Com cachoeira de 80 metros salva, proprietário da área decide criar unidade de conservação

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Foto: Silas Ismael/ Acervo Ecoa.
Nelson Martins, proprietário da fazenda Dallas em Pedro Gomes (MS). Imagem: Acervo Ecoa

A notícia chegou cedo, em uma manhã de maio de 2024: a licença para construir a represa hidrelétrica no córrego Cipó, que ameaçava desviar até 80% do fluxo de água da Cachoeira Água Branca, estava oficialmente cancelada. Para Nelson Mira Martins, fazendeiro que vive há mais de 30 anos na região, a sensação era de alívio e vitória. “É muito melhor esse patrimônio cênico, essa beleza, não ser destruída”, afirmou ele na ocasião.

Com 83 metros de queda livre, a Cachoeira Água Branca não é apenas a segunda maior de Mato Grosso do Sul, mas também um símbolo de identidade e potencial para a comunidade local. Localizada a 10 km da nascente do córrego Cipó, a cachoeira integra a sub-bacia hidrográfica Piquiri-Correntes, que abastece o Pantanal, e forma uma das paisagens mais impressionantes da região.

A construção da barragem teria sido devastadora, comprometendo não só a beleza cênica, mas também o microclima local, o potencial turístico e a biodiversidade, em especial as aves migratórias que encontram refúgio na área.

De um sonho à proteção definitiva

A suspensão da licença foi resultado de um esforço coletivo que mobilizou moradores, organizações ambientais, entre elas a ECOA, e o Ministério Público Estadual de Mato Grosso do Sul (MPMS). Mas, para Seu Nelson, a luta não terminou ali. Inspirado pela vitória, ele compartilhou um desejo antigo: transformar a área da cachoeira em uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). “Futuramente, pretendemos até criar uma unidade de conservação para melhor proteger a cachoeira, que é o nosso ideal”, disse ele.

Uma RPPN é um tipo de unidade de conservação de uso sustentável criada por iniciativa do proprietário, que se compromete a preservar a área de forma permanente. Com apoio da ECOA, o processo de criação da RPPN Água Branca já está em andamento no ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). Quando concluída, a reserva garantirá a proteção definitiva da cachoeira, e abrirá novas possibilidades para o turismo sustentável e a geração de renda na região.

Um futuro que une conservação e desenvolvimento

Para Seu Nelson, a criação da RPPN não é apenas um passo em direção à preservação, mas também uma oportunidade para fortalecer o turismo na região. Ele planeja construir uma pousada na área, permitindo que visitantes de todas as partes conheçam a exuberância da Cachoeira Água Branca e vivenciem a conexão única entre natureza e comunidade local.

Além disso, o município de Pedro Gomes poderá se beneficiar do ICMS Ecológico, um mecanismo de incentivo financeiro para municípios que conservam o meio ambiente, impulsionando investimentos locais e gerando benefícios para toda a comunidade.

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