A área da Paisagem Modelo Pantanal está localizada em uma região estratégica para a conservação por contar com um diversidade de fauna, flora e grupos

Conheça 5 pesquisas realizadas por mulheres na Paisagem Modelo Pantanal

A Paisagem Modelo Pantanal tem se tornado um espaço de inovação científica e igualdade de gênero, onde mulheres pesquisadoras desenvolvem estudos fundamentais para a conservação, a sustentabilidade e o fortalecimento das comunidades locais. Aqui reunimos cinco pesquisas que revelam diferentes dimensões do Pantanal — da governança e riscos ambientais até a restauração ecológica e a valorização de recursos naturais.

1. Governança e riscos ambientais: percepções e redes sociais

Autora: Jéssica Schlosser de Sá Teles. Formada em Biologia pela UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e mestre em Manejo e Conservação de Florestas Tropicais e Biodiversidade no CATIE (Centro Agronómico Tropical de Investigación y Enseñanza), Costa Rica.

O estudo de Jéssica investigou como comunidades e instituições percebem riscos ambientais — como incêndios, secas e enchentes — na Paisagem Modelo Pantanal. Por meio de questionários, ela construiu um ranking dos riscos prioritários e um mapa da rede de atores locais.

A análise revelou que a rede é fragmentada e depende muito de poucos atores centrais, o que a torna vulnerável. Outro achado importante foi a diferença de perspectivas: enquanto comunidades priorizam riscos imediatos e locais, instituições olham para intervenções em maior escala.

Essa divergência reforça a necessidade de alinhar informações e fortalecer a comunicação entre grupos. Entre as medidas propostas estão a criação de sistemas de alerta, o fortalecimento de lideranças locais e a melhoria da infraestrutura. O estudo mostra que aproximar percepções e redes pode construir uma governança mais coesa e resiliente.

Jéssica no Centro Agronômico Tropical de Pesquisa e Ensino (CATIE), na Costa Rica

2. Cadeia da bocaiúva: potencial de inclusão e sustentabilidade

Autora: Lilian di Tommaso Almeida Reis. Mestre em Conservação da Biodiversidade e Sustentabilidade na Escas (IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas).

Lilian investigou o potencial da cadeia de valor da bocaiúva, um fruto típico do Pantanal com alto valor nutricional e cultural. Seu estudo mapeou comunidades extrativistas, mercados intermediários e proprietários de terras, identificando as barreiras e oportunidades para o fortalecimento dessa atividade.

A análise destacou que a cadeia ainda está em estágio inicial, mas tem grande potencial para gerar renda, especialmente para mulheres em comunidades rurais. Com apoio adequado, a bocaiúva pode se tornar um motor de inclusão social e conservação ambiental, criando uma economia mais justa e sustentável.

Lilian (de branco) durante entrevistas.

3. Interações entre pessoas e animais e o risco de doenças zoonóticas

Autora: Giulia Armani Araujo. Médica veterinária e mestre em Ecologia e Conservação pela UFMS.

A pesquisa de Giulia explorou como as interações entre humanos, animais domésticos e silvestres no Pantanal podem influenciar o risco de doenças zoonóticas emergentes — responsáveis por cerca de 70% das novas doenças no mundo.

O estudo revelou diferenças de gênero: os homens interagem mais com animais, mas tendem a ter percepção de risco menor; já as mulheres, ligadas ao papel de cuidadoras, demonstram percepção mais elevada. As comunidades ribeirinhas também mostraram maior número de interações com animais em comparação aos assentamentos, embora não houvesse grande diferença na percepção de risco entre os grupos.

Esses resultados reforçam a importância de integrar biodiversidade, saúde pública e gênero em programas de One Health (Uma Só Saúde). A pesquisa destaca ainda que políticas públicas mais eficazes devem considerar essas relações locais para reduzir riscos de doenças e fortalecer a conservação.

Na Paisagem Modelo Pantanal, Giulia Araujo realizou estudo na área de zoonoses.

4. Modos de vida e acesso à terra na APA Baía Negra

Autora: Nina Churchill. Britânica, mestre pela University College London (UCL).

Nina analisou os desafios enfrentados por comunidades tradicionais da APA Baía Negra, especialmente em relação ao acesso e controle dos recursos naturais.

Sua pesquisa mostrou que a falta de segurança na posse da terra, aliada a regras burocráticas e inflexíveis, coloca em risco modos de vida tradicionais e o conhecimento ecológico local. Esses desafios são agravados pelas mudanças climáticas, que alteram os ciclos naturais e aumentam a vulnerabilidade das famílias.

O estudo reforça a importância de reconhecer práticas comunitárias e incorporar o saber tradicional nos processos de conservação, promovendo uma governança adaptativa que fortaleça as comunidades da região.

Nina, á esquerda, em entrevistas.

5. Restauração ecológica e bem-estar comunitário

Autora: Alexandra Ballinger. Mestre pela University College London (UCL).

Alexandra avaliou como projetos de restauração ecológica impactam o bem-estar de uma comunidade tradicional na borda oeste do Pantanal.

A pesquisa analisou dimensões materiais (como renda), relacionais (como laços sociais) e subjetivas (como a sensação de pertencimento). Os resultados mostram que a restauração tem grande potencial de melhorar a vida das pessoas, mas também destacou que, sem atenção às desigualdades, esses projetos podem gerar barreiras de participação.

O estudo recomenda que futuras iniciativas adotem uma abordagem de bem-estar biocultural, que valorize o conhecimento local e gere benefícios sociais e ecológicos duradouros.

“Se eu preservar a saúde da natureza, preservo a minha própria”

Alexandra (segunda, da esquerda para a direita) conversando com moradores da APA Baía Negra