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Nove propostas para recuperar a vida nas comunidades do Pantanal

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Leonida Aires, moradora do Pantanal. Foto: Victor Hugo Sanches.

Desde dezembro de 2023, a Ecoa trabalhou com o Ministério do Meio Ambiente elaborando um Plano para enfrentar a catástrofe que se avizinhava para o Pantanal. Agora levantamos as principais necessidades para as comunidades, medidas importantes de adaptação e mitigação a situações extremas que vivem hoje:1. Apoio paras formar e fortalecer brigadas comunitárias voluntárias – Hoje existem 23 Brigadas Comunitárias Voluntárias, em comunidades, assentamentos rurais e, fazendas, formadas por organizações da Sociedade Civil como ECOA – Ecologia e Ação, SOS Pantanal, WWF Brasil, com apoio do Prevfogo/IBAMA. Desde o surgimento dos primeiros focos este ano, nos municípios de Ladário, Miranda e Corumbá, todos no Mato Grosso do Sul, várias brigadas atuaram para impedir que focos se transformassem em incêndios, inclusive no interior de fazendas, a convite de proprietários. Uma Área de Proteção Ambiental (Baía Negra) localizada no Pantanal, cidade de Ladário, foi salva até agora pela atuação conjunta da Brigada Comunitária e dos brigadistas do Prevfogo Ibama. Essas brigadas são muito importantes como primeira resposta ao fogo, mesmo assim, dispõe de pouco recurso, captado por organizações da sociedade civil, que esse ano ainda não foram suficientes para suprir suas demandas por cursos de reciclagem e compra de equipamentos e EPIs – Equipamentos de Proteção Individual.

2. A agricultura familiar e terras indígenas nos municípios acima citados, precisam de apoio para suas brigadas voluntárias, mas também para mitigar os impactos de um território devastado pelas chamas, passando por uma grave crise hídrica, impactando suas economias locais.

3. Proteção para produtores/as de mel: caso de Miranda – A produção de mel hoje é uma atividade geradora de renda em assentamentos da reforma agrária, comunidades indígenas e comunidades ribeirinhas no Pantanal. Além disso, as abelhas são importantes polinizadores e responsáveis pela manutenção da diversidade agrícola. Um incêndio em 2023, na área rural do município de Miranda, destruiu por completo apiários ribeirinhos de produtores de mel, trabalho de mais de uma década para conseguir se estabelecer foi devorado pelas chamas em horas, colmeias inteiras foram queimadas e o impacto para pequenos/as produtores foi sem precedentes.

4. Estabelecer pequenos sistemas de irrigação movido a energia solar – A crise hídrica e os incêndios estão deixando assentamentos e comunidades tradicionais com dificuldade de produção de alimento. Isso tem impactado a soberania alimentar desses povos, a exemplo da comunidade ribeirinha da Barra do São Lourenço que desde os incêndios de 2020 não conseguiram plantar alimentos em seus quintais, pela densa camada de cinzas que impossibilita a produção de qualquer cultura, inclusive as comumente semeadas como mandioca e milho. Para uma comunidade remota como essa, em que os quintais produtivos são fonte importante de alimentos dos núcleos familiares, a situação gera vulnerabilidade extrema.

5. Apoio para escoamento da produção da agricultura familiar no Pantanal – O Assentamento 72 no Pantanal de Corumbá é um exemplo de sobrevivência em meio a seca e incêndios que cercam a região. Sua localização faz parte da Paisagem Modelo Pantanal, em construção pela ONG Ecoa, em parceria com o Serviço Florestal Canadense, consolidando uma área de processos sociais inclusivos e participativos, trabalhando pelo desenvolvimento sustentável de um território. Ali foram implantados 10 sistemas agroflorestais com instalação de placas solares para gerar energia limpa para irrigação. A Iniciativa tem sido um sucesso para a produção e colheita de produtos da agricultura familiar, uma única família coletou 200 kg de abóbora e centenas de pés de alface em um período de seca extrema do Pantanal, mas o gargalo hoje é acesso a mercados e escoamento da produção.

Autoria: Fernanda Cano

6. Extrativismo sustentável – Importante fonte de renda no Pantanal é afetada por marcas permanentes dos incêndios – cadeias produtivas de frutos nativos como o Acuri, a Laranjinha-de-Pacu e a Bocaiuva foram duramente impactadas pelos incêndios desde 2020, ao ponto de grupos produtivos de mulheres em assentamentos e comunidades tradicionais abandonarem as atividades sem previsão de retomar. As ações de conservação e uso sustentável dos recursos precisam ser vistos como modelo de diversificação produtiva dentro das comunidades. Impulsionar esse modelo como agregador de renda dessas famílias, olhar para a recomposição e restauração de paisagens e matas nativas é um favorecimento a todas as pessoas e biomas. As comunidades prestam um serviço ambiental no Brasil e isso não é visto e nem valorizado até hoje.

7. Suporte técnico de agrônomos para cada caso – A assistência técnica nunca se fez tão necessária e cada território encontra hoje uma condição diferente, vezes assolado pelos incêndios, outra pela crise dos baixos níveis de água, ou pelos dois. Profissionais especializados que possam identificar a real condição e dificuldades de produção são muito necessários.

8. Apoio técnico permanente para diversificar produção e resistir a seca e outros eventos extremos – Um plano de adaptação para a produção da pequena agricultura familiar, que considere o momento atual do Pantanal.

9. Recuperar nascentes – As nascentes que banham a maior planície alagável do mundo, o Pantanal, encontra-se na Bacia do Alto Paraguai, em sua maioria no Cerrado. Ambos os ecossistemas vivem conectados e é muito importante garantir que as nascentes dos rios sejam preservadas, para evitar que o agravamento da crise hídrica seja ainda maior nos próximos anos.

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