“Desmatar o Cerrado é fechar a torneira da água”, alerta Mercedes Bustamante, uma das maiores especialistas nesse bioma, cientista do IPCC da ONU e professora titular do Departamento de Ecologia da UnB. Em conversa com Daniela Chiaretti, no Valor, ela explica que o bioma é como uma floresta de cabeça para baixo, fundamental para 8 das 12 bacias hidrográficas do país, e é taxativa: toda decisão sobre uso da terra é uma decisão sobre o uso da água. Por isso, ela recomenda sair da discussão de desmatamento legal ou ilegal e entrar na discussão de como evitar o desmatamento.
A julgar pelo andamento dos debates na União Europeia, o Brasil se verá obrigado a abandonar esta dicotomia retórica: o bloco avalia expandir para o Cerrado sua proposta de proibição da importação de carne bovina, soja, café e outros produtos de áreas de desmatamento e degradação florestal.
A sinalização foi dada nesta semana em reunião de ministros da Agricultura dos 27 países-membros do bloco com o comissário europeu do Meio Ambiente, Virginijus Sinkevicius: “Estimamos que a proposta [em estudo pela UE] deverá contribuir para a proteção de cerca de dois terços da área de vegetação nativa remanescente no bioma Cerrado”, declarou Sinkevicius.
Ao Valor a assessoria de Sinkevicius explicou que por “área remanescente de vegetação nativa do Cerrado” entende-se a área desse bioma que ainda não foi transformada em pastagem, agricultura, infraestrutura e em outros empreendimentos em data anterior a 2020.