Barra do São Lourenço

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Há várias gerações as comunidades da Serra do Amolar utilizam os benefícios do ambiente de forma a conservá-los para gerações futuras e acumulam conhecimentos sobre o Pantanal. Três grupos habitam a região atualmente: a comunidade do Amolar, a de Barra do rio São Lourenço (próxima ao Parque Nacional do Pantanal Mato-Grossense) e a comunidade do Palmital (na fronteira do Brasil com a Bolívia).

No fim do século XIX e início do século XX, os moradores participavam ativamente da economia da região produzindo rapadura de cana-de-açúcar, farinha-de-mandioca e couro de animais silvestres. Com a caça proibida pela legislação na década de 1960, não surgiram alternativas econômicas para substituir a renda das famílias e, aos poucos, a população da Serra do Amolar começou a migrar para Corumbá e vem diminuindo drasticamente desde então. Hoje, as famílias que continuam na região praticam agricultura, pesca, pecuária e extrativismo dos recursos naturais para sua subsistência.

Atualmente, uma segunda geração de moradores, que vieram há cerca de 150 anos de Cuiabá e cidades próximas, habita o local. Muitos se casaram com pessoas que nasceram em fazendas próximas da região e residem em pequenos sítios na margem do rio Paraguai. Segundo um censo realizado pela Ecoa (2004), das 30 famílias que povoaram a Serra do Amolar no início do século XX, restam atualmente apenas nove remanescentes.

A influência cultural dos moradores da Serra do Amolar é um reflexo da miscigenação de povos indígenas, europeus e negros, facilitada pela navegação pelo rio Paraguai. As influências dos traços fisionômicos e da cultura dos países da Bacia do Prata (Brasil, Bolívia, Paraguai, Uruguai e Argentina) também são notórios nos povos do Pantanal. Se por um lado estas famílias vivem num Patrimônio Natural da Humanidade, por outro ainda estão à margem da sociedade, vivendo em condições de pobreza.

Na Serra do Amolar não há estabelecimento comercial, existem dificuldades de transporte (pela distância com as cidades, alto custo e pelo fato do acesso só acontecer via rio), não há posto de saúde, energia elétrica, água tratada ou saneamento básico. Todos estes fatores ameaçam extinguir a comunidade e resultam no êxodo, na venda das propriedades, na perda da cultura, da tradição e na separação de famílias pantaneiras.

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Barra do rio São Lourenço

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A denominação “Barra” vem do fato desta comunidade localizar-se a montante de Corumbá (MS), na margem esquerda do rio Paraguai, próximo de onde recebe o rio São Lourenço, na divisa entre os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. O acesso somente é possível por barco ou avião, sendo que de barco o tempo de viagem é de mais de 26 horas partindo de Corumbá, o centro urbano mais próximo.

É formada por 22 famílias, sendo que a maior parte delas vivia anteriormente em elevados na margem direita do rio e de lá foram forçadas a sair na década de 1990, para a criação de uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). A partir de 2012/13 tiveram seus direitos parcialmente reconhecidos com a emissão de um Termo de Autorização de Uso Sustentável (TAUS), pela Secretaria do Patrimônio da União (SPU). Neste mesmo processo conseguiram a emissão de um TAUS coletivo para uma antiga área comum na margem direita. Nela se refugiam e tem acesso à água potável que lhes oferece a Serra do Amolar durante as grandes cheias. O local tem o sugestivo nome de Aterro do Socorro.

As raízes genealógicas da comunidade é uma mescla entre povos ancestrais da região como os índios da etnia Guató e de antigos escravos. Alguns se identificam como descendentes de indígenas, mas todos afirmam que seus ancestrais são nativos.

A coleta de iscas-vivas para a pesca turística é hoje uma das principais fontes de renda, complementada com a pesca artesanal e serviços para os barcos de turismo pesqueiro. Muitos fazem cultivos de subsistência de acordo com a dinâmica de cheias e secas do sub-Pantanal do Paraguai, sendo que as principais espécies cultivadas são a mandioca, o feijão, a melancia e o milho. Pelo menos três famílias colhem o arroz selvagem e outros produtos da biodiversidade para processamento e comercialização. Existe também a coleta de mel de abelhas nativas.

Com essas diferentes atividades a renda média da família varia de R$ 700 a R$ 1000, mas esse resultado, afirmam, “depende do rio”. As casas foram construídas pelos próprios moradores e são, na maioria, de madeira tratada comprada e trazida de Corumbá, um menor numero foram construídas com madeiras locais como o carandá (Copernicia alba). Ainda existem casas de pau-a-pique. As casas são cobertas com telhas do tipo “eternit” ou com palhas de acuri (Attalea phalerata Mart. ex. Spreng) trançadas. Cerca de 70% das casas possuem fossa escavada no solo próximo e mais elevado, mas o sistema passa a ter problemas de funcionamento a cada elevação do nível do rio. Sua fonte de abastecimento de água é o rio e apenas 30% deles fazem tratamento.

A comunidade da Barra do São Lourenço possui uma escola municipal que hoje atende entre 40 e 50 alunos. No entanto, quando criada por volta do ano de 2004 atendeu 120. Em 2007, foi criada uma associação de moradores, a qual é bastante ativa, tendo atuações nas mais diversas frentes de políticas publicas, assim passou a ser uma referência para outras comunidades.

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