O Cerrado é um dos biomas mais importantes para a economia brasileira, um dos fatores que o colocam no centro das discussões sobre a conciliação entre o aumento da produção agropecuária e a conservação dos recursos naturais.
Nele há o cultivo de metade da soja exportada pelo Brasil e 55% da produção nacional de carne bovina, fator importante para a economia do país. Por outro lado, a vegetação nativa reduziu cerca de 6 milhões de hectares entre 2010 e 2020, segundo um levantamento do projeto MapBiomas.
O monitoramento aponta que Mato Grosso foi o estado que mais teve supressão da vegetação nativa, com 6,8 milhões de hectares desmatados. Em seguida aparecem os estados de Goiás e Mato Grosso do Sul, com 4 milhões e 3,4 milhões de hectares suprimidos, respectivamente.
Do microclima à regularidade das chuvas, diversas variáveis afetam a produtividade das lavouras e da pecuária. O aumento da temperatura média do planeta e eventos climáticos extremos são fatores de interferência que estão fora do controle dos produtores.
Entretanto, outras condições podem ser gerenciadas, como a disponibilidade de água, que é um dos motivos de maior importância do Cerrado neste cenário. É nesse bioma que nascem 8 das 12 principais bacias hidrográficas do país. Sendo assim, os números mais recentes de desmatamento geram um alerta para todos que vivem, produzem ou acreditam na região.
Ainda segundo levantamento do MapBiomas, as atividades agropecuárias no cerrado agora ocupam metade do bioma, em 1985 a área era de pouco mais de um terço (34%). No curto prazo, soluções de irrigação podem aumentar a flexibilidade da agropecuária frente às incertezas do regime pluviométrico, porém, no longo prazo a recuperação dos lençóis freáticos é uma necessidade que se fortalece.
Então, mesmo nos casos de desmatamentos legais, é preciso que haja certificação de que eles não colocam em risco as regiões que fazem parte do Cerrado. Em artigo, publicado na Folha de São Paulo, é sugerida a criação de um PPCerrado – um programa de ação para prevenção e controle do desmatamento do bioma – a grande caixa d’água do Brasil.
Segundo dados apresentados no texto, o cerrado ainda possui 50% de sua área com vegetação nativa, fator que reforça a urgência de um planejamento integrado entre governo e setor privado para identificar as fronteiras agrícolas que não colocam os serviços ambientais em risco e precisam ser conservadas. Também é apresentada a sugestão do estabelecimento de corredores ecológicos que preservem mananciais e áreas de recarga de lençóis freáticos, além de sistemas de rastreabilidade das cadeias de commodities para apoiar quem atua de forma legal e participa da conservação do Cerrado.
No Cerrado, técnicas e cultivos tiveram que ser criados para as condições específicas da região, capacidade de reinvenção demonstrada pelo agronegócio no Brasil. Agora, é preciso ampliar o olhar para preservar o bioma, aliando segurança alimentar com a manutenção do clima do planeta e o desenvolvimento sustentável.
Desafio no cerrado: o conflito entre produtividade e conservação de recursos naturais
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