Eventos climáticos extremos e fenômenos naturais associados a estes eventos chamaram a atenção para a Bacia do rio da Prata e mais especialmente para Pantanal nos últimos cinco anos por suas dimensões e efeitos sobre a economia, o ambiente e as populações mais pobres. São cheias entre as maiores já registradas, secas inesperadas em algumas regiões e a propagação do fenômeno da decoada – diminuição do oxigênio da água – causando a mortandade de peixes em escala nunca antes registrada. Tudo isto transforma a região em um “laboratório” que pode gerar propostas para mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.
Todo o trabalho de identificação, mapeamento, estudo e a análise de todos os eventos e suas conseqüências sociais, ambientais e econômicas nos últimos cinco anos, associado a um processo de capacitação, são os meios mais apropriados – e fundamentais – para que as pessoas sejam preparadas e que se estruturem políticas, programas e ações concretas com o objetivo de mitigar impactos, particularmente aqueles que incidem sobre as populações mais vulneráveis e que vivem diretamente do uso dos recursos naturais. Este é o caso, por exemplo, dos milhares de pescadores artesanais e coletores de iscas vivas para a pesca turística. Aqui vale o registro que a pesca, somando todas as suas modalidades, é a atividade que mais gera trabalho e renda no Pantanal.
Fatos ocorridos em 2011, por exemplo, comprovam a relevância desta proposta, pois este foi o período de cheias com efeitos danosos, além de decoadas em pelo menos três regiões distintas: Parque Nacional/Barra do rio São Lourenço; no rio Negro e, na parte sul do Pantanal, na região de Porto Murtinho, na fronteira com o Paraguai.
Em 2008 o fenômeno foi inverso: seca. Baías (lagoas) e corixos de parte da bacia do rio Miranda, entre os meses de junho e outubro, secaram precocemente e assim os coletores de iscas para a pesca turística não tiveram os meios para sua sobrevivência. Esta situação levou a uma drástica redução da renda familiar, obrigando-as a buscar alternativas de trabalho e renda para a sobrevivência. Esta conjuntura específica levou mais de 80% deste grupo ao degradante trabalho nas carvoarias da região, contribuindo para o aumento do desmatamento no Pantanal.
O relatado acima constrói um quadro que tende a se tornar mais freqüente com as alterações ambientais em curso, tanto aquelas provocadas por intervenções diretas na unidade ambiental que é a bacia do rio Paraguai, de caráter local – desmatamento, queimadas, construções de hidrelétricas no Planalto da Bacia do Alto Paraguai – como aquelas provocadas pelas mudanças climáticas globais. Como dito anteriormente, mapear, analisar, capacitar e propor medidas mitigatórias são os caminhos apontados pela Ecoa para que as populações mais vulneráveis da região estejam preparadas para enfrentar grandes alterações em seu ambiente natural.