil, a gaúcha que mora em Santa Catarina há 26 anos conta que economiza nos boletos de energia elétrica e condomínio.

“Lá eu chegava a pagar R$ 500 de taxa e não tinha nenhuma área de convivência com os moradores como tem aqui. Mesmo usando ar condicionado o dia inteiro, minha conta de energia do último mês deu R$ 260, porque a indicação é de usar inverter [modelo mais econômico] e devido as janelas panorâmicas, que iluminam o apartamento o dia inteiro sem a necessidade de lâmpadas”, diz.

A moradora, que também conta com sistema de aquecimento de água com placas solares e apoio com aquecedores de gás natural no apartamento acrescenta outra motivação para a mudança:

“É a mensagem que queremos deixar para os nossos filhos e netos, de um mundo melhor, onde eles possam viver bem e por mais tempo”.

A aposentada é vizinha de outro empreendimento de menor impacto ambiental, o Office Green, também situado no bairro planejado da Grande Florianópolis, que foi o primeiro edifício comercial com certificado LEED ouro em Santa Catarina devido ao uso racional da água, eficiência energética, seleção de materiais e recursos, qualidade do ambiente interno, inovação em projeto e desenvolvimento sustentável do terreno e do entorno. Na comunidade, aliás, são cerca de 15 prédios e, segundo o engenheiro civil da Cidade Pedra Branca, Flávio Roberto Ludvig, em todos eles há pelo menos um conceito de sustentabilidade.

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