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Brigadas indígenas recebem novos equipamentos para proteção de seus territórios contra o fogo

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Manoel Roberto integra a Brigada Indígena Voluntária da Aldeia São Miguel. Foto: João Marcelo Sanches
  • Brigadas atuam com o Prevfogo/Ibama e o Corpo de Bombeiros quando necessário

Com apoio do MPT (Ministério do Público do Trabalho), a Ecoa realizou neste sábado (27) a entrega de equipamentos necessários para controle e combate de incêndios em três aldeias indígenas nos municípios de Miranda e Nioaque, em Mato Grosso do Sul. Uma outra entrega ainda será feita no dia 1º de agosto, em Corumbá, para a Brigada Comunitária São Gabriel.

O montante aplicado foi de R$ 50 mil, utilizado para a compra de equipamentos de proteção individual (balaclavas, luvas, botinas, perneiras e capacetes), acessórios (cantil com capa térmica, foices, machadinhas, facões, lanternas de cabeça e suspensórios) e maquinário (bombas costais, sopradores e roçadeiras – além de óleo e combustível).

Caleomar Victor exibe com orgulho o uniforme da brigada. Foto: João Marcelo Sanches

A escolha das comunidades se deu em razão da quantidade limitada de materiais que foi possível adquirir com o dinheiro, priorizando as demandas das brigadas mais atuantes no contexto recente. A primeira delas foi a

A primeira parada foi na Aldeia Mãe Terra, localizada na terra indígena Terena Cachoeirinha, no município de Miranda. O chefe da brigada, Caleomar Fonseca Victor, foi quem recebeu os itens e comentou sobre as dificuldades enfrentadas com o fogo antes de ser tornar brigadista.

“Nós não tínhamos nem equipamento, nem treinamento. Então damos graças a Deus por essa parceria com a Ecoa e o Prevfogo/Ibama. Nesses últimos quatro anos, desde quando foi formada a brigada comunitária, nós conseguimos diminuir o impacto das queimas dentro da comunidade. Também estamos recuperando vários lugares que estavam sendo consumidos pelas chamas e onde nem os animais a gente via mais. Os macacos e os pássaros já estão de novo pela reserva, e isso deixa a gente muito feliz.”

A parada seguinte foi a poucos quilômetros de distância, na Aldeia São Miguel, onde os indígenas da etnia Kinikinau também possuem a própria brigada. O processo para descarregar os equipamentos da carroceria foi acompanhado sob olhares atentos e curiosos das crianças, que já entendem a importância dos brigadistas na preservação do seu lar e sonham com a possibilidade de ajudar nos enfrentamentos.

Manoel Roberto é uma dessas referências para os mais jovens e também comentou sobre o que mudou depois que passou a ser brigadista:

“A gente lutava contra o fogo com folha de bacuri e sofria muito: as crianças, os jovens, os idosos… Depois das brigadas, melhorou bastante. Hoje a gente se sente seguro pra fazer nossos trabalhos com a nascente, de reflorestamento. Nós já temos nossas frutas do Cerrado também; antigamente não tinha nada. Ainda precisamos de melhorias, mas devagar a gente chega lá.”

A situação é parecida na Aldeia Brejão, em Nioaque, onde os indígenas Terena vêm driblando as adversidades por meio de uma rede de contatos sólida e da engenhosidade. Segundo o chefe da brigada local, Alvino Cabroxa, algo que ajudaria muito a combater os incêndios seria um caminhão-pipa; mas enquanto a aquisição não se consolida, ele trabalha em uma maneira de adaptar o tanque com capacidade pra mil litros que está em seu quintal a uma carretinha para aumentar a efetividade dos combates.

Alvino ao lado do tanque de 1.000 l que foi doado recentemente à aldeia. Foto: João Marcelo Sanches

A comunidade foi a parada final das entregas e recebeu boa parte dos maquinários recém-adquiridos. Alvino relata que os brigadistas são hoje uma referência dentro do município, atuando ao lado do Corpo de Bombeiros para orientar a população sobre o tema e realizando palestras em colégios. Por conta do calor intenso, o contato de crianças com os incêndios é bastante restrito, mas alguns são chamados para acompanhar a distância ações de queima controlada e já demonstram o desejo de seguir os mesmos passos.

“A confiança que a gente tem agora pra apagar um fogo, mesmo quando está alto, é por conta dos equipamentos e do nosso conhecimento – de como fazer um aceiro, por exemplo. Como brigadista, eu sinto uma felicidade imensa, porque a gente sabe que está defendendo as nossas matas e a nossa comunidade. E também tem a alegria de nós podermos ensinar as pessoas que não sabem, incluindo essa gurizada; muito meninos vêm pedindo pra entrar na brigada, e aí nós queremos trazer novamente os cursos de formação para a aldeia”, ressalta Alvino.

Sobre as brigadas

A Ecoa trabalha diretamente com 23 brigadas comunitárias voluntárias em Mato Grosso do Sul. Estamos sempre em contato com instituições e entidades que possam financiar a formação e equipagem de novas turmas de Guardiões do Pantanal e do Cerrado. Os treinamentos são realizados em parceria com o Prevfogo/Ibama e outras organizações não governamentais, incluindo WWF, Casa (Centro de Apoio Social e Ambiental) e SOS Pantanal.

João Marcelo Sanches

Jornalista formado pela UFMS, com mestrado em Comunicação pela mesma instituição

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