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Estrangeiros pretendem investir no agronegócio brasileiro

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Foto: Marizilda Cruppe / Greenpeace

Texto originalmente publicado em: 08/02/10

HÁ UM TEMOR já velho de quase um século de que o Brasil se transforme em nada mais que um exportador de produtos ditos primários, na melhor das hipóteses uma Austrália gigante (se fosse possível, aliás, uma Austrália gigante seria uma boa pedida). Do outro lado do balcão mundial, a percepção é outra. As transações dos últimos dias e anúncios de aquisições e projetos dão conta de que os estrangeiros temem perder os melhores bocados do negócio brasileiro de recursos naturais. E que pretendem levar o agronegócio a outro nível.

China, Japão e Coreia do Sul, grandes importadores de minérios e/ou comida, anunciam desde o final do ano passado que vão passar a investir mais na América Latina. Vão usar fundos estatais para fazer parcerias com empresas privadas ou dar garantias a investidores nacionais (deles) que queiram apostar no coração das trevas dos mercados emergentes de mineiros e comida.

Grandes fundos privados ou de “private equity” começam a comer com dentadas pelas bordas o negócio de energia elétrica, cana e bioenergia. Ontem, a Adecoagro anunciou que pode vender ações a fim de levantar dinheiro para investimentos na agroindústria latino-americana, em especial no Brasil. Um dos maiores acionistas da Adecoagro é George Soros. A empresa começou em 2002 comprando muita terra na Argentina devastada pela crise.

No Brasil, tem uma usina sucroalcooleira em Mato Grosso do Sul, a Angelica, em 30% financiada pelo BNDES, e a Monte Alegre, em Minas Gerais, onde tem também a Alfenas Café. As duas usinas produzem energia elétrica e podem moer uns 5 milhões de toneladas. É menos de um décimo da Cosan-Shell, a líder do país, mas vão crescer. A Adecoagro ainda planta soja, algodão e café na divisa entre Tocantins e Bahia.

O fundo soberano Chinês, a China Investment Corporation (CIC), avisa que está negociando ou prospectando negócios na área de prata no México e de minérios em geral no Brasil -negócios para serem fechados este ano. O Japão tem uma agência estatal para fomentar a exploração de petróleo e minérios no exterior. Na verdade, a Jogmec é uma corporação de estratégia e finanças que tem como objetivo garantir o suprimento constante e a bom preço de petróleo e minérios.

Estão promovendo mudanças na lei a fim de permitir que a Jogmec se una a empresas na compra de negócios de recursos naturais. Um dos objetivos da mudança é ampliar a atuação dos japoneses no Brasil.

Parte importante do lucro da agricultura brasileira fica com as grandes “tradings”, múltis como Cargill ou Louis Dreyfuss (não há empresas brasileiras com capacidade financeira e redes mundiais fortes o bastante para tocar o comércio). O negócio tão brasileirinho do álcool terá o mesmo destino? Uma empresa como a Shell tem tamanho, capacidade técnica e contatos bastantes para desenvolver novas tecnologias do álcool (como a pesquisa do álcool de celulose rentável, que já desenvolve em parcerias). Ou para fazer lobbies para abrir mercados para a produção nacional.

A British Petroleum também já chegou ao álcool. Dentre os atuais “players” do mercado, apenas a Petrobras teria tamanho e recursos para fazer coisa semelhante.

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