O desenvolvimento da apicultura na Ilha do Mato Grande, às margens do rio Paraguai, a montante de Corumbá, segue tendo resultados positivos. Em março deste ano, outras famílias da região receberam equipamentos e treinamento para desenvolver a atividade. Após quatro meses, os (as) “apicultores(as) das águas” tiveram avanços significativos na quantidade e qualidade dos enxames.
O projeto em questão é executado pela Ecoa com apoio fundamental do Ministério Público do Trabalho (MPT) de Mato Grosso do Sul.
Manejo dos apiários
Para iniciar a produção do mel, os(as) ribeirinhos(as) receberam macacões de proteção, participaram da escolha do local de instalação dos apiários, na montagem do material, instrução de uso, até chegar a época da produção.
Cleberson Bervian, biólogo, consultor da Ecoa e responsável técnico pelo projeto, esteve recentemente em visita aos apiários das famílias. O consultor afirma que é perceptível a dedicação à atividade por parte das famílias envolvidas no projeto.
“Eles mostraram muita iniciativa. Só com a explicação teórica, conseguiram pegar outros enxames e evoluir os que já tinham. Ainda não chegamos no ponto ideal para iniciar a colheita do mel, mas isso é questão de tempo”.
Segundo Cleberson, também foi possível perceber que a apicultura promoveu uma mudança na relação dos(as) apicultores(as) com o meio ambiente. “Houve uma mudança no ponto de vista em relação ao ambiente e a elas mesmas. Essas pessoas se sentem valorizadas, passam a se sentir muito mais integradas com o ambiente em que vivem e a entender dinâmicas que antes não eram vistas”.
O mel como esperança no Pantanal
Carlos e Neuzilene foram formados a partir do projeto e explicam que a segurança para desenvolver a atividade veio com a prática. Neuzilene ressalta que sua expectativa é “produzir mel, vender para outras pessoas e ter uma renda familiar para nossa família”.
“Eu achava que a abelha era só abelha e ela tem uma importância muito grande para o Pantanal, para a nossa flora pantaneira. Eu acho que isso [o projeto] vai ajudar tanto no conhecimento do nosso Pantanal que a gente não prestava muita atenção e agora sim, em cada parte da natureza do Pantanal. E é uma oportunidade que futuramente pode nos ajudar com outra renda.”
Dona Nilza, pescadora, coletora de isca viva para turismo, artesã está entusiasmada com as atividades para produção de mel em sua comunidade. “Sempre quis trabalhar com mel, estou de uma forma tão alegre, emocionada. Graças à Deus está dando certo e vamos quase duas vezes por semana em nosso apiário.”
Abelhas e a biodiversidade
Além de possibilitar renda, a apicultura também ajuda a promover a conservação dos polinizadores e entrega de serviços ecossistêmicos oferecidos pela polinização, tais como o surgimento de frutos de melhor qualidade, maior número de sementes e a produção de alimentos.
Vale ressaltar que as abelhas são as principais responsáveis pela polinização, e que, portanto, possuem uma grande importância ecológica, essencial para a preservação da biodiversidade no Pantanal.
Impacto dos incêndios e da seca
A promoção de atividades sustentáveis para famílias pantaneiras representa possibilidades concretas de renda. Diante de eventos climáticos extremos, alternativas econômicas são ainda mais importantes, já que atividades como pesca e iscas são diretamente afetadas.
Apesar da dedicação dos(as) apicultores(as), fatores ambientais, como seca e incêndios, influenciaram no pleno desenvolvimento da apicultura no local. Eventos climáticos extremos, como as grandes secas que irrompem gradativamente em incêndios florestais, impactam fortemente o modo de vida e geração de renda das comunidades ribeirinhas do Pantanal.
Cleberson Bervian destaca que embora bons resultados tenham sido alcançados no que diz respeito a colheita do mel, as queimadas que aconteceram desde de 2019 na região impactam principalmente pela destruição das árvores, consequentemente das floradas que servem de alimentos para as abelhas.
O biólogo ressalta que além de estar extremamente seco, frequentemente há mudanças bruscas na temperatura no Pantanal, o que afeta diretamente as abelhas por serem sensíveis às variações climáticas.
Programa Oásis
A proteção e mesmo a recuperação da fauna de polinizadores é um desafio global que deve ser enfrentado de imediato. Deles dependem os ecossistemas e sua diversidade biológica e mesmo a sobrevivência da espécie humana, pois são fundamentais na produção de alimentos. Mas como fazê-lo?
O Programa Oásis visa a proteção dos polinizadores em diferentes nichos, incluindo cidades. Os projetos e ações do Programa compreendem pesquisas; a educação com relação às diferentes espécies e seu papel nos ambientes; os riscos do uso de pesticidas na cidade e no meio rural; a contenção de desmatamentos; a formação de brigadistas contra queimadas e a produção apícola e de abelhas em regiões livres de agrotóxicos, dentre outras medidas. Os efeitos das mudanças climáticas localmente também devem ser analisados.