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Mulheres pantaneiras – e luta pela organização

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Nathália Eberhardt Ziolkowski

 

No último dia 23 de julho Natalina e Georgina, acompanhadas de Sérgio, esposo de Georgina, atracaram no Porto da Manga, um aglomerado urbano localizado a 60 km de Corumbá, após uma hora e vinte minutos navegando pelo Rio Paraguai. Vieram de Porto Esperança, comunidade ribeirinha existente há mais de 100 anos, composta hoje por cerca de 52 famílias. A comunidade é um distrito de Corumbá, MS.

Georgina e Sérgio. Foto: Nathália Eberhardt
Georgina e Sérgio. Foto: Maria Eduarda Leão

O objetivo foi aproveitar a presença da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, e da Ecoa, que, juntas, realizavam ação comunitária no Porto da Manga, promovida pela Associação de Mulheres Extrativistas desta comunidade, para uma conversa sobre os termos jurídicos para a fundação da Associação de Mulheres de Porto Esperança, originalmente idealizada por 10 mulheres.

A comunidade possui uma associação de moradores, mas Georgina e Natalina relatam que as mulheres não se sentem representadas nesse espaço que é composto predominantemente por homens:

“A comunidade tem sua associação, mas nós não temos espaço e hoje as mulheres tem força também e agora precisamos que a comunidade entenda isso”, afirmou Georgina.

Georgina e Natalina se reúnem com André, Diretor- Presidente da Ecoa. Foto: Nathália Eberhardt
Georgina e Natalina se reúnem com André, Diretor- Presidente da Ecoa. Foto: Nathália Eberhardt

As mulheres buscam o reconhecimento por parte dos/as demais moradores/as da localidade e também do Estado sobre sua presença na luta por direitos. Dentre as reivindicações que a associação, em processo de fundação, já tem bem definida estão questões de interesse comum aos/as comunitários/as.

Georgina diz que “a primeira luta vai ser por uma estrada boa”. O trecho de 10 km que liga a comunidade com a BR-262 tem aceso bloqueado quando vem a cheia. A  estrada fica coberta pela água, impossibilitando o rápido deslocamento quando necessário e mesmo o acesso de turistas, uma das fontes de renda da comunidade. Outro ponto da agenda das mulheres é a qualidade da água de consumo, pois a água local, vinda de poços, é salobra, além da poluição quando sobe o lençol freático. Afirmam não saber se a água é adequada ao uso humano, pois não têm informações técnicas a respeito.

A atividade geradora de renda em Porto Esperança é, prioritariamente, a pesca e a coleta de iscas vivas para a pesca turística, atividades também desenvolvidas pelas mulheres que cada vez mais somam na renda do núcleo familiar. Nos dias atuais, elas relatam, o turismo de pesca está “muito enfraquecido”, o que faz com que muitas mulheres busquem fontes de renda alternativas, como o artesanato e trabalhos como cozinheiras, por exemplo.

Natalina conta que desde 2002, quando chegou a luz elétrica na comunidade, nenhuma outra conquista significativa ocorreu na região. Todo o lixo produzido, por exemplo, é queimado ou jogado nas margens do rio e isso as preocupa e indigna, pois nem o governo, tampouco as grandes empresas instaladas na região (Vale é uma delas), se dispõe a contribuir para a resolução desse problema e outros problemas. A proteção dos jovens é outra questão que querem tratar.

Natalina é supervisora da Escola Municipal de Porto Esperança e mora na comunidade há 11 anos. Georgina é pescadora profissional aposentada, e complementa a renda hospedando trabalhadores da região. Vive no local há 31 anos.

 

Fotos: Nathália Eberhardt
Fotos: Acervo de acadêmicos/Ecoa

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