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Teles querem financiamento do BNDES para alavancar 5G nas empresas

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Foto: Sérgio Lima/PODER 360

Por Julio Wiziack, Folha de São Paulo

As operadoras de telefonia defendem que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) crie linhas especiais para financiar companhias interessadas em modernizar seu sistema produtivo com a tecnologia de telefonia 5G –a chamada indústria 4.0.

Hoje, apenas grandes grupos, principalmente da indústria e do agronegócio, testam a quinta geração. Nas montadoras, que já dispõem de um nível de automação elevado, o 5G tornará as cadeias de fornecedores mais integradas, ajustando a produção ao número de pedidos no mercado –o que evitaria superlotação dos pátios.

No campo, por exemplo, grandes empresas como Bom Futuro e SLC Agrícola já conectaram o maquinário pela rede de internet de altíssima velocidade para a troca de informações, em tempo real, sobre pragas, condições do clima e do solo, além de consumo de insumos. Isso foi feito a partir da instalação de infraestrutura exclusiva pelas operadoras para essas empresas.

A avaliação é que isso permite melhorar resultados e reduzir custos de produção.

Pelo interior do país e em áreas afastadas dos centros urbanos, as teles fecham contratos de parceria por meio dos quais ficam donas das antenas, mas todo o investimento na obra e nos equipamentos é pago pelo cliente.

As operadoras avaliam que, para acelerar essa expansão, o BNDES —sob o novo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT)— deveria financiar tais projetos. Argumentam que a tecnologia 5G é, primordialmente, uma ferramenta para o mercado corporativo.

Para os consumidores em geral, a quinta geração só fará diferença significativa quando a nova safra de aplicativos chegar ao mercado –como telemedicina, educação à distância ou realidade aumentada. Até lá, a percepção do serviço será apenas de uma conexão um pouco mais rápida para os usuários.

Oficialmente, as teles ainda não discutiram o assunto com o futuro presidente do BNDES, Aloizio Mercadante.

Esperam o início do governo para dar sequência ao pleito. Dizem que querem aproveitar a oportunidade, já que Lula delegou a Mercadante a tarefa de usar o BNDES para fomentar a reindustrialização do país, e o 5G seria uma das formas de modernizar as plantas industriais.

Para Marcos Ferrari, presidente da Conexis, associação que representa as operadoras desde 2013, o país vive uma estagnação econômica com perda de competitividade —com exceção do agronegócio. “A quinta geração pode ser um elemento decisivo para a modernização produtiva, mas os setores não têm incentivos para adotá-la”, diz Ferrari.

“O novo Mdic [Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços] pode criar uma política de incentivo à digitalização produtiva e o BNDES, linhas incentivadas para a modernização.”

Projeções feitas pela Omdia, consultoria especializada em telecomunicações, indicam que o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil poderá aumentar US$ 1,2 trilhão (R$ 6,3 trilhões) até 2030, caso a tecnologia seja totalmente implementada no país.

Por setores, esse aumento do PIB deve ser maior nas áreas de tecnologia (R$ 1,3 trilhão), governo e manufatura (R$ 1 trilhão cada), serviços (R$ 800 bilhões), varejo (R$ 465 bilhões), agricultura (R$ 407 bilhões) e mineração (R$ 257 bilhões).

CONSUMIDOR FINAL

Para os consumidores, a previsão é que o 5G estará funcionando em cerca de 50 cidades com mais de 500 mil habitantes até o fim de janeiro de 2023. A Anatel já deu sinal verde para que as teles instalem a infraestrutura para exploração comercial. Juntos, esses municípios concentram 32% da população nacional.

Com quase um terço da população coberta com o sinal, a indústria de aparelhos já ganha escala para trazer mais modelos, especialmente aqueles que conversam com as redes de 5G mais modernas.

Até o fim de 2022, havia entraves para que grandes fabricantes –como Apple, Nokia, Samsung e Ericsson– comercializassem aparelhos aptos a funcionar na rede 5G standalone –o chamado 5G puro. A Apple só liberou a atualização do software do iPhone para o sistema standalone em novembro.

Enquanto a popularização dos telefones 5G não ocorre, as operadoras vão prestando o serviço por meio do 5G non-standalone, que funciona com velocidade de 5G, mas com um tempo de resposta maior que 1 milissegundo entre a antena e os aparelhos.

Tecnicamente, o 5G só funciona em sua plenitude nas redes “puras”. No entanto, essa infraestrutura exige muito mais investimento.

Para garantir esse padrão, as operadoras precisam instalar até dez vezes mais antenas de 5G para manter a cobertura em altíssima velocidade (até dez vezes mais rápida que a do 4G).

Embora a legislação federal tenha facilitado a construção dessas redes nas cidades, muitos municípios ainda resistem à modernização de suas leis locais. O tempo de espera em algumas capitais, segundo as operadoras, passa de quatro meses. Há casos em que a prefeitura analisa o pedido de instalação de antenas há mais de um ano.

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