A Paisagem Modelo tem em sua essência a pesquisa e o incentivo à ciência. Dentro da Paisagem Modelo Pantanal ocorrem quatro pesquisas de mestrado até o momento. Os estudos em andamento auxiliam a aprimorar as ações dentro do território para assim atender as demandas socioambientais da região.
O coordenador do Projeto Restauracción na Paisagem Modelo Pantanal, André Nunes reforça a importância das pesquisas da plataforma social. “É fundamental termos esse tipo de parceria porque essas alunas, além de estarem sendo treinadas, contribuem para que a gente possa olhar para questões que muitas vezes não temos condições de executar. Por exemplo, temos uma aluna aqui do Brasil que está olhando questões de saúde única. Os projetos ajudam a enxergar alguns problemas e somam para uma melhor estruturação do território”.
Atualmente há quatro pesquisas no território da Paisagem Modelo Pantanal.
- Fluxo de informações de governança na Paisagem Modelo;
- Segurança fundiária e uso da terra;
- Bem-estar da comunidade e a conservação;
- Saúde única e riscos de doenças zoonóticas;
Confira mais sobre as pesquisas em andamento:
Fluxo de informações de governança na Paisagem Modelo – Jéssica Escossia
Jéssica Schlosser é brasileira, formada em Biologia e mestranda em Manejo e Conservação de Florestas Tropicais e Biodiversidade no Centro Agronômico Tropical de Pesquisa e Ensino (CATIE), na Costa Rica. A pesquisa que Jéssica desenvolve está relacionada com a governança e tem a Paisagem Modelo Pantanal como objeto de estudo.
“Minha pesquisa de mestrado está focada no estudo do fluxo de informação relacionada ao impacto do fogo na biodiversidade da Paisagem Modelo Pantanal”. A ideia então é estudar como a informação transita entre os geradores de informação e os tomadores de decisão, para assim aprimorar essa tomada de decisão.
“Então minha pesquisa está relacionada aos estudos de governança e em como a governança desempenha um papel crucial dentro da Paisagem Modelo Pantanal. Ela envolve a coordenação e a gestão eficaz das partes interessadas, a definição de políticas adequadas e a implementação de ações coordenadas para a conservação e o manejo sustentável da região. Além disso, uma boa governança pode ajudar a garantir a proteção da biodiversidade e a toma de decisões informadas em relação ao uso da terra e dos recursos naturais na Paisagem Modelo”, explica Jéssica.
O Projeto Restauracción, executado na Paisagem Modelo Pantanal, viabilizou a parceria com o CATIE que possibilitou a ida da mestranda para a Costa Rica. Jésssica relata que a estadia no CATIE tem sido uma boa experiência, além disso o local proporciona uma riqueza natural vasta e uma ampla troca cultural. “Me impressionou desde o começo a beleza natural de Costa Rica. É um país muito bonito. Estou aprendendo bastante sobre a cultura local, os costumes e sobre as comunidades tradicionais. Além disso, também tenho a oportunidade de compartilhar essa experiência, essa vivência com outras pessoas do mestrado de 14 nacionalidades diferentes”.
A intenção é que a pesquisadora retorne à Paisagem Modelo Pantanal para coletar dados e dar continuidade à sua pesquisa. “Eu estou bem empolgada para aplicar os conhecimentos que estou adquirindo aqui na minha pesquisa. Acredito que isso pode contribuir para uma melhor compreensão e gestão das questões relacionadas à biodiversidade e conservação”, reforça Jéssica.
Pesquisa sobre segurança fundiária – Nina Churchill
Nina Churchill é britânica, mestranda na Universidade de Londres (University College London – UCL) e está pesquisando sobre segurança fundiária, práticas de subsistência e conservação na Área de Proteção Ambiental Baía Negra, em Ladário (MS).
A pesquisadora quer entender como os moradores podem acessar e utilizar a terra e como isso afeta suas práticas de subsistência. “Acho que a forte posse da terra leva à redução da pobreza, bem como ao uso sustentável da terra, porque evita a grilagem e o deslocamento. Quero entender como as comunidades rurais veem a conservação e a sustentabilidade e se esses conceitos são entendidos como um benefício ou uma barreira para seus meios de subsistência”, explica Nina.
A pesquisa de Nina auxilia a entender os anseios e necessidades das comunidades locais em projetos de conservação, além de entender a como a posse da terra impacta as práticas de conservação.
Nina é uma das pesquisadoras britânicas que estiveram no Pantanal, por meio do Projeto Restauracción, e relata que seu experiência com a maior planície alagável do mundo foi rica. “O Pantanal é tão bonito e rico em vida selvagem, é o que eu imagino que existiu em tempos pré-históricos e evoca o ambiente evasivo ‘intocado’ pelo qual conservacionistas e antropólogos são obcecados. Mas a paisagem é muito povoada e moldada pela atividade humana e, portanto, é extremamente importante que a pesquisa trabalhe em estreita colaboração com a população local para atingir os objetivos de sustentabilidade”, relata a mestranda.
Relação entre comunidade e restauração de paisagens – Alexandra Ballinger
Alexandra Ballinger também é mestranda na Universidade de Londres (UCL). A pesquisadora explora a relação entre o bem-estar da comunidade e os objetivos de restauração. “Especificamente, como a restauração pode melhorar os serviços ecossistêmicos para a comunidade e como o bem-estar da comunidade pode influenciar a participação na restauração e a tomada de decisões no projeto”, explica Alexandra.
A mestranda está interessada em entender como as comunidades podem impactar na restauração e vice-versa, considerando ainda o grande interesse mundial na restauração ambiental, a exemplo da Década da Restauração instituída pela Organização das Nações Unidas.
“Eu estava interessada em saber com que frequência os objetivos sociais e ecológicos são considerados separadamente na conservação, apesar de frequentemente estarem vinculados, e queria explorar esse vínculo”, explica Alexandra.
O estudo de Ballinger tem como objetivo demonstrar a relação entre restauração e bem-estar da comunidade local para assim enfatizar a importância de incorporar as comunidades na conservação. “[A pesquisa] ajudará a identificar os fatores que influenciam a sustentabilidade e a longevidade da restauração no Pantanal. Isso é particularmente relevante depois que os incêndios de 2020 deixaram muitas áreas no Pantanal alvo de restauração”, reforça a pesquisadora.
Pesquisa sobre saúde única – Giulia Armani Araujo
Giulia Armani Araujo é brasileira, formada em medicina veterinária e mestranda em Ecologia e Conservação na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Sua pesquisa está voltada para a saúde única. A coleta de dados que tem feito na Paisagem Modelo tem como objetivo estudar as interações entre o homem, animal doméstico e selvagem que coloca moradores em risco de doenças zoonóticas.
“Tenho identificado que as pessoas não têm tanta noção dos riscos que elas correm. Noção de contaminação mesmo. Uma das perguntas é se a pessoa acha que corre o risco de contrair algo se manipular um animal com uma ferida e tem bastante gente que acha que não”, explica Giulia.
A coleta de dados é realizada por meio de questionários divididos em seções: demográfica (para entender o perfil dos moradores); renda; fogo (para entender se os animais se aproximaram com os incêndios); e contato com animais (coleta de informações sobre os animais criados na propriedade e como é o manejo).
Giulia explica que “a fragmentação de habitats pode contribuir para o aumento de zoonoses. A gente tem três tipos de saúde: ambiental, animal e humana. Se alguma coisa desequilibra começa a proliferação de doença. Se eu degrado um ambiente e os animais debandam para outro local, as pessoas podem interagir mais com esses animais e potencialmente pode surgir uma doença”.
