Texto originalmente publicado em: 13/01/10
A partir de 1º de fevereiro, a mistura do álcool na gasolina cairá de 25% para 20%, anunciou ontem o governo, tentando conter a elevação dos preços do etanol e assegurar a oferta do produto. Em compensação, é bom se preparar para valores mais altos do derivado de petróleo nas bombas.
Zero Hora destaca perguntas e respostas para o consumidor entender quais são as principais mudanças a partir da decisão do governo federal.
Qual será o impacto na gasolina?
Presidente do Sindicato do ComércioVarejista de Derivados de Petróleo do Estado de São Paulo (Sincopetro-SP), José Paiva Gouveia avisa que a redução na mistura vai elevar o preço do derivado nas bombas. Isso será resultado do fato de que o etanol retirado terá de ser preenchido com mais gasolina, o que deve gerar um impacto para o consumidor entre R$ 0,08 e R$ 0,10 por litro.
O carro pode ter queda de rendimento?
O mecânico Ivan Hoerlle explica que não. Apesar de o álcool ter poder de detonação maior do que a gasolina, o motorista não deverá sentir nenhuma diferença ao dirigir. Carros mais antigos, apenas a gasolina, já foram projetados para funcionar com uma octanagem mais baixa, explica Hoerlle. E os veículos novos, com tecnologia flex, estão mais protegidos ainda: os sistemas eletrônicos adaptam o motor a qualquer tipo de mistura entre gasolina e etanol.
O etanol misturado à gasolina é o mesmo dos carros flex?
A matéria-prima é a mesma. O misturado na gasolina é chamado de anidro, que quer dizer sem água, justamente para facilitar a mistura. O usado nos carros flex ou a álcool é o hidratado, que significa com mais água. Mas como tudo vem da mesma fonte, a expectativa é que sobre mais etanol e o preço caia.
É bom atentar à qualidade do combustível. É ilegal acrescentar mais álcool do que o autorizado à gasolina e mais água ao etanol hidratado.
Por que a proporção de etanol será reduzida?
Porque o preço do etanol está subindo, pressionado pela alta dos preços da entressafra da cana-de-açúcar. Com a redução, o governo quer colocar mais etanol no mercado e conter esse aumento com oferta maior. Outro temor do governo é em relação ao desabastecimento, que, emboranegado por integrantes do setor, é admitido por especialistas.
Qual é o sentido?
Se ao reduzir etanol na mistura da gasolina, o valor do derivado do petróleo na bomba vai subir, parece incoerente por parte do governo alegar intenção de baixar os preços. No entanto, na mira do Planalto estão dois objetivos: tentar baratear o álcool hidratado, usado na maioria dos carros novos que chegam ao mercado, e evitar um aumento da gasolina em ano eleitoral. Como a cotação do petróleo vem subindo no mercado externo, a Petrobras está com margens de lucro menores e, para aumentá-las, teria de reajustar a gasolina.
Por que o álcool subiu?
A forte chuva fez a cana colhida desde abril no Sudeste ter menor quantidade de açúcar. Assim, mesmo com mais cana, os usineiros produziram menos álcool. Mais de 90% dos novos carros vendidos hoje são bicombustíveis. No ano passado saiu das montadoras um recorde de 3,14 milhões de veículos novos. Assim, o consumo só aumenta. A Índia elevou o consumo de açúcar, fazendo com que usineiros direcionem mais produção para a exportação de açúcar, mantendo menos álcool no mercado.