Mudanças na cor da água do Rio Paraguai e a morte inexplicável de peixes chamam a atenção em pleno Pantanal Sul-Mato-Grossense. Segundo a denúncia, as alterações ambientais estariam relacionadas ao vazamento de rejeitos de minério de ferro da companhia Vale. A informação coincide com a abertura de inquérito na 2ª Promotoria de Justiça de Corumbá, a 430 quilômetros de Campo Grande, para investigar a situação das barragens.
A decisão foi publicada na última terça-feira (8) com base em parecer do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) do ano passado.
“O rio fica até vermelho quando descem os minérios. Os peixes morrem intoxicados”, diz o empresário Reginaldo Sucuri à equipe de reportagem do Jornal Midiamax.
Segundo ele, o material tóxico das mineradoras está espalhado pelas ruas e estradas da região, e quando chove para nas águas do Rio Paraguai. “No mês passado, eu flagrei com os turistas vários peixes mortos no rio. Os turistas até ficaram chocados quando viram a cor da água. Vou falar que é tinta? Não, eu falo que é rejeito da mineradora. Eles me perguntam: não fazem nada? Eu digo não”, disse.
No Diário Oficial, o MPE apontou que além de investigar a situação das barragens, vai “solicitar a adoção das medidas apontadas no Parecer Técnico GCF/IMASUL nº 292/2015 para o saneamento das irregularidades”. Apesar do Imasul ter feito a visita em dezembro do ano passado, o MP diz que recebeu o relatório apenas em 23 de fevereiro.
A vistoria foi feita em razão do acidente ocorrido nas barragens da Samarco, em Mariana (MG), com 15 mortes e um rastro de estragos ambientais.
O Imasul informou que foi feita a vistoria, junto com o CREA (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia), para verificar na época as condições da segurança das barragens. “Tudo estava dentro da normalidade, não constatamos qualquer irregularidade. As barragens não ofereciam riscos de rompimento”, citou o analista ambiental André Barros.
Segundo o empresário que foi ao MPE, todos os moradores da região do Morro do Urucum e Morro Santa Cruz convivem diariamente com o “lixo tóxico”. Reginaldo tem um blog onde faz as denúncias. No dia 21 de fevereiro, ele postou foto dos peixes mortos boiando no rio. No dia anterior, um jacaré foi flagrado, segundo ele “fugindo da lama tóxica que vazou dos sistemas de reservatórios das mineradoras da região”.
O empresário afirmou que são poucas as denúncias contra empresa. “O pessoal parece que fica cego e esquece dos rejeitos. A gente denuncia, e a empresa diz que é normal. Da onde? Eu não acho, e garanto que muitos não acham, mas têm medo de denunciar”, opina.
A equipe de reportagem do Jornal Midiamax entrou em contato com o Imasul, e a assessoria de imprensa informou que o secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico, Jaime Elias Verruck, deve se pronunciar ainda nesta sexta-feira (11). A assessoria de comunicação da companhia Vale também afirmou que irá responder os questionamentos assim que tiver as informações.
A Promotoria de Justiça de Corumbá informou a equipe de reportagem que Ana Rachel Borges de Figueiredo Nina, promotora responsável pelo inquérito, não dá entrevista e nem vai comentar sobre o caso.
Fonte: Catarine Sturza/Midiamax