Sem proteção, Pantanal vê a soja como maior ameaça

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Foto: Divulgação/Valor

Via Valor
Por Daniela Chiaretti

Sobre o deque, no pôr-do-sol, dois conservacionistas franceses e um sul-africano discutem como o turismo ecológico poderia se tornar real opção de desenvolvimento para a região. Estavam inspirados pelo safári de minutos antes, exuberante no avistamento de pássaros, bandos de capivaras e queixadas (para eles, bichos muito exóticos), uma aglomeração de mais de 30 jacarés e uma jaguatirica tranquilona. O lago adiante e o lodge atrás, a sofisticada Baiazinha, do Refúgio Ecológico Caiman, no Mato Grosso do Sul, poderiam ser cenário do Delta do Okavango, em Botsuana, um dos pontos globais mais cobiçados por amantes de natureza. Bastaria que à frente boiassem hipopótamos, o entorno fosse parque público e não área privada e, mais importante, o Pantanal estivesse devidamente protegido e não sob risco.

A recomendação da Constituição Federal, de que o Pantanal siga a trilha da Mata Atlântica e tenha legislação específica, nunca se concretizou. Na Câmara há uma proposta de lei do atual ministro do Meio Ambiente José Sarney Filho; no Senado, outra, do ministro da Agricultura Blairo Maggi. Há muitas dúvidas sobre se a proposta do Senado daria conta de proteger os 11 pantanais que existem dentro do Pantanal, se a cultura pantaneira seria preservada, se modelos econômicos sustentáveis seriam promovidos.

O Código Florestal diz que áreas como o Pantanal devem ter uso restrito, e o Estado do Mato Grosso do Sul aprovou uma lei, em 2015, que permite interpretações muito permissivas de uso. Não há proteção nesse caldo de leis. O meio ambiente do Pantanal precisa de segurança jurídica.

“A agricultura em escala comercial está se aproximando da planície pantaneira. E é a soja, e isso é aterrorizante. Podemos ter problemas sérios com diques áreas secando, uso de herbicidas, contaminação da vida selvagem”, comenta o empresário Roberto Klabin, há 30 anos atuando na região, dono da Caiman, fundador da SOS Mata Atlântica e, desde 2009, do Instituto SOS Pantanal.

São 250 mil turistas por ano em Botsuana, gastando entre US$ 1 mil e US$ 3 mil por dia no Okavango, um turismo para poucos e de pouco impacto ambiental. O setor emprega 35% dos adultos da região. Quando o governo de Botsuana percebeu o filão, desenvolveu uma marca, investiu na proteção da vida selvagem e começou a cobrar royalties dos donos dos hotéis e operadores turísticos. “Aqui é diferente da África, mas tem muito potencial. A onça é a mais carismática criatura e pode trazer turistas ao Pantanal, que já é um destino muito desejado”, diz Roche.

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