Depoimento do ribeirinho Daniel Maciel de Moraes que hoje vive na Comunidade do São Francisco, na região da Serra do Amolar:
“A muitos anos, estão vivendo as margens do rio Paraguai as famílias ribeirinhas, um povo humilde, simples e trabalhador que de geração em geração resiste as enchentes, seca e ao mosquito, e tem pessoas que passam por isso há mas de 60 anos, como por exemplo os casos como o de dona Diva e seu marido, que formaram a comunidade do Paraguai Mirim que é a maior da beira do rio, tendo maior parte dos integrantes seus filhos, netos e noras, etc. Assim também não menos importante outros lugares como: São Francisco, chané e bonfim.
Nesses lugares há pessoas como seu Zé com suas varias historias, como a do minhocão que o perseguiu, historias de onças, curupira, neguinho d’água e entre outros casos que caracterizaram a simplicidade de um povo.
Com o tempo a modernidade chegou e com isso veio o turismo de pesca, com a promessa e melhorias para o povo ribeirinho. No princípio tudo ia bem, todos vendiam suas iscas diretamente para os barcos hotéis, mas haviam pessoas com mais influencias que passaram a fazer contratos mesmo que não havendo nada formal começaram a fornecer iscas em maior quantidade, sendo assim os barcos pararam de comprar diretamente com os ribeirinhos e passaram a comprar com os chamados “atravessadores” que compravam por um preço muito baixo dos ribeirinhos e vendião por um preço mais alto para os barcos.
No período da piracema começa o terro pois o pouco dinheiro que tínhamos ganhado já não tínhamos mais, então tínhamos que fazer canoa e tirar mel, era uma tristeza pois nessa época também ainda era época do mosquito, mas o que confortava era que tínhamos carne de capivara e de outras caças para se alimentar “coitada das capivaras” mas isso e uma historia para se contar depois. E quando achávamos que estávamos tristes as coisas só pioravam, pessoas de fora compravam terras e nos expulsavam de nossas casas e assim nossas festas e costumes ficaram nas histórias dos mais velhos a única alegria que tinha era comprar álcool e misturar com água e beber, já não tinha mais esperanças nos sentíamos como escravos esquecidos, não eramos animais selvagens para não possuirmos nenhuma identidade, somos pessoas como qualquer outra e merecíamos o melhor.
Um dia conversando com a vizinha e ela disse: – meu filho hoje nós só temos abóbora cozida para comer.
E minha resposta foi que la em casa só tinha mandioca cozida. Sem esperança, sem comida e quase sem casa ficamos olhando de onde sairia o socorro. Então certo dia começou a passar um pessoal de uma tal de ong. Não sabíamos o que era e nem para que servia, e eles comesarão a nos fazer perguntas e contamos nossa aflisão, o que não sabíamos era que a ECOA foi em viada por Deus, não sei como mas eles começaram a nos divulgar.
Com a ECOA nos divulgando começaram a surgir algumas pessoas como Wilson que se proporam a nos ajuda, com eles vieram nossas primeiras conquistas ganhamos uma escola para nossas crianças estudarem, logo também veio o direito a nossas terras, começamos a ter direito ao seguro desemprego na época da piracema, com isso a fome começou a diminuir, e assim o governo começou a nos ver, ai veio o povo das águas e o bolsa família.
Um dia estávamos em casa e chegou um homem e se apresentou como Andre um homem simpatico e assim nasceu uma amizade e uma grande parceria, ele nos perguntou sobre tudo e nós contamos a nossa realidade, naquele dia fui convidado para fazer um curso que aceitei era o curso de turismo com base comunitária, meses depois chegou o piloteiro com o apelido de “jaburu” e me contou tudo o que sabia sobre a ECOA.
E sem saber que ali havia um plano de Deus para nós. Passado um ano resolvi organizar uma associação, da comunidade do São Francisco, então surgiu um presidente que apesar de ter nascido em um bairro humilde de corumbá possuindo apenas a 4 serie, tendo um grande coração e muitos sonhos, consegui envolver a todos com a associação. Com apenas três meses de fundada associação, nós recebemos nossos macacões para pegar isca, foi uma alegria.
Mas nós precisávamos de uma sede para a associação tendo isso em vista fomos convidados a um evento e la conheci Ana ela disse que era do fundo socioambiental, mais eu não sabia oque era aquilo, ela me explicou e disse que era algo que de renda a comunidade e seja relacionado ao meio ambiente, eu não sabia o que fazer então apareceu minha eroina loira dos olhos claros chamada de Vanessa me chamou e disse – Daniel pega esses livros pra mim.
Cheguei a pensar mulher bonita da trabalho e deu, e quando vi o livro pensei aqui esta minha grande chance, sem demora ali mesmo falei para Ana, tenho seu projeto e disse que esse projeto se chamava cede redario, e ela disse você me conquistou, vou te ajudar.
E mais uma vez a ECOA atirou no que viu e acertou no que não viu. E assim conseguimos a primeira cede ribeirinha mas bem estruturada do pantanal.
Oque mudou com a chegada da ECOA?
Hoje nossas crianças e jovens sabem ler, escrever, navegar na internet e até falar azul em inglês. Não precisamos mais fazer canoas e nem tirar mel e a capivara hoje vive em paz.
Festejamos de novo nossa cultura e a piracema agora virou férias, todos tem gerador de energia e televisão fogão a gás e motor de popa ‘rabeta’.
FIM.
Obrigado ECOA. Hoje me orgulho em dizer que sou ribeirinho”.