//

No Pantanal, pescadores artesanais revelam a saúde dos rios

3 minutos de leitura
Foto: Arquivo Ecoa

A vivência diária e o conhecimento acumulado sobre os rios, os peixes e os ciclos naturais tornam os pescadores artesanais verdadeiros bioindicadores da saúde das águas. Essa vivência permite identificar rapidamente sinais de alteração no ambiente — como a diminuição de espécies, mudanças no tamanho dos cardumes ou comportamentos incomuns.
Para André Siqueira, diretor da Ecoa, essa importância vai muito além da atividade pesqueira. “Pescadores profissionais artesanais fazem parte da nossa história, da história ancestral do Pantanal. É fundamental dizer que são os verdadeiros guardiões do rio, que cuidam de APPs (Áreas de Preservação Permanentes), envolvem sua vida e suas atividades dentro dessa imprevisibilidade dos rios, com uma relação também cosmológica com a natureza, de certa maneira. E por estar no dia a dia do rio e analisar as mudanças ao longo do tempo, são os melhores bioindicadores para uma série de problemas, ou dinâmicas que esses ambientes sofrem.”
No Pantanal, acompanhar o pulso das águas, o período de reprodução e a disponibilidade de espécies faz parte da rotina desses trabalhadores, que percebem transformações muitas vezes antes mesmo de estudos científicos apontarem os problemas. Quando compartilhadas, suas observações fornecem pistas valiosas para entender desequilíbrios ambientais relacionados à poluição, sobrepesca, mudanças climáticas ou impactos de grandes empreendimentos.
Siqueira reforça ainda o protagonismo desse grupo dentro da cadeia da pesca. “E mais do que isso, de toda a cadeia de pesca que existe, e nós estamos falando aí da pesca difusa, da pesca amadora, da pesca amadora/esportiva, da pesca profissional artesanal, pesca industrial também, enfim, a pesca profissional artesanal, de fato, é o grupo social que mais se preocupa com o ambiente, com o rio e a sua saúde, ou seja, seu entorno. O pescador é o que traz isso. Dentro de toda a cadeia de pesca, é o único que se manifesta a grandes vetores de pressão, a grandes vetores de impacto que afetam a saúde dos rios e da abundância de espécies dentro e no entorno dos corpos d’água, como por exemplo barragens.”

Foto: André Siqueira

Além de seu papel ecológico, a pesca artesanal é uma das principais atividades geradoras de trabalho e renda no Pantanal. Reconhecer e valorizar esse conhecimento tradicional é essencial, não apenas para preservar a cultura ribeirinha, mas também para somar esforços à ciência na conservação da saúde dos rios.

Talita Oliveira

Coordenadora do Núcleo de comunicação da Ecoa e da Paisagem Modelo Pantanal.

Deixe uma resposta

Your email address will not be published.

Mais recente de Blog