Por Talita Oliveira e Luciana Vicente
Na Paisagem Modelo Pantanal, os Sistemas Agroflorestais (SAFs) vêm se consolidando como uma estratégia para o fortalecimento da agricultura familiar no Assentamento Rural 72, em Ladário (MS). Ao integrar árvores nativas e cultivos agrícolas em um mesmo espaço, os SAFs promovem a diversificação da produção, melhoram a qualidade do solo e tornam o uso dos recursos naturais mais eficiente.
A presença de espécies arbóreas nos sistemas contribui para a captura de carbono, a redução das emissões de gases de efeito estufa e a regulação do microclima local. Além disso, protege os cultivos contra extremos de temperatura, vento e estiagem, e favorece a ciclagem e a mobilidade de nutrientes no solo.
Desde o início da implementação dos Sistemas Agroflorestais (SAFs) em 2024, atualmente com 13 unidades ativas, um programa de monitoramento participativo vem sendo conduzido para garantir a manutenção e o bom desempenho dos sistemas. Esse processo tem gerado aprendizados valiosos, a partir da observação direta dos desafios enfrentados e das soluções adotadas em campo.
Entre os principais obstáculos identificados, destacam-se o ataque de formigas cortadeiras (Atta spp.) e de cupins, além de problemas operacionais como o entupimento das mangueiras de irrigação, causado pelo alto teor de carbonato de cálcio presente na água da região. No entanto, observou-se que a alta densidade e diversidade de espécies nos SAFs contribuem para mitigar as perdas associadas às formigas, reduzindo seu impacto sobre o sistema como um todo. Já no caso dos cupins, a introdução de sistemas de irrigação tem ajudado a diminuir significativamente sua incidência, ao favorecer o equilíbrio da umidade do solo.
A adoção de sistemas de irrigação movidos a energia solar se mostrou especialmente eficaz diante da intensificação dos períodos de seca. Essa tecnologia tem desempenhado um papel fundamental tanto na sobrevivência das mudas quanto na segurança hídrica dos SAFs, além de reduzir os custos de produção, já que elimina a necessidade de consumo de energia elétrica para a irrigação. Trata-se de uma solução de baixo impacto ambiental, alinhada aos princípios da sustentabilidade produtiva.
Outro aprendizado importante tem sido a identificação das espécies nativas e cultivadas que melhor se adaptam às condições locais e apresentam melhor desempenho nos SAFs. As famílias envolvidas no projeto têm ampliado a produção de alimentos como banana, mandioca, mamão e hortaliças, fortalecendo a segurança alimentar e econômica. Esse aumento da produtividade também tem contribuído para reduzir a sensação de insegurança em relação à produção agrícola, reforçando o potencial dos SAFs como estratégia de resiliência frente às mudanças climáticas.
O sucesso na implementação dos SAFs e a vontade de ampliar os sistemas pelas famílias motivou a construção um viveiro de mudas no Assentamento Rural 72, com capacidade de produção entre 8 e 10 mil mudas de espécies nativas e frutíferas, além de 11 mil mudas de hortaliças a cada 20 dias. O viveiro poderá contribuir para a restauração ecológica, a autonomia produtiva das famílias e a geração de renda por meio da venda de mudas.
Além do monitoramento dos SAFs as famílias também participaram de uma oficina prática de manejo dos SAFs, que reuniu 18 participantes em uma série de mutirões. Durante oito dias, foram realizadas podas, adubação e outras atividades, promovendo não apenas o aprendizado técnico, mas também o reencontro entre vizinhos para troca de saberes e o fortalecimento dos laços comunitários.