/

Pesquisa de diretor científico e membro do Grupo Gestor da Ecoa revela a relação entre incêndios e doenças respiratórias no Pantanal

5 minutos de leitura
André Nunes, diretor científico da Ecoa e coordenador da Paisagem Modelo Pantanal. Foto: Luana Campos.
  • As emissões de PM2,5 estão relacionadas ao aumento das queimadas pelo Pantanal;
  • A incidência de doenças respiratórias entre crianças foi maior do que em outros grupos;
  • Foi encontrada uma relação negativa entre doenças respiratórias e chuvas;
  • Foi encontrada uma associação positiva entre exposição à seca e doenças respiratórias.

Na pesquisa intitulada Historical association between respiratory diseases hospitalizations and fire occurrence in the Pantanal wetland, Brazil, cientistas investigaram a relação entre o alto índice de hospitalizações por problemas respiratórios em regiões pantaneiras e os registros de incêndios nas proximidades. O estudo é de coautoria da bióloga Camila Lorenz e outros 12 pesquisadores, entre eles o diretor científico da Ecoa, André Valle Nunes, e o membro do Grupo Gestor e técnico científico da Paisagem Modelo Pantanal, Rafael Morais Chiaravalloti. Essa foi a primeira vez que um levantamento sobre Hospitalizações por Doenças Respiratórias (HDR) foi conduzido no Pantanal, considerando três grupos: crianças maiores de 5 anos, idosos com 60 anos ou mais e registros totais entre 2003 e 2019 dos 17 municípios da região.

O resultado foi publicado em agosto do ano passado na revista científica internacional Atmospheric Pollution Research – especializada na publicação de artigos sobre a poluição do ar em escala regional, local ou global. A publicação trouxe um estudo à respeito da relação entre o alto índice de hospitalizações por problemas respiratórios em regiões pantaneiras e os registros de incêndios nas proximidades.

Os pesquisadores afirmam que houve um aumento de 26 a 34% nos níveis de HDR em anos de seca, o que corroborou a função que as precipitações e a umidade do solo exercem para controlar as queimadas e, consequentemente, a quantidade de internações. Também ficou clara a maior vulnerabilidade do público infantil, com quatro vezes mais casos registrados que a população geral, e dos idosos, que tiveram e o triplo de ocorrências.

Outro aspecto analisado foi a presença de material particulado igual ou menor que 2,5 microns (µm), conhecido como PM 2,5. Essas partículas, que podem ser líquidas ou sólidas, surgem principalmente como resultado de atividades humanas – incluindo queima de combustíveis, fumaça de tabaco ou incêndios florestais – e são perigosíssimas para a saúde quando inaladas. Durante o pico das queimadas no Pantanal, foram constatados índices cinco a seis vezes maiores que o limite aceitável pela Organização Mundial da Saúde.

Os autores explicam que os campos nativos do bioma, historicamente, eram utilizados para a pecuária de baixa intensidade, mas, desde a virada do século, a constante diminuição nos níveis de chuva na Bacia do Alto Paraguai ajudou a expor montantes de biomassa que antes ficavam protegidos da queima pela água.

Metodologia do estudo

Foram coletados dados de 17 municípios dentro dos estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso: Aquidauana, Bodoquena, Corumbá, Coxim, Miranda, Porto Murtinho, Rio Verde de Mato Grosso e Sonora; e Barão de Melgaço, Cáceres, Itiquira, Juscimeira, Mirassol d’Oeste, Nossa Senhora do Livramento, Poconé, Rondonópolis e Santo Antônio do Leverger, respectivamente.

Os números de internações foram extraídos do Sistema de Informação de Internações Hospitalares do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (SIH-SUS) e retrataram uma constância nos casos de doenças respiratórias, com média anual de 9,29 (±1,3) casos a cada mil habitantes.

Texto originalmente publicado em 27 de junho de 2024 e atualizado em 01 de setembro de 2025

Deixe uma resposta

Your email address will not be published.

Mais recente de Blog