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Brasil faz mau uso de águas subterrâneas, diz pesquisador da USP

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Poço artesiano construído para abastecer o Distrito de Taquari-Ponte em Leme (SP).

Texto originalmente publicado em 28 de abril de 2016

 

Devido a sua extensão territorial, o Brasil vive realidades distintas em relação às suas águas subterrâneas. Enquanto que no Nordeste do País, a exploração dos canais subterrâneos acontece de forma massiva, no Sudeste a crise hídrica poderia ser ponderada se houvesse uma melhor administração na captação deste recurso.

Em Recife (PE), a estiagem e os frequentes racionamentos de água fizeram com que a população aumentasse consideravelmente a exploração das águas no lençol freático. Com isso, atualmente na capital pernambucana há mais de 14 mil poços artesianos, 70% deles ilegais.

Essa exploração indiscriminada pode salinizar os aquíferos da região, conforme explica Ricardo Hirata, professor do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP) e diretor do Centro de Pesquisas de Águas Subterrâneas:

“A superexploração ocorre quando a retirada da água subterrânea maior do que a capacidade do que meio de fornecer essa água, o que pode trazer prejuízos a curto, médio e longo prazo. Mas pode também ter o caso em que se bombeia a água subterrânea e induz uma água de baixa qualidade para dentro deste aquífero. Isso acontece nas linhas de costa (próximas ao oceano), ao bombear a água doce acaba-se trazendo água salgada do mar e acaba contaminando a água doce do aquífero”.

Já na Região Metropolitana de São Paulo a questão é diferente. Naquela área, a utilização dessas reservas, de forma consciente, poderia abrandar as crises hídricas que ocorrem na região:

“Se você olhar o volume total de águas que o Estado de São Paulo tem, e a própria utilização da água subterrânea, vemos que o problema de qualidade natural, ou falta de qualidade natural, ainda é muito restrito em algumas partes. O que significa que ela não precisa de tratamento e isso reduz os custos de sua utilização. Então quando vemos o abastecimento do Estado de São Paulo, 75% dos municípios são total ou parcialmente abastecidos por águas subterrâneas. Então essa é a grande importância das águas subterrâneas para o estado de São Paulo. Quando olhamos as cidades grandes, como por exemplo a Região Metropolitana do Estado, se for olhar o abastecimento publico, ela é 99% abastecida por águas superficiais (rios, lagos, represas). Se olhar o abastecimento privado na área urbana, vamos ver que 10m³ de água por segundo, que são extraído dos 12 mil poços privados distribuídos na região metropolitana. Se considerar que 10m³ por segundo retirados de poços privado e acrescentar ao sistema de água nós diremos que 14% do abastecimento dessa bacia se faz com águas subterrânea e não 1%, isso é para o abastecimento público. O total de água que roda dentro da área urbana é 14% de água subterrânea.Então a importância da água subterrânea é muito maior do que a primeira estatísticas que é de 1%”.

Hirata também comenta sobre a importância da implantação dos processos de gestão para uma melhor preservação e administração do recurso:

“Mas a gente vê que a lei, do jeito que ela está, é insuficiente. Se não tiver um processo de gestão com maior participação do usuário, esses processos de gestão não vão funcionar. Um exemplo é o que acontece no País. Os processos de gestão de águas subterrâneas são falhos. Não se tem controle. Quando você tem níveis de ilegalidade a 60%,70%, em algumas cidades pode-se chegar a 80% de ilegalidade dos poços. Definitivamente o Estado não tem controle desses reservatórios e desse recurso”.

Ricardo Hirata é o pesquisador responsável pelo Projeto Coqueiral, que tem como desafio associar a qualidade da água e a sua interação com o ambiente urbano com ações focados em enfrentar a contaminação e a salinização das águas subterrâneas sob a perspectiva de mudança ambiental global no seu contexto social. Para conhecer outras iniciativas do projeto, acesse o site www.coqueiral-recife.com.

Escrito por João Mota com a supervisão de Vacy Alvaro.

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