Por Filipe Brasil,
O Brasil pode gerar de 1 milhão a 2,5 milhões de postos de trabalho diretos se alcançar a meta de restaurar 12 milhões de hectares de vegetação nativa até 2030. A conclusão é de um estudo produzido pela Sociedade Brasileira de Restauração Ecológica (Sobre), Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, Aliança Pela Restauração na Amazônia e Coalizão Brasil, Clima, Floresta e Agricultura.
O compromisso para recuperação de, pelo menos, 12 milhões de hectares de vegetação nativa no território brasileiro foi assumido pelo Governo Federal em 2017, por meio do Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg).
De acordo com pesquisa publicada na revista britânica People and Nature, as atividades que envolvem a restauração florestal têm capacidade de gerar um emprego a cada 2 hectares restaurados, que equivalem a dois campos de futebol.
O pesquisador Rafael Chaves, um dos coordenadores do projeto e especialista ambiental da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo, destaca que, para chegar a esse resultado, foram considerados apenas os postos criados a partir da chamada restauração ativa – gerada pela ação humana.
O estudo abrange atividades como a coleta de sementes, produção de mudas, plantio e manutenção das áreas restauradas e serviços técnicos, como consultoria, elaboração de projetos e monitoramento.
Os resultados da pesquisa mostram que, hoje, aproximadamente um terço dos empregos é aberto por empresas especializadas em plantio/manutenção e serviços em geral, ligados à restauração. O levantamento mostra ainda a geração de postos de trabalho atual, divididos por cada região:
- Norte – 646
- Nordeste – 1.041
- Centro-Oeste – 612
- Sudeste – 5.026
- Sul – 884
Concentração dos esforços
O levantamento também mostrou que, atualmente, 61% dos trabalhos de restauração estão concentrados na região Sudeste, sendo um terço no estado de São Paulo. Outro dado mostra que a maioria dos empregos ligados ao setor (85%) envolve a Mata Atlântica – bioma pioneiro em atividades de recuperação no país.
De acordo com o pesquisador Rafael Chaves, a concentração no Sudeste acontece porque os estados da região têm uma situação econômica superior.
“Essa disparidade tem maior relação com o Produto Interno Bruto (PIB) dos estados do que propriamente com o déficit de vegetação nativa nesses locais, que é a quantidade de área que a legislação exige que seja restaurada. E isso é importante, porque os biomas e as regiões com maior déficit de vegetação vão precisar de uma atenção maior de investimentos para reverter esse quadro, especialmente na próxima década, que é a década de restauração de ecossistemas”, afirma o especialista.
Para o pesquisador Pedro Brancalion, professor da Universidade de São Paulo, que também coordenou a pesquisa, o levantamento aponta as possibilidades de transformar a restauração florestal em uma atividade econômica de larga escala.
“Os resultados positivos que podem advir das atividades econômicas da cadeia da restauração dependem de compromissos de financiamento de longo prazo, que estejam equitativamente distribuídos entre regiões e biomas brasileiros. Além disso, vale destacar que a restauração de ecossistemas é uma atividade econômica emergente com potencial de geração de empregos e renda, principalmente em organizações locais”, afirma o engenheiro agrônomo.
A elaboração do estudo teve apoio de instituições com agenda de restauração no Brasil, como The Nature Conservancy (TNC) Brasil e World Resources Institute (WRI) Brasil.
Metas de restauração florestal no país
A meta do governo de restaurar pelo menos 12 milhões de hectares se baseia em uma análise do déficit de vegetação nativa relacionado ao cumprimento da Lei 12.651, de 2012, que dispõe sobre a proteção da vegetação nativa no país.
O plano detalha as metas de restauração para cada bioma (em hectares):
- Mata Atlântica – 4,75 milhões (38%)
- Amazônia – 4,8 milhões (38%)
- Cerrado – 2,1 milhões (17%)
- Caatinga – 500 mil (4%)
- Pampa – 300 mil (2%)
- Pantanal – 50 mil (1%)