Por Campo Grande News
Desde 1979, todas as turmas de Medicina, Farmácia, Biologia e Enfermagem que se formaram na UFMS passaram pelos ensinamentos e sorrisos da professora Beth na disciplina de Parasitologia. Prestes a se aposentar, Maria Elizabeth Dorval agora dá nome ao que sempre estudou, um flebotomíneo, que está dentro do grupo de transmissores da leishmaniose.
“Todas as vezes em que alguém capturar este inseto, vai ter que relatar que capturou um exemplar de Elizabethdorvalae”, comemora. A homenagem vem de longe. A espécie foi descoberta no Acre por duas pesquisadoras que têm raízes em Mato Grosso do Sul.
“O pesquisador tem a chance de homenagear quem ele quiser quando descobre alguma coisa. Na literatura científica, todos os seres vivos recebem um nome”, comenta. Uma das pesquisadoras, Eunice Galati, foi professora de Beth no mestrado e a quem ela atribui grande ajuda em sua formação.
“Uma pessoa extremamente dedicada profissionalmente e que no mundo está entre as cinco que mais estudam flebotomíneos e a outra pesquisadora, a Andreia Fernandes, foi uma aluna que eu colaborei como orientanda e me convidou para o trabalho de campo”, explica.
A convite delas, a professora chegou a ir até o Acre participar do trabalho que resultou na descoberta e que agora leva o nome dela em homenagem. “Fiquei lisonjeada, até porque elas justificaram a homenagem pelo meu trabalho com leishmaniose”, conta.
É a primeira vez que a doutora nomeia uma descoberta, mas de homenagens, Maria Elizabeth já soma pelo menos 52 placas ao longo de 38 anos de trabalho.
“Eu digo sempre que as pessoas me veem com os olhos da alma, então eu sou grata a eles e à instituição e para mim significa reconhecimento. Tenho uma gratidão muito grande pelas pessoas que me homenagearam, porque elas refletem para mim o convívio e a possibilidade de crescimento que eu tive com eles”, descreve.
A professora que nunca pensou em dar aula – Foi ainda no último ano da faculdade que Maria Elizabeth recebeu o convite para compor o quadro como professora auxiliar. Estagiária desde o segundo ano, quando descobriu a parasitologia, Beth fez Farmácia porque via como opção pelo ideal que tinha na vida.
“Sempre pensei em ser útil a alguém e conhecendo um pouco do papel do farmacêutico, achei que poderia contribuir não somente na parte de medicamentos, mas também em análises clínicas para auxiliar no diagnóstico”, justifica.
No segundo ano da faculdade é que a disciplina apareceu na grade. “Tinha uma professora, a Vânia Lúcia e nós nos encantamos uma com a outra. Ela foi muito importante na minha formação científica e acadêmica, porque foi ela quem me vislumbrou a possibilidade de ser professora. Nunca me passou pela cabeça”, narra.
O mesmo encantamento que Beth teve, a professora revela também enxergar nos alunos. “Como? muitos me dizem ‘professora, entrei odiando parasito e hoje eu amo’. E é muito bom quando você ouve esse feedback”, admite.
Pioneira no estudo da leishmaniose, ainda na década de 80, um primo de Maria Elizabeth, veterinário em Corumbá, quem percebeu a doença ao observar os cães da cidade. “Ele nos convidou para uma visita e nós íamos uma vez por mês, de trem, levando gaiolas de hamster. Ali foi o início do estudo da leishmaniose em Mato Grosso do Sul”, recorda.
Até hoje, qualquer material para diagnóstico da doença passa pelas mãos e olhos de Beth. A aposentadoria da professora que nunca esqueceu um nome de aluno e dispensava a lista de chamada nas aulas teóricas, já foi pedida e deve sair no segundo semestre do ano. Mas a professora garante que continuará na parte de pós-graduação e pesquisa e com os diagnósticos.
“Em primeiro lugar, porque me encanta a possibilidade de ser útil fazendo o diagnóstico da doença parasitária e podendo contribuir para o desenvolvimento do indivíduo”, resume.