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Busca por crédito na infraestrutura cai 58% até outubro no BNDES

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Foto: Uol Economia

Em um quadro de queda quase que geral nas operações de desembolsos e também nos pedidos de consultas feitos ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), os sinais de uma volta do apetite por financiamento ainda não estão muito claros. Em infraestrutura, que responde por 40% de tudo o que é liberado pelo banco de fomento, a queda nos pedidos de consultas – um termômetro relevante do interesse por novos investimentos – se aprofundou: era de 57% no primeiro semestre e chega a 58% no ano até outubro. No geral, segundo dados divulgados ontem pelo BNDES, os desembolsos feitos até outubro caíram 28% para um total de R$ 105,5 bilhões. Já as consultas em igual período recuaram 46% totalizando R$ 108,6 bilhões.

Os números indicam que a previsão feita pelo presidente do banco, Luciano Coutinho, em junho, não deve se cumprir. Em entrevista ao Valor, Coutinho esperava queda de 10% para os desembolsos totais em 2015. “Vamos fechar o ano com queda do desembolso acima disso”, diz Claudio Leal, superintendente da área de planejamento do BNDES, que credita o recuo especialmente ao adiamento das decisões de grandes projetos. “O ano de 2015 é muito difícil, muito difícil mesmo”, diz ele.

Ainda assim, Leal avalia que a curva das consultas pode ser retomada em 2016, uma vez destravadas questões políticas e regulatórias. “Não acho que essa reviravolta vá acontecer facilmente, mas é possível”, diz. Para isso, ele conta com uma melhor “adequação” de leilões previstos em setores como rodovias e energia, e vê efeitos positivos de medidas como a estruturação de fundos de Parcerias Público-Privadas (PPPs), com garantias. Como se tratam de projetos de maior envergadura, no entanto, os desembolsos referentes a eles só devem aparecer em 2017 e 2018.

Segundo Leal, não seria demais imaginar também que o banco pode recalibrar suas políticas para, eventualmente, retomar condições diferenciadas de apoio ao financiamento. Ele lembra que todo fim de ano o banco revê condições de financiamento operacionais, verificando se estão adequadas às perspectivas de investimento. “Posso dizer que vamos rever todas as linhas. Não estou dizendo que vamos mudar, mas vamos revisitar linhas de apoio a ônibus e caminhões, infraestrutura, indústria, etc”, afirma.

Para Claudio Leal, do BNDES, não seria demais imaginar que o banco pode retomar condições de financiamento diferenciadas. Foto: Flavia LIma
Para Claudio Leal, do BNDES, não seria demais imaginar que o banco pode retomar condições de financiamento diferenciadas. Foto: Flavia LIma

Em paralelo, o superintendente ressalta que a prorrogação do prazo do envio de propostas feitas no âmbito do PSI até 27 de novembro deve dar uma nova dimensão acerca da demanda real por máquinas e equipamentos, segmentos que têm alto poder de sinalizar atividade econômica na indústria. Leal não descarta ainda a possibilidade de que o prazo mais amplo para o PSI tenha impactos sobre desembolsos ainda em 2015, já que as operações desse tipo são rápidas e com prazos de desembolsos muito curtos. “Isso porque uma vez fechado o protocolo dia 27 e tendo a decisão se vai ser necessário suplementar ou não [o programa], é só aprovar e liberar”, diz.

Leal diz também que mesmo diante de um boletim de desempenho de operações “todo vermelho”, há pequenas boas notícias. Do total desembolsado até outubro, por exemplo, 30% foram destinados às micro, pequenas e médias empresas – R$ 31,4 bilhões distribuídos em cerca de 780 mil operações de financiamento. Somente no cartão BNDES, instrumento de crédito voltado especificamente a esse grupo, os desembolsos totalizaram R$ 9,6 bilhões, com alta de 4% em relação a igual período de 2014. “É o único produto do banco que está crescendo”.

As liberações para os segmentos da chamada “economia verde” também registraram alta este ano, de 10,7%, totalizando R$ 23 bilhões. Nesta rubrica, estão projetos relacionados a energia renovável, eficiência energética, produção florestal, modais de transporte híbrido e elétricos, saneamento e melhorias agrícolas.

Nos primeiros dez meses do ano, o banco manteve ainda sua política de desconcentração do crédito, também em termos de distribuição regional. Do total desembolsado no período, R$ 25,3 bilhões (24%) foram destinados ao Norte e Nordeste. Em igual período do ano passado, as duas regiões haviam recebido 21% do total.

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Fonte: Flavia Lima e Rodrigo Polito – Valor Econômico

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