- 90% da retirada de água da bacia do rio Grande, no sudeste do MATOPIBA, é destinada à irrigação, segundo informa a Agência Nacional de Águas.
Não é de hoje que a ciência mostra que práticas exploratórias do agronegócio têm peso imenso nas mudanças climáticas, principalmente no Brasil, onde o setor tem participação importante no PIB. No entanto, a “lei do retorno climático” vem atingindo o segmento em cheio. E a tendência é de piora.
O alerta mais recente vem de um estudo liderado por cientistas do INPE e publicado no Ambio – Journal of Environment and Society. A pesquisa mostra que o MATOPIBA (região que abrange áreas de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) pode enfrentar falta de água já a partir do próximo ano por conta da exploração dos recursos hídricos pelo agronegócio somada à seca severa que atinge o país e ao recorde de incêndios que assolaram o Cerrado neste ano.
Expoente da produção agrícola, sobretudo de soja, o MATOPIBA pode ter de 30% a 40% da demanda por irrigação de terras agricultáveis comprometida entre 2025 e 2040, informam Globo Rural, Veja e Agência Fapesp. Em última análise, isso acarretaria a estagnação da produção na região.
No noroeste da Bahia, 90% da retirada de água da bacia do Rio Grande são destinadas à irrigação, segundo dados da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). “A utilização dos recursos hídricos para a agricultura, como está sendo feita agora, aliada ao ‘novo normal’ climático, pode prejudicar a sustentabilidade e produtividade do próprio setor a curto e médio prazos”, explicou Minella Alves de Martins, uma das autoras do estudo.
Mas os riscos vão além dos negócios. “Sem mudanças nos moldes de exploração dos recursos hídricos regionais, deve haver comprometimento do abastecimento urbano e das populações ribeirinhas, que podem enfrentar problemas quantitativos e qualitativos”, completou a pesquisadora.
Enquanto as vazões subterrâneas ficam mais escassas aumenta a demanda por água, principalmente impulsionada pela expansão da irrigação. A estimativa é que a demanda passe de 1,53 m/s (média registrada na década de 2011-2020) para 2,18 m/s (em 2031-2040).
Entre as sugestões dos cientistas para preservar o ecossistema do MATOPIBA está a revisão das permissões do uso dos recursos hídricos locais. Outro fator seria o monitoramento dos poços da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM). O grupo recomenda ainda o acompanhamento das mudanças de uso e cobertura do solo para que áreas de recarga do aquífero não sejam comprometidas.
Em tempo: O governador do Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil), sancionou a Lei nº 12.709, que define critérios para concessão de incentivos fiscais e concessão de terrenos públicos para empresas do setor agroindustrial. A lei nada mais é do que um ataque direto a empresas que aderiram à Moratória da Soja. O governo de Rondônia já havia aprovado algo similar. O texto sancionado proíbe a concessão de benefícios fiscais e a concessão de terrenos públicos para empresas que “participem de acordos, tratados ou quaisquer outras formas de compromissos, nacionais e/ou internacionais, que imponham restrições à expansão da atividade agropecuária em áreas não protegidas por legislação ambiental específica, sob qualquer forma de organização ou finalidade alegada”. Ouvindo o radicalismo bolsonarista dos produtores congregados na APROSOJA, Mendes se indispõe com Blairo Maggi e sua turma da ABIOVE, associação da indústria que depende da soja. A ver qual é o lado mais forte.
Via ClimaInfo