A partir do início de fevereiro de 2024 a Serra do Amolar, localizada a montante da cidade de Corumbá (MS), margeando o rio Paraguai, foi notícia nacional graças a uma multa astronômica – mais de 9,6 milhões de reais – aplicada ao ribeirinho Roberto Carlos Conceição Arruda, mais conhecido como Beto, pois o consideraram responsável por um incêndio que queimou cerca de 1 mil hectares na Serra.
Classificado como “fazendeiro e empresário”, Beto teve como fonte acusatória original, segundo o divulgado por vários sites, o Instituto Homem Pantaneiro (IHP), organização proprietária de áreas na região. A descrição dada foi a de que o inicio do fogo ocorreu no dia 27 de janeiro em um ‘bacero’* a 400 metros do local onde vive Roberto Carlos com sua família.
Mais recentemente o quadro tomou outros contornos a partir de iniciativas do senhor Beto, reagindo às acusações e a aplicação da multa. Ele buscou o apoio do advogado e fazendeiro Nelson Araújo e a seguir foi até a Policia Civil em Corumbá para fazer boletim de ocorrência contra o IHP por “falsa acusação”.
A Ecoa surgiu no caso a partir de duas passagens em matéria do jornal Correio do Estado (MS), assinada pelo jornalista Nery Kaspary no dia 11/03. A primeira delas quando o texto traz informações importantes sobre a Serra do Amolar e interesses de Eike Batista, o empresário, com base em matéria publicada originalmente pelo portal Fato Online, de Brasília, e reproduzida pelo site da Ecoa no dia 24/11/2015. A outra passagem, que consideramos grave, é a informação do jornalista de que procurou o IHP no dia 8/3 e “não obteve retorno oficial do Instituto”, mas “pessoas ligadas ao Instituto deram a entender que o senhor Beto é ligado à Ong Ecoa”, o que, obviamente, traz como única leitura possível a de que o Instituto considera as denúncias do senhor Beto como influenciadas pela Ecoa.
Aqui estamos para deixar claro que não tivemos qualquer participação em todos nos acontecimentos e denúncias. A Ecoa não fez sugestões, indicações ou tomou qualquer outra iniciativa para ações ou abastecimento com informações ao senhor Beto, até mesmo por não dispormos delas, particularmente a de que se busca usar a região da Serra para conquistar créditos de carbono. Inclusive fomos perguntados por uma jornalista de publicação internacional e respondemos que não sabíamos e não emitiríamos opinião sobre a questão. Reafirmamos que organização não tem qualquer informação sobre o pretendido pelo IHP. Qualquer que seja o resultado alcançado pelo instituto não trará alterações para a proteção da Serra e seus moradores.
Todos sabem que há dezenas de anos a Ecoa tem presença conservacionista na macro região da Serra do Amolar, atuando junto com os ribeirinhos e as populações tradicionais. Temos, inclusive, uma base de apoio e pesquisas no Porto Amolar.
A Ecoa mantém relações com o senhor Beto há muitos anos e as considera valorosas para a defesa da Serra do Amolar e a conservação do Pantanal. O senhor Beto é membro da Brigada Voluntaria Regional contra incêndios. Ele recebeu treinamento técnico do Prevfogo/Ibama e atuou bravamente no combate aos incêndios de 2020, ano em que grande parte da Serra foi devastada pelo fogo;
Outro ponto é que Beto definitivamente não pode ser considerado um “fazendeiro e empresário”, passível de ser multado em mais de R$9,6 milhões. Sua pousada com apenas 2 quartos – talvez a mais original do Pantanal – é sua residência. Ele como pantaneiro, nascido na região, com amplo conhecimento de seus ecossistemas atua como guia recebendo alguns turistas internacionais – um exemplo de empreendedorismo.
Um fato importante, anterior, trazida à baila pela matéria do Correio do Estado, foi presença anterior do minerador Eike Batista no Pantanal e, mais especificamente, na região da Serra, onde detinha propriedade e licenças para “pesquisa de lavra”. A Ecoa fazia um monitoramento permanente das empresas do senhor Eike, pois temia pelo desencadeamento descontrolado da mineração e destruição da região. Publicações de anos atrás podem ser encontradas no site da Ecoa tratando, por exemplo, da questão do carvão vegetal oriundo de desmatamento no Pantanal para uso na siderúrgica de propriedade, à época, do senhor Eike. Quanto à propriedade de Eike na Serra do Amolar ela posteriormente foi transferida para o IHP.
Que prevaleça a verdade e a justiça.
* O bacero é uma formação aquática que se desprende de sua base, formando ilhas flutuantes.