Na mira do agronegócio: Nos últimos 50 anos o Cerrado brasileiro teve cerca de 46% de sua vegetação nativa devastada. Obras de infraestrutura, pouca proteção legal e iniciativas de conservação limitadas são alguns dos motivos pelo crescimento alarmante do desmatamento no bioma. Mas a principal causa apontada por pesquisadores no mundo todo ainda é a expansão do agronegócio – em especial pecuária e monocultivo de soja.
As boas intenções: Membros do Fórum de Commodities Agrícolas (SCF) – Archer Daniels Midland, Bunge, Cargill, Louis Dreyfus, COFCO International e Glencore Agriculture – comprometeram-se, em acordo empresarial, a manter um monitoramento de seus fornecedores de soja na região do Cerrado. A medida introduz a realização de relatórios semestrais que detalham quantidades comercializadas e os municípios com maior risco de desmatamento.
O porém: Uma iniciativa louvável, sem dúvida, mas insuficiente na opinião de ativistas do clima, clientes e investidores – alguns como McDonald’s, Walmart, Marks e Spencer, Tesco, Nando e Unilever. Em suas avaliações, a SCF não tem meios para lidar com fornecedores desonestos. Também não estabelece prazos para erradicar o desmatamento em suas cadeias de fornecimento.
Um dos agravantes neste cenário já pouco promissor, é que no Cerrado os proprietários de terras podem desmatar até 80% da vegetação nativa legalmente. Quando o assunto é a ‘conversão zero’ agricultores não se mostram dispostos a preservar nada além dos 20% da exigência legal, a não ser que recebam algum tipo de contrapartida – como PSA (Pagamento por Serviços Ambientais).
Ações concretas: A alternativa apresentada aos traders do agronegócio é a extensão da moratória da soja na Amazônia para o Cerrado. No pacto ambiental – considerado um caso de sucesso – os signatários se comprometeram a não comprar soja de terras recém desmatadas na Amazônia.
No final de 2018, o relatório “Segure a Linha: A Expansão do Agronegócio e a Disputa pelo Cerrado”, realizado pelo Greenpeace, fez um alerta para que o país não continue dependendo da exportação de grãos, ao custo do esgotamento de recursos naturais. No mesmo ano, um estudo divulgado pela Nature Ecology and Evolution, apontou que se o índice de desmatamento do Cerrado se mantiver como está, em 30 anos presenciaremos a maior extinção de plantas da história – cerca de 1.140 espécies endêmicas.
Referências:
- Financial Times – Green activists push soya traders on Brazil deforestation
- Greenpeace – Concentração de renda, desmatamento e esgotamento dos recursos naturais: o retrato do agronegócio no Cerrado
- BBC Brasil – Em 30 anos, Cerrado brasileiro pode ter maior extinção de plantas da história, diz estudo
- Portal do Agronegócio – Membros do Fórum de Commodities Agrícolas se comprometem a promover uma estrutura em comum que apoia cadeias de suprimento de soja transparentes e rastreáveis no Brasil
- ClimaInfo – Pressão sobre traders da soja busca contenção do desmatamento no Cerrado
- Reuters – Global commodity traders to monitor deforestation in Brazil’s savannah
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Foto de capa por Marizilda Cruppe / Greenpeace