Por Ciclo vivo
Via Embrapa
Após 30 anos de sua coleta da natureza, uma nova espécie de planta foi descoberta e catalogada pela ciência. Encontrada somente no Pantanal, a Ipomoea pantanalensis J.R.I.Wood & Urbanetz havia sido depositada na década de 1990 pelo pesquisador da Embrapa Pantanal (MS) Arnildo Pott, atualmente aposentado, que a armazenou no herbário daquele centro de pesquisa. Dois exemplares da espécie nova foram coletados por Pott e foram catalogados como sendo de espécies já conhecidas (Ipomoea subrevoluta e Ipomoea emetica).
O pesquisador John Wood, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, visitou o herbário brasileiro e percebeu que o material armazenado não correspondia às espécies conhecidas. Em 2016, a nova planta, um cipó da família da batata-doce, foi oficialmente reconhecida por meio de publicação no periódico científico Kew Bulletin.
O nome Ipomoea pantanalensis J.R.I.Wood & Urbanetz, dado à planta recém-descoberta, foi escolhido por se tratar de uma espécie endêmica do Pantanal (que só ocorre nessa região). “Espécies endêmicas são muito raras no Pantanal. É diferente de uma espécie considerada típica de determinada formação, quando ocorre em abundância naquele local, mas também pode ser encontrada em outras áreas”, explica a botânica Catia Urbanetz, que descreveu a Ipomoea pantanalensis em parceria com Wood.
A nova espécie é típica do caronal, formação vegetal campestre que ocorre no Pantanal. Tradicionalmente, o caronal é manejado com fogo, já que o capim dessa formação só é consumido pelo gado em sua fase inicial. Esse costume dificulta encontrar a nova espécie no campo. A descoberta, de acordo com a pesquisadora, é mais um importante motivo para que o caronal seja conservado.
As coletas ocorreram na fazenda Nhumirim, campo experimental da Embrapa Pantanal, localizado no Pantanal da Nhecolândia, em Mato Grosso do Sul, onde são desenvolvidas pesquisas direcionadas à sustentabilidade do bioma.
A planta
A Ipomoea pantanalensis é uma espécie da família da batata-doce. “É um cipó, bastante delicado e ornamental, com flores lilases”, descreve Catia. Quando esteve no Brasil, Wood convidou Catia a descrever a espécie com ele. “Passei a examinar os exemplares que tínhamos, fiz medições das partes da planta e descrevi sua morfologia. Recebemos uma desenhista da Bolívia que examinou o material com lupa para produzir a ilustração botânica detalhadamente, a qual fez parte do artigo publicado”, conta a pesquisadora.
O reconhecimento de uma nova espécie de planta está condicionado à publicação em uma revista botânica indexada, preferencialmente em inglês. O artigo científico deve conter a ilustração com escala do material botânico, com detalhes de partes da flor, pelos, folhas, uma descrição do habitat em que ocorre e detalhes morfológicos que a diferenciem de outras espécies similares.
Para fazer essa descrição, Cátia consultou os três materiais do herbário: dois depositados por Arnildo Pott e um exemplar coletado por Márcia Gasparini, estagiária de Pott. A descoberta também chama a atenção para a importância da informatização dos dados das coleções botânicas, que permite a interação entre pesquisadores de todo o Brasil e de outros países, contribuindo para o avanço do conhecimento.