- As emissões de PM2,5 estão relacionadas ao aumento das queimadas pelo Pantanal;
- A incidência de doenças respiratórias entre crianças foi maior do que em outros grupos;
- Foi encontrada uma relação negativa entre doenças respiratórias e chuvas;
- Foi encontrada uma associação positiva entre exposição à seca e doenças respiratórias.
Na pesquisa intitulada Historical association between respiratory diseases hospitalizations and fire occurrence in the Pantanal wetland, Brazil, cientistas investigaram a relação entre o alto índice de hospitalizações por problemas respiratórios em regiões pantaneiras e os registros de incêndios nas proximidades. O estudo é de coautoria da bióloga Camila Lorenz e outros 12 pesquisadores, entre eles o diretor científico da Ecoa, André Valle Nunes, e o membro do Grupo Gestor e técnico científico da Paisagem Modelo Pantanal, Rafael Morais Chiaravalloti. Essa foi a primeira vez que um levantamento sobre Hospitalizações por Doenças Respiratórias (HDR) foi conduzido no Pantanal, considerando três grupos: crianças maiores de 5 anos, idosos com 60 anos ou mais e registros totais entre 2003 e 2019 dos 17 municípios da região.
O resultado foi publicado em agosto do ano passado na revista científica internacional Atmospheric Pollution Research – especializada na publicação de artigos sobre a poluição do ar em escala regional, local ou global. A publicação trouxe um estudo à respeito da relação entre o alto índice de hospitalizações por problemas respiratórios em regiões pantaneiras e os registros de incêndios nas proximidades.
Os pesquisadores afirmam que houve um aumento de 26 a 34% nos níveis de HDR em anos de seca, o que corroborou a função que as precipitações e a umidade do solo exercem para controlar as queimadas e, consequentemente, a quantidade de internações. Também ficou clara a maior vulnerabilidade do público infantil, com quatro vezes mais casos registrados que a população geral, e dos idosos, que tiveram e o triplo de ocorrências.
Outro aspecto analisado foi a presença de material particulado igual ou menor que 2,5 microns (µm), conhecido como PM 2,5. Essas partículas, que podem ser líquidas ou sólidas, surgem principalmente como resultado de atividades humanas – incluindo queima de combustíveis, fumaça de tabaco ou incêndios florestais – e são perigosíssimas para a saúde quando inaladas. Durante o pico das queimadas no Pantanal, foram constatados índices cinco a seis vezes maiores que o limite aceitável pela Organização Mundial da Saúde.
Os autores explicam que os campos nativos do bioma, historicamente, eram utilizados para a pecuária de baixa intensidade, mas, desde a virada do século, a constante diminuição nos níveis de chuva na Bacia do Alto Paraguai ajudou a expor montantes de biomassa que antes ficavam protegidos da queima pela água.
Metodologia do estudo
Foram coletados dados de 17 municípios dentro dos estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso: Aquidauana, Bodoquena, Corumbá, Coxim, Miranda, Porto Murtinho, Rio Verde de Mato Grosso e Sonora; e Barão de Melgaço, Cáceres, Itiquira, Juscimeira, Mirassol d’Oeste, Nossa Senhora do Livramento, Poconé, Rondonópolis e Santo Antônio do Leverger, respectivamente.
Os números de internações foram extraídos do Sistema de Informação de Internações Hospitalares do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (SIH-SUS) e retrataram uma constância nos casos de doenças respiratórias, com média anual de 9,29 (±1,3) casos a cada mil habitantes.
Texto originalmente publicado em 27 de junho de 2024 e atualizado em 01 de setembro de 2025