Drenos em parque estadual fazem população de cervos cair pela metade

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 Via Campo Grande News

 

Canais artificiais construídos para drenar as várzeas na região do Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema, na bacia do rio Paraná, para uso pecuário e agrícola, têm feito com que a população de cervos caia pela metade, em Mato Grosso do Sul.

Um monitoramento aéreo foi realizado pela Embrapa Pantanal de Corumbá com apoio da Cesp (Companhia Energética de São Paulo), e mostrou que de 2002 a 2016, os animais foram sumindo da área, em um parque que tem 79 mil hectares.

A redução está diretamente ligada às condições de conservação do habitat do animal. A dieta do cervo é composta 60% por plantas aquáticas e 35% de plantas de áreas úmidas, conforme estudos realizados pelo pesquisador da Embrapa, Walfrido Tomás e pela pesquisadora Suzana Salis.

Quando ecossistemas inundáveis, como os habitados pelos cervos, sofrem alterações hidrológicas, a qualidade ambiental para a espécie é afetada. É o que vem acontecendo nas várzeas do rio Paraná, onde está localizado o parque estadual.

“Detectamos que o número de canais aumentou muito e, em 2012 já havia mais de 4 mil quilômetros de drenos na região. Isso está diretamente relacionado à queda da população de cervos. A chance de ocorrência de cervos em áreas sem canais de drenagem é até 2,3 vezes maior do que em áreas com canais, ou seja, o triplo, de acordo com nossos levantamentos”, avalia.

O pesquisador afirma que a redução no número de cervos é preocupante porque na bacia do rio Paraná eles constituem populações isoladas em função da sequência de reservatórios de hidrelétricas que, além de eliminar vastas áreas de várzeas onde os cervos viviam, constituem barreiras à conectividade entre as populações que restaram.

“Quando o número cai muito e há isolamento entre populações, o risco de extinção aumenta porque a variabilidade genética também diminui a longo prazo”, explica. A situação pode ainda se agravar em função da conjunção destes problemas com os cenários de mudanças climáticas, podendo levar a espécie a uma situação de risco iminente de extinção em toda bacia do rio Paraná no Brasil.
Períodos – A pesquisa constata que o ambiente favorável à ocorrência de cervos diminui em mais de 50% do período chuvoso para o seco em áreas onde drenos foram construídos, contrastando com redução de menos de 10% onde não há canais. Ou seja, esta diminuição de ambientes favoráveis à espécie no período mais crítico do ano, a seca, parece fortalecer a dimensão da redução da população, confirmando a intensa ligação entre a presença do animal e a qualidade do habitat.

Já em 2009, os levantamentos indicaram que a população de cervos abaixo da usina hidrelétrica Sergio Motta havia caído de 1.550 em 2002 para pouco mais de 900 indivíduos nas várzeas onde se localizam tanto o parque estadual de Ivinhema como o Parque Nacional da Ilha Grande, de 74 mil hectares.

Contrapartida – Já em uma reserva mantida pela Cesp na mesma bacia hidrográfica, conhecida como Reserva Cisalpina, e que abriga os mesmos tipos de habitats, a população de cervos quase dobrou no mesmo período, passando de 87 em 2002 para 150, estimados em 2016 através de levantamentos aéreos. Nessa área, localizada em Brasilândia, não há canais de drenagem e a caça é praticamente inexistente, mostrando que a proteção de habitats e a coibição da caça têm efeitos benéficos à conservação de uma espécie ameaçada de extinção, como o cervo.

Intervenção – O pesquisador lembra que ações de prevenção de degradação ambiental já são insuficientes para aquela região. “Será preciso uma intervenção mais efetiva. Estamos sugerindo experimentos de restauração ecológica. Uma das primeiras ações deve ser o fechamento de canais de drenagem antigos dentro de unidades de conservação, feitos antes da criação dos parques, para que o habitat possa se recompor”, informa.

É preciso alertar que as intervenções na hidrologia de áreas úmidas já vêm sendo observadas também no Pantanal brasileiro, de forma ilegal, o que preocupa pesquisadores da área, já que podem causar alterações profundas em todo o ecossistema e sua biodiversidade.

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