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Fumaça de incêndios como os do Pantanal e Amazônia é 10 vezes mais tóxica

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Print da análise da profundidade óptica total de aerossóis (AOD) do Copernicus Atmosphere Monitoring Service (CAMS)

– A poluição do ar tem impactos diretos na saúde das crianças, podendo contribuir para a menor inteligência e para quadros de leucemia infantil. O desenvolvimento pulmonar é prejudicado, o que leva ao comprometimento dos pulmões na idade adulta.

Desde o ano 2000, a Ecoa tem desenvolvido sistematicamente campanhas contra o uso do fogo no Pantanal, tanto para a queima de pastagens quanto para usos tradicionais, como a coleta de mel na natureza. Sob o signo de “Queimada Mata”, a organização trabalhou consistentemente com populações locais sobre o tema, envolveu outras instituições, inclusive lançando o “Programa Oásis de Proteção aos Polinizadores”, que tem como um de seus componentes a produção de mel tecnicamente sustentável. Esse foi um meio de oferecer alternativa aos ribeirinhos que utilizavam o fogo para extração do mel.

Além da devastação ambiental, outra razão para o lançamento da campanha “Queimada Mata” foi o fato de que, já no início do século, o uso do fogo no Pantanal contaminava o ar, com a fumaça alcançando milhões de pessoas nas cidades, multiplicando os casos de doenças respiratórias graves.

Recentemente foi publicado o estudo “Fires as a source of annual ambient PM2.5 exposure and chronic health impacts in Europe”, sobre os incêndios florestais na Europa, como indicado no título, e a exposição da população às micropartículas lançadas no ar pela queima da vegetação.

Os incêndios florestais liberam grandes proporções de aerossóis orgânicos, geralmente em escalas submicrométricas, que são mais tóxicos do que as emissões de outras fontes devido à sua composição química e tamanho. As PM2.5 – sigla para partículas em suspensão com diâmetro inferior a 2.5 micrómetros ou partículas ainda menores – conseguem penetrar no sistema respiratório até o nível alveolar, interferindo nos processos de saúde.

No caso da Europa os incêndios florestais teriam resultado em dez vezes mais hospitalizações por causas respiratórias, levando os autores a presumirem que o PM2.5 de incêndios é 10 vezes mais tóxico (10T) em comparação com PM2.5 de outras fontes. Os autores destacam a necessidade de uma melhor compreensão dos mecanismos e da magnitude dos riscos à saúde associados aos incêndios em relação à exposição crônica.

Uma revisão do “Forum of International Respiratory Societies’ Environmental Committee” afirma que, embora a poluição do ar seja bem conhecida por ser prejudicial aos pulmões e vias aéreas, “ela também pode danificar a maioria dos outros sistemas orgânicos do corpo”. A estimativa é que, globalmente, cerca de 500.000 mortes por câncer de pulmão e 1,6 milhões de mortes por Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica por ano podem ser atribuídas à poluição do ar.

A poluição do ar tem relação com 19% das mortes cardiovasculares e 21% de todas as mortes por acidente vascular cerebral. Existem indicações de associação da poluição do ar com câncer de bexiga e leucemia infantil. O desenvolvimento pulmonar na infância é prejudicado pela exposição a poluentes atmosféricos, o que leva a comprometimento dos pulmões quando adultos. Outras associações: redução da função cognitiva, aumento do risco de demência, atraso no desenvolvimento psicomotor e menor inteligência infantil. Vários estudos relacionam a poluição do ar com a prevalência, morbidade e mortalidade do diabetes mellitus, problemas com o sistema imunológico, problemas de osteoporose e fraturas ósseas, conjuntivite, doença do olho seco, doença inflamatória intestinal, doenças de pele atópicas, acne e envelhecimento da pele.

Considerando que partes do Brasil têm sido submetidas durante meses, nas 24 horas do dia, à fumaça tóxica dos incêndios florestais, é de se esperar um quadro agravado de saúde da população para os próximos anos, levando em conta o que foi apresentado pelo “Forum of International Respiratory Societies’ Environmental Committee”.

É preciso considerar que as queimadas e os incêndios florestais podem ser contidos, carecendo, porém, de difíceis mudanças culturais e ideológicas que contaminam as políticas na área, levando a desastres como os atuais na América do Sul.

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