Campo Grande recebeu, nesta terça-feira (8), o Vozes dos Biomas – Rumo à COP30, encontro que marcou a escuta das mulheres do Pantanal. A atividade integra o processo Cartas por Biomas, conduzido pelas Enviadas Especiais da Presidência brasileira da COP30 — Denise Dora (Direitos Humanos e Transição Justa), Janja Lula da Silva (Mulheres) e Jurema Werneck (Igualdade Racial e Periferias).

O evento contou com a presença das ministras Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) e Sônia Guajajara (Povos Indígenas), que se somaram à comitiva das Enviadas Especiais na escuta dos povos, comunidades e mulheres de organizações da sociedade civil que dedicam seus trabalhos ao Pantanal.
Nathalia Ziolkowski, presidenta da Ecoa e secretária executiva da Rede de Mulheres Produtoras do Cerrado e Pantanal (CerraPan), estava entre as três mulheres convidadas para representar o bioma, ao lado de Val Eloy, da ANMIGA – Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade, e Vania Lucia Duarte, liderança quilombola da Associação dos Descendentes de Tia Eva.

Em sua fala, Nathalia destacou os desafios enfrentados na Bacia do Alto Paraguai, como o desmatamento nas cabeceiras, os incêndios recorrentes e os períodos prolongados de seca na planície pantaneira. Ela também chamou atenção para o papel e a vulnerabilidade das mulheres frente às mudanças climáticas:
“O Pantanal é pouco visível na agenda climática nacional e internacional. A COP30 será no Brasil, e isso nos impõe uma responsabilidade: trazer o Pantanal para o centro do debate global sobre clima, considerando ser este um bioma fundamental para a regulação do clima no Cone Sul e, sem esquecer, que nenhum país alcançará as metas do Acordo de Paris ou dos ODS 2030 sem reconhecer os povos e comunidades tradicionais como protagonistas da mitigação e da adaptação.”
Nathalia lembrou ainda que as mulheres pantaneiras são expoentes no enfrentamento às mudanças climáticas, ao mesmo tempo em que estão entre as mais afetadas pelos efeitos dos eventos extremos — uma realidade que exige políticas públicas específicas e permanentes. Por isso, a presidenta da Ecoa entregou às enviadas a Carta das Mulheres pela Conservação do Cerrado e a Carta da CerraPan à COP30, documentos construídos a partir das vivências e das demandas das mulheres que atuam na conservação dos biomas e na defesa de seus territórios.
A iniciativa Cartas por Biomas representa uma inovação brasileira no processo da COP30, ao criar um canal direto de escuta entre a Presidência da Conferência e as comunidades que vivem nos biomas nacionais. O material colhido nas escutas será reunido nas Cartas das Vozes dos Biomas, que serão entregues à Presidência da COP30 em Belém (PA), em 2025, garantindo que as vozes de quem vive e cuida dos territórios estejam presentes nas discussões globais.
O processo de escutas continua pelos biomas brasileiros e o recado é claro: não há transição justa sem as mulheres, nem futuro climático possível sem quem cuida da terra todos os dias.