Texto originalmente publicado em: 27/03/09
O Brasil detém 13,8% da água doce superficial do planeta. Uma riqueza que, no entanto, não é equilibradamente distribuída no território nacional. Os desequilíbrios na distribuição dos mananciais, o crescimento desordenado das cidades, a falta de consciência sobre o uso sustentável da água, a contaminação de rios e represas, comprometem seriamente o abastecimento em várias regiões. O uso racional da água e uma boa gestão desse recurso passaram a ser prioridade para os setores produtivos e o governo, que começam agora a concentrar investimentos em estações de tratamento e reciclagem de água.
Calcula-se que, se nas indústrias – no resfriamento de caldeiras, no funcionamento de sistemas de ar-condicionado, na manutenção de máquinas e equipamentos e nos serviços de limpeza – fosse usada apenas água reciclada, haveria economia de 1,65 bilhão de litros por dia, suficiente para o consumo de 8,2 milhões de pessoas. Dados do Centro Internacional de Referência em Reúso de Água (Cirra), vinculado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), mostram que, apesar dos apelos de sustentabilidade e das vantagens competitivas suscitadas por essa prática, apenas 20% a 30% das companhias instaladas no Brasil aderiram a ela.
Na região metropolitana de São Paulo, a disponibilidade de água é de pouco mais de 200 metros cúbicos por habitante por ano – o que representa menos de 10% do índice de referência adotado pela Organização Mundial da Saúde, segundo o qual, uma área é considerada autossustentável em recursos hídricos quando assegura mais de 2.500 metros cúbicos de água por ano para cada habitante. Mais de 50% da água consumida pelos 18,5 milhões de moradores da Grande São Paulo é trazida de bacias cada vez mais distantes, com elevados custos de instalações e energia.
Dos 70 mil litros de água por segundo, produzidos pela Sabesp, 80% viram esgoto e, apesar dos recentes investimentos da estatal na construção de sistemas de tratamento, mais de 40 mil litros de água não tratada ainda são lançados nos rios e córregos a cada segundo.
Há anos, a Sabesp se esforça para conscientizar a população e os setores produtivos sobre o uso consciente da água. Sua direção costuma classificar a empresa como agente ambiental e de desenvolvimento, ou seja, mais do que vender água, ela se dispõe a disseminar os métodos de boa gestão da água para que as empresas reduzam seus custos de produção e tenham mais recursos para o crescimento.
Há nove anos foram construídas cinco grandes estações de tratamento de esgoto (ETEs) e, em três delas, instalaram-se miniestações para produção de água para uso industrial. Durante três anos, as estações permaneceram ociosas e agora é que começam a despertar o interesse de maior número de empresas. As empresas podem reutilizar até 60% da água consumida em seus processos.
Uma recente pesquisa do professor Ivanildo Hespanhol, diretor do Cirra, com 2.311 indústrias paulistas de médio e grande portes mostrou que, juntas, elas gastam R$ 1 milhão por dia com água. Se houvesse a reciclagem, esse custo baixaria para R$ 400 mil diários.
A indústria química, que depende de grande volume de água em seus processos, tem dado passos mais largos no reúso da água. Entre 2001 e 2007, o volume de efluentes lançados por esse tipo de empresa caiu de 4.190 para 1.890 litros por tonelada produzida. Em 2001, o volume de água reaproveitada era de 3.700 litros por tonelada produzida, número que saltou para 31.500 litros em 2007.
Em fins dos anos 90, nova legislação estabeleceu cobrança pelo uso industrial da água e, além disso, as empresas, principalmente as exportadoras, passaram a ser pressionadas pelos clientes para apresentar certificação de seus processos produtivos, inclusive dos cuidados com o meio ambiente.
Assim, conforme a escassez do líquido, e seu custo de captação, produção, distribuição, etc., bem como a quantidade de efluentes emitidos, as vantagens do uso racional da água vão se tornando cada vez maiores.
(Foto de capa de Jong Marshes via Unsplash)