Via Folha MS
Por Erik Silva
A falta de recursos financeiros decorrente da severa crise que enfrenta o país e ainda a ausência de parceiros dispostos a investir na educação, levou ao encerramento das atividades da Escola Fazenda Santa Mônica, localizada no Pantanal do Paiaguás, em Corumbá. O espaço faz parte de uma inciativa privada que atendia crianças e adolescentes com idade entre 5 a 17 anos, que tinham a oportunidade de cursar o Ensino Fundamental em uma das regiões de maior dificuldade de acesso do Pantanal Sul-Mato-Grossense.
De acordo com a coordenação, pela inexistência de qualquer escola nessa localidade do Paiaguás, eram atendidas crianças em um raio de mais de 100 km, filhos de trabalhadores das fazendas que eram acomodadas em sistema de internato e alguns, de regiões mais distantes, chegavam a permanecer no local por até 270 dias durante o ano.
Em funcionamento desde 2011, o local foi a 12ª Escola das Águas a ser instalada no município de Corumbá, e nasceu a partir da iniciativa de um empresário paulista, que viu a necessidade ao perceber que os filhos de seus funcionários, não possuíam acesso à educação pela ausência de escolas nas proximidades.
Desde a sua elaboração, a escola recebeu o apoio da Prefeitura Municipal de Corumbá através da secretaria de educação, que forneceu os educadores e a merenda dos alunos. Todo investimento para construção do espaço, estruturação das salas e manutenção, incluindo funcionários, coordenadores, limpeza e locomoção, eram custeados pelo proprietário da fazenda e parceiros.
A realidade foi mudando e a crise financeira do país fez com que as parcerias ficassem cada vez mais escassas, até que em 2018, o funcionamento do estabelecimento se tornasse inviável. Com o encerramento das atividades, cerca de 35 alunos que já estavam matriculados na rede municipal de ensino e frequentavam a escola, podem perder o ano letivo.
“Assim que informamos sobre o encerramento das nossas atividades, alguns pais pediram transferência e levaram seus filhos para Corumbá e até Coxim, mas muitas crianças continuam na fazenda sem escola, os pais trabalham, são trabalhadores rurais e não tem como sair para cidade, então vão ficar esse ano sem estudar, na esperança de que no ano que vem a gente consiga reabrir”, afirmou Suzana Lima.
“A escola fica em um lugar muito distante de difícil acesso, e o custo é muito alto para manter a unidade, visto que os professores tem que ir de avião até a fazenda, e precisamos de quatro professores, precisamos de monitores, toda a alimentação chega através de lancha pelo rio Paraguai até no rio São Lourenço e posteriormente transportada de trator, e com isso o custo mensal da escola ficou muito oneroso, muito alto e por isso nós tivemos que fechar, e considerando que nos últimos anos a gente não tínhamos ajuda, contando apenas com a parceria da Prefeitura que nos fornecia os professores e parte da merenda”, afirmou.
Ainda conforme a coordenadora, o custo mensal para manutenção da escola na localidade em 2017, girou em torno de R$ 30 mil reais, considerando o translado dos professores que sempre foi feita de avião devido à dificuldade de acesso, os fretes para o transporte da alimentação enviada aos alunos e ainda seis funcionários mantidos com recursos próprios, como faxineira, lavadeira e setor administrativo, além de suprimentos e materiais de higiene e limpeza.
Escola Modelo
A escola chegou a ser reconhecida como modelo de estrutura e ensino oferecido aos alunos, contando com três salas de aula (classes multiseriadas), cozinha, lavanderia, almoxarifado, sala multimídia, sala de informática com computadores, biblioteca com aproximadamente 300 exemplares de livros infantis e coleções para adolescentes, alojamentos masculino e feminino, campo de futebol e vôlei e na área da saúde, um moderno consultório de odontologia, podendo atender aos mais variados procedimentos, um consultório de oftalmologia e clínica geral, tudo mantido pela iniciativa privada.
“Infelizmente essa é a realidade atual, construímos uma escola com estrutura que não se encontra nem na cidade, mas manter esse espaço em pleno Pantanal ficou muito difícil para nós. Existe em Corumbá um movimento de fazendeiros que estão se mexendo, mais o Instituto Acaia, mais o pessoal da expedição Alma Pantaneira e algumas pessoas interessadas que a escola não feche, caso apareça pessoas e instituições que queiram ajudar, com certeza a gente reabre, até porque a estrutura permanece lá toda montada e pronta para início das aulas a qualquer momento”, concluiu.
Reunião para definir o futuro da escola
Em contato com a secretaria municipal de educação de Corumbá, a reportagem do Folha MS, foi informada através da Assessoria de Comunicação da Prefeitura, que teria sido comunicada sobre o fechamento da unidade no dia 22 de fevereiro, e que nesta quinta-feira (1), estariam reunidos, representantes da SEMED, o dono da fazenda e pecuaristas da região para encontrarem uma solução para situação.