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Antes de tudo, cuidar da casa das onças-pintadas

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cuidar da casa das onças

Cuidar da casa das onças-pintadas é o primeiro passo para garantir segurança desses felinos.

  • Das 1.668 onças estimadas no Pantanal em 2020, 746 foram afetadas pelas queimadas;
  • Um total de 50 represas foram construídas na região nos últimos 20 anos, o que afeta as onças com a diminuição do número de peixes e a falta de fluxo de nutrientes;
  • O fogo causou, em média, 78% da degradação das áreas prioritárias para onças, de acordo com o do artigo ‘Wildfires disproportionately affected jaguars in the Pantanal’;

 

Afinal, o que são os seres vivos sem seu habitat? 

Como falar sobre cuidar das onças-pintadas sem considerar a preservação de suas casas? Quais são os riscos que suas vidas estão expostas quando são obrigados a saírem do seu local ou, pior, quando suas casas são destruídas? Essas perguntas precisam ser colocadas em questão ao abordamos a conservação das onças-pintadas e outros animais silvestres. Além disso, chamam atenção para a base do problema: problemas e decisões impostas sob o Pantanal que prejudicam todo o ecossistema.  

O Pantanal sofre com uma série de problemas que afetam também os seres vivos que ali habitam. Entre eles, estão a construção de represas, os incêndios e o desmatamento com intuito de aumentar as áreas para criação de gado e plantação de soja. O Pantanal é uma casa das onças-pintadas no Brasil e está em estado de alerta.

 

As barragens na casa das onças

A construção de barragens está entre as grandes ameaças para o Pantanal.  

Um total de 50 represas foram construídas na região nos últimos 20 anos, tanto por empreendedores privados quanto pelo governo. Essas estruturas acarretam uma série de consequências, como o bloqueio do fluxo de sedimentos no Pantanal. Além disso, também cortam os suprimentos de nutrientes da planície de inundação, como nitrogênio, fósforo, potássio e magnésio. Dessa forma, enfraquece a vitalidade da maior planície alagada do mundo.  

As represas também impedem a migração de peixes para reprodução. Além disso, a falta de fluxo dos suprimentos de nutrientes compromete a saúde dos peixes. Isso tudo afeta toda a cadeia alimentar: pássaros e outros animais que têm como fonte de alimento os peixes serão prejudicados. Como se não bastassem os prejuízos aos peixes e aos demais animais que dependem desses, as consequências vão além: compromete os meios de subsistência de milhares de pescadores.  

Leia também: Represas – uma constante ameaça para os ecossistemas

Mas e as onças, como são afetadas? Estes animais são topo de cadeia, portanto são diretamente afetados pelo que acontece com outras espécies. Além de serem afetadas pela diminuição no número de peixes, também sofrem em razão da falta de fluxo de nutrientes. Isto porque a diminuição de nutrientes impacta no crescimento de gramíneas nativas, que servem de pasto para a pecuária e para herbívoros como veados – um dos principais alimentos para onças. 

Vale ressaltar a fala de Rafael Morais Chiaravalloti, pesquisador da Ecoa e do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ): “O Pantanal é um dos poucos biomas de grande escala, dentro ou fora do Brasil, onde o desenvolvimento econômico sustentável, seja pecuária ou pesca comercial, pode prosperar ao lado da conservação da biodiversidade”. 

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A tragédia dos incêndios 

Desde 2020, os incêndios se intensificaram no Pantanal e trouxeram uma série de consequências graves para a casa das onças.  

O fogo causou, em média, 78% da degradação das áreas prioritárias para onças, de acordo com o do artigo ‘Wildfires disproportionately affected jaguars in the Pantanal’. Além dos animais, espécies de plantas também são afetadas pelos incêndios devido às chamas em si ou pelo solo danificado.  

Das 1.668 onças estimadas no Pantanal em 2020, 746 foram afetadas pelas queimadas. Ou seja, 45% dos indivíduos foram afetados por problemas como deslocamento forçado, ferimentos ou até mesmo a morte. 

Há ainda uma triste estimativa: um grupo de pesquisadores calculou que os incêndios de 2020 causaram a morte de cerca de 17 milhões de animais vertebrados. Considerando os efeitos indiretos das queimadas, como a interrupção de alguns ciclos ecológicos, esse número pode ser menor do que o número real. 

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Para as onças, outra consequência perceptível foi a mudança de comportamento. Em busca de alimento, as onças se aproximam cada vez mais de casas de ribeirinhos na região de Corumbá e Ladário (MS).  

Por falta de presas naturais, também vítimas das queimadas, animais domésticos passaram a servir de alimento para os grandes felinos, principalmente cachorros. 

Além dos animais domésticos, seres humanos que residem a região também sofrem com a mudança no comportamento das onças. As pessoas são obrigadas a voltarem mais cedo para sua casa para se precaver de encontrar com uma das pintadas no caminho. Há também risco direto de ataque para crianças e idosos, com relatos que incluem a entrada de uma onça em uma casa.  

 

Antes de tudo, cuidar da casa das onças 

Metade da população das onças-pintadas do mundo está no Brasil. Dentre as regiões que são casa das onças-pintadas, ela já foi extinta no Pampa e está ameaçada nos outros biomas. O Pantanal e a Amazônia abrigam a maior parte da população do felino no País.  

No Pantanal, devido à intensificação acelerada do uso do solo, perda de habitat, caça, aumento de atividades agrícolas e de infraestrutura, as onças estão seriamente em perigo.  

Com um olhar holístico para o Pantanal e as ameaças que ele enfrenta, as espécies que ali vivem estarão mais seguras, o que inclui as onças. O resguardo da casa das onças-pintadas e, especialmente, deste conjunto de ecossistemas é a chave para manter a biodiversidade viva. 

Victoria Amorim

Estudante de Jornalismo na UFMS e estagiária da Ecoa

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