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Colômbia. Um país rico em água em crise levando a racionamento

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Ministra de Meio Ambiente da Colômbia Suzana Muhamad. Foto: Governo da Colômbia.

– Desinformação e não consideração de alertas científicos agravaram os problemas.

– El Niño contribuiu para o quadro. Brasil deve ter em conta o que se passa na América do Sul, pois comparte territórios e seus climas.

A Colômbia viveu nos últimos meses uma situação crítica com a falta de água para abastecimentos de cidades, incluindo a capital, Bogotá. No caso da capital foram tomadas fortes medidas de restrição para o uso de água. A ministra do Meio Ambiente, Susana Muhamad, informou que mais da metade do território do país estava sob alerta para as altas temperaturas e consequentes impactos para o abastecimento e o risco de incêndios.

Segundo o Instituto de Hidrologia, Meteorologia e Estudos Ambientais (IDEAM) havia 746 municípios com algum tipo de alerta por incêndios florestais: 293 estão em alerta vermelho, 261 em alerta laranja e 192 em amarelo. Uma das zonas mais afetadas foi a região Andina, com 487 municípios, seguida pelo Caribe com 186 municípios e o Pacífico com 96 municípios.

En 1984, la capital colombiana vivió una de las peores sequías y los niveles de los embalses descendieron en un 71 %.

Ghisliane Echeverry, diretora do IDEAM, assegurou a Mongabay que el Fenómeno el Niño não foi o único causador do problema: “Entre os fatores está a debilitação dos ventos devido a uma anomalia térmica no oceano Atlântico”. Se esperava chuvas em março, mas na zona de convergência intertropical, na confluência dos ventos alísios do hemisfério norte com os do hemisfério sul, houve um estado bastante débil, o que não permitiu as precipitações para aquela época do ano. Isso pegou de surpresa o Ministério do Meio Ambiente e a prefeitura de Bogotá, que somente tomou a decisão de promover o racionamento de água na segunda semana de abril. Esta decisão foi qualificada como tardia pelos especialistas, segundo Mongabay.

A Escassez num país rico em água

Segundo dados apresentados pelo Ministério do Meio Ambiente no dia 15 de abril, durante o trimestre janeiro-março de 2024, ocorreram faltas de água em 277 municípios e 24 departamentos do país. Isto significa que a principal fonte de captação de água potável está abaixo dos níveis normais. “20 a 25% dos municípios do país já tiveram algum tipo de escassez de água. Tivemos 82 municípios em racionamento, o que obrigou a gerir o nível dos caudais e fornecer água potável em todo o país”, afirmou a ministra do Ambiente, Susana Muhamad.

Benjamin Quesada, climatologia e professor da Universidad del Rosario afirmou que cientistas deram o alarme em julho de 2023, no início do El Niño. O costuma causar secas na Colômbia, especialmente em áreas de grande altitude: “Infelizmente faltou prevenção”. A Prefeitura, então sob outra gestão, não implementou medidas de racionamento ou educação para o que os pesquisadores já sabiam que iria acontecer.

A fala do professor Quesada traz um elemento importante a cena: a baixa qualidade dos gestores na América do Sul. Em sua maioria não têm a boa ciência e as informações corretas para a tomada de decisões em áreas que afetam diretamente a população como a do abastecimento de água. O problema alcança empresas, sendo uma mostra a fala da gerente da Companhia de Aquedutos e Esgotos de Bogotá, Natasha Avendaño. Ela afirmou que as represas que abastecem Bogotá e cidades vizinhas se esgotaram mais rápido do que o esperado: “Quando fechamos o ano estávamos em El Niño e o nível do sistema Chingaza estava em torno de 42%, o que não era um nível crítico. Nem estávamos em alerta amarelo. Segundo as previsões, no final de fevereiro poderia começar a chover e o El Niño acabaria, mas isso não aconteceu”.

A última frase de Natasha Avedaño é uma mostra exemplar do estrago que pode fazer a desinformação, pois nenhuma das previsões apresentadas pelo NOAA ( National Oceanic and Atmospheric Administration ), dos Estados Unidos, indicava o fim do El Niño para o final de fevereiro e, mais, não se pode fiar em previsões de modo absoluto, particularmente com relação ao clima. A afirmação da gerente pareceu mais uma construção para justificar as falhas estratégicas de suas ações para enfrentar o problema.

Colômbia deveria servir de mais um alerta para o Brasil. Estamos conectados territorialmente.

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