Por Filipe Vidon
Uma análise sobre o desmatamento no Cerrado a partir de dados coletados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelou que, entre agosto de 2018 e julho de 2019, uma área de 933 km² foi destruída apenas no Mato Grosso. Deste total, a devastação ocorreu por meio de ações ilegais em 88% dos casos.
O número significa uma redução de 6% em relação à área desmatada no ano anterior, mas segundo o documento divulgado pelo Instituto Centro de Vida, o ritmo de destruição no bioma ainda é “alarmante” pelo elevado grau de ilegalidade nas ações.
O estudo também revela que grande parte do desmatamento ilegal identificado é proveniente de imóveis rurais registrados no Cadastro Ambiental Rural (CAR). Esse registro eletrônico é obrigatório e tem como objetivo integrar as informações ambientais sobre áreas de preservação de florestas e vegetação nativa.
Do desmatamento ilegal identificado nessas propriedades registradas no sistema nacional, 64% se concentra em grandes imóveis, com mais de 1.500 hectares. Segundo Vinícius Silgueiro, coordenador do Núcleo de Inteligência Territorial do ICV, os números demonstram que a destruição é feita por quem já possui poder econômico e por isso seriam facilmente identificáveis pelos órgãos ambientais para a responsabilização pelos crimes.
“Quando olhamos para o universo de propriedades desmatando ilegalmente há uma concentração em menos de 900 fazendas, um número bem pequeno quando comparado ao número total de propriedades no Cerrado, cerca de 3%. É preocupante que poucas propriedades que poderiam estar sendo fiscalizadas destruam mais de 60% do bioma e coloquem em risco a produção agropecuária do estado inteiro”, alertou.
Sobre a queda de 6% no desmatamento quando comparado ao ano anterior, Silgueiro considera que o patamar ainda é muito elevado, na casa de 100 mil hectares por ano. Esse número ainda está distante do compromisso assumido pelo estado de Mato Grosso durante a Conferência do Clima em Paris, em 2015. No evento, o governo se comprometeu a reduzir o desmatamento do Cerrado para 150 km² por ano até 2030.
“O que notamos é uma queda enorme, desde 2015, nas autuações feitas pelo Ibama no estado. A Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) tem um esforço maior: implantaram em 2019 um sistema novo de monitoramento com imagens em alta resolução, mas ainda precisamos aguardar o reflexo disso para entender se o combate está sendo feito de forma mais efetiva”.
Para Vinícius Silgueiro, a imagem de impunidade sobre crimes ambientais ainda pode prejudicar a relação com mercados externos, já que não há garantias sobre a legalidade da produção agropecuária.
RELEVÂNCIA DO CERRADO
O Cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul, ocupando cerca de 22% do território nacional. Considerado a “caixa d’água” do país, a região localizada no centro do país possui nove das doze bacias hidrográficas existente no Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estática (IBGE).
As nascentes dos maiores rios que correm pelo país estão no bioma, entre eles o rio São Francisco, Araguaia e Tocantins. A perda de vegetação no Cerrado pode prejudicar diretamente a disponibilidade de água e aumentar processos erosivos, prejudicando a produção agropecuária.