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O papel da comunidade tradicional no Pantanal na conservação da biodiversidade

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Vista aérea da comunidade Barra do São Lourenço em agosto de 2023. Foto: Fernanda Cano

Na publicação “Conhecimento ancestral mostra que soluções para perda de biodiversidade podem estar próximas” escrita por Everton Silva*, José Max B. Oliveira-Junior*, Leandro Juen* e Mayerly Alexandra Guerrero Moreno*, e publicada na Folha de São Paulo, foi mostrado o valor que as comunidades tradicionais, indígenas e não-indígenas, têm para a natureza e a sociedade. Essas comunidades possuem um profundo conhecimento sobre o manejo sustentável dos recursos naturais e desempenham um papel essencial na conservação dos ecossistemas. No entanto, a realidade no Pantanal apresenta um cenário com mais dificuldades, marcado por conflitos e a constante luta pelo reconhecimento dos direitos territoriais dessas populações.

Diferente de outras regiões, como a Amazônia citada no texto da Folha, onde as práticas ancestrais têm sido reconhecidas como eficazes na conservação, no Pantanal as comunidades enfrentam desafios específicos. A fragilidade das políticas públicas que garantem atualmente o reconhecimento de seus territórios colocam em risco a continuidade dessas práticas sustentáveis. Neste contexto, a criação de uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) na comunidade Barra do São Lourenço se apresenta como uma solução para garantir a segurança e o modo de vida dessa parte da população, ao mesmo tempo em que promove a conservação da biodiversidade local.

Ainda no texto, é divulgado que apenas 0,57% das publicações científicas têm “envolvimento ou benefício justo para as comunidades locais”, na comunidade Barra do São Lourenço a realidade é outra: a proposta de criação de uma RDS para a região utilizou como base o projeto Ciência Cidadã, onde a comunidade gerou e coletou seus próprios dados, participando de todas as etapas da pesquisa diretamente, os resultados foram determinantes para garantia de seus direitos, tornando-a protagonista de suas próprias soluções.

O texto da Folha citou cinco áreas principais de contribuição das comunidades tradicionais:

  1. Manejo agroflorestal
  2. Tradições culturais e espirituais protegem florestas e espécies vulneráveis
  3. Restauração de habitats
  4. Monitoramento comunitário adapta práticas às mudanças ambientais
  5. Educação ambiental e integração de saberes

No Pantanal, podemos acrescentar mais uma área de grande valia: as brigadas comunitárias. Em 2024, elas foram essenciais no combate às queimadas no bioma, e seu trabalho vai além do controle de focos de fogo: realizam monitoramento e ajudam a educar o restante da população sobre ações nocivas e como evitá-las.

Além disso, as práticas de manejo sustentável, como a pesca responsável, são fundamentais para a conservação do ecossistema pantaneiro. Essas atividades, transmitidas ao longo das gerações, são adaptadas às especificidades da região e contribuem diretamente para a manutenção da biodiversidade. A criação da RDS assegura a continuidade dessas práticas, garantindo a sustentabilidade dos recursos naturais frente aos desafios atuais, como as mudanças climáticas e a degradação ambiental.


*Autores do texto da Folha:

Everton Silva – Doutorando no programa de pós-graduação em Ecologia, na UFPA (Universidade Federal do Pará)

José Max B. Oliveira-Junior – Professor-adjunto no 4º ICTA (Instituto de Ciências e Tecnologia das Águas), na UFOPA (Universidade Federal do Oeste do Pará)

Leandro Juen – Professor Associado 3 de Ciências Biológicas, na UFPA (Universidade Federal do Pará)

Mayerly Alexandra Guerrero Moreno – Doutoranda em sociedade, natureza e desenvolvimento na Ufopa (Universidade Federal do Oeste do Pará)

Silvia Helena

Jornalista do Núcleo de Comunicação da Ecoa.

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