Via Campo Grande News
Por: Ricardo Campos Jr.
Na cultura popular, árvores, sementes, frutos e flores comuns no Pantanal e Cerrado sul-mato-grossenses viram soluções caseiras para diversas doenças, mas nas mãos do biólogo doutor em bioquímica Octávio Luiz Franco elas já foram transformadas em 12 fórmulas antibióticas, algumas com potencial para tratar super bactérias.
À frente de um grupo de pesquisa na Universidade Católica Dom Bosto (UCDB), ele acredita que a fauna e a flora presentes no estado sejam uma grande vantagem para obter espaço no campo científico.
“Eu sempre considerei que uma das coisas que nos torna competitivos é a biodiversidade que nós temos aqui. Às vezes não temos a mesma quantidade de dinheiro, massa crítica, pessoal especializado para trabalhar, mas eles [grandes centros] não têm o mesmo acesso que nós temos à biodiversidade”, afirma.
Octávio trabalha para identificar nas plantas, e até mesmo venenos de alguns animais, substâncias que matem as bactérias. Em seguida, ele tenta sintetizá-las em laboratório para não precisar colher folhas, flores e frutos sempre que desejar produzir as fórmulas.
A pesquisa só não avança na elaboração propriamente dita dos remédios. Isso dependeria de investimentos milionários por parte indústrias para completar os estudos necessários à aprovação dos produtos junto aos órgãos de vigilância nacionais e ainda falta interesse nesse sentido.
“Eu descubro o que tem na planta, no animal, onde quer que seja, depois eu pego essa molécula e recorto de maneira que eu mantenha a estrutura original, mas que possa ser usada na farmácia”, explica Octávio.
O doutor em bioquímica tem a patente de todas as fórmulas que produz e chegou a ficar perto de ter uma delas transformada em remédio comercial. Segundo ele, a cagaita, matéria-prima até de picolés, tem um potencial antibiótico muito grande e chamou a atenção de uma grande indústria farmacêutica que ele prefere não citar o nome.
A companhia anunciou que investiria no produto, mas depois desistiu, não se sabe o motivo, antes mesmo que os testes começassem.
Mas isso não desanima Octávio, que continua desenvolvendo fórmulas e fazendo novas descobertas. “Hoje meu papel é tentar pegar esses compostos e transformar em algo factível para ser usado realmente a nível comercial”.
Atualmente, ele tenta encontrar alguma substância eficaz contra uma das variações da Klebsiella pneumoniae encontradas recentemente no Paquistão que é resistente contra maioria dos antibióticos disponíveis no mercado.
Descobertas
Joyce Arruda Gaudério ainda está na faculdade, mas já faz parte do grupo de pesquisa encabeçado por Octávio, mas que conta com vários outros professores orientadores. Ela está tentando encontrar potenciais antibióticos nas sementes de pimenta-de-macaco e gravatá, duas plantas típicas do cerrado.
“Nesse projeto, estou na parte de extração e coleta para depois analisar se vai ter alguma ação. As minhas expectativas são que eu tenha alguma ação antibacteriana ou antifúngica para, na pós-graduação, eu melhorar isso e crescer mais nessa área”, diz a estudante.
Breno Emanuel Farias Frihling terminou o mestrado recentemente e agora pleiteia vaga em um programa de doutorado para dar sequência aos estudos sobre potenciais antibióticos do veneno da cobra popularmente conhecida jararaca caiçaca, tipicamente encontrada no Pantanal e Cerrado.
Ele descobriu ação contra a Staphylococcus aureus, “bastante comum e oportunista, porque ela está no corpo de uma forma geral e se manifesta quando o indivíduo apresenta baixa imunidade e causa diversas mortes”.
Os testes foram feitos especificamente nesse micro-organismo e o jovem cientista ainda não sabe se o veneno pode ser eficiente em outros seres. “Com certeza tem um potencial para conseguirmos avaliar atividade em outros patógenos, entre eles fungos, outras bactérias, protozoários e células tumorais. O próximo passo é continuar trabalhando com essa molécula”, conclui.