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Castanha do Cerrado rumo à Dinamarca: cooperação internacional impulsiona projeto com famílias produtoras de baru no Ceppec

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Nos dias 23, 24 e 25 de junho, representantes da organização Bosques del Mundo (BdM), da Bolívia, estiveram em Mato Grosso do Sul para uma série de atividades no âmbito do projeto “Nuez de barú de familias locales del Cerrado brasileño a consumidores daneses”. A iniciativa visa fortalecer a cadeia do baru, com foco em produção sustentável, geração de renda para famílias extrativistas e abertura de novos mercados internacionais.

A visita técnica teve como principal ponto de encontro a sede do Ceppec (Centro de Produção Pesquisa e Capacitação do Cerrado), em Nioaque (MS), parceiro comercial do projeto. Também foram realizadas reuniões estratégicas com a equipe da Ecoa, em Campo Grande. Participaram da missão Jancarla Ribera (representante do escritório sul-americano do BdM), Maria Elena Burgos (assessora financeira e administrativa), Javier Bejarano (assessor florestal) e Erwin Pardo (assessor em monitoramento florestal).

Um novo modelo de parceria

A presidenta da Ecoa e coordenadora do projeto, Nathalia Ziolkowski, destaca o caráter inovador dessa experiência:

“O Ceppec, que historicamente é um beneficiário das nossas propostas, nessa iniciativa passa a ser parceiro comercial direto dentro do projeto junto com a empresa da Dinamarca, e com isso passa a assumir novas responsabilidades que refletem seu desenvolvimento e suas capacidades”.

Nathalia Eberhardt Ziolkowski, presidenta da Ecoa

De acordo com Nathalia, o novo formato proposto busca fortalecer a estrutura produtiva e institucional do Ceppec para fazer a castanha de baru ascender ao novo mercado que se pretende estabelecer na Europa a partir da Dinamarca.

A proposta conta com a parceria técnica da Ecoa e da Bosques del Mundo, com um ambicioso e necessário objetivo: fortalecer a produção e organização comunitária em torno da castanha de baru, preparando os elos locais da cadeia para atender critérios de exportação, rastreabilidade, certificação orgânica e sustentabilidade socioambiental – ao mesmo tempo em que se articula, do lado europeu, a abertura de mercado e o reconhecimento do baru como novo alimento.

Ceppec: agroextrativismo sustentável e raiz comunitária

Reconhecido por sua atuação há duas décadas na região de Nioaque, o Ceppec mobiliza famílias de extrativistas que coletam, beneficiam e armazenam o baru com práticas sustentáveis.

O baru do Ceppec é um produto que apoia o ambiente. O agroextrativismo sustentável praticado pelos colaboradores e pelas colaboradoras da associação seguem critérios como não bater no pé de baru para derrubar frutos e deixar ao menos 30% no chão para alimentação da fauna silvestre. Trata-se de uma proposta que não se orienta pela lógica da oferta e demanda do mercado convencional, mas pela oferta da natureza e pelo respeito ao tempo e ao equilíbrio da natureza.

Rosana Sampaio (Preta) – Ceppec

Além disso, a proposta do Ceppec se diferencia por ser livre de venenos e pautada pela alimentação saudável, conectando a conservação ambiental com a promoção da saúde coletiva.

Rosana Sampaio, uma das fundadoras do Ceppec, explica que na associação as decisões são tomadas ouvindo as famílias, articulando, mobilizando, explicando e envolvendo:

“A gente sempre teve muito cuidado em como conduzir essa forma de trabalho, porque a gente quer construir um modelo onde tudo isso que a gente sonha possa se concretizar”.

Ciência cidadã: tecnologia e saber local na conservação

Outro pilar do projeto é o uso da ciência cidadã como ferramenta de monitoramento e envolvimento comunitário. Com o uso de celulares e plataformas digitais – manuseadas pelas próprias pessoas que coletam – será possível obter dados georreferenciados sobre floração e frutificação do baru, áreas reflorestadas, desmatamento, queimadas e até erosões.

“A proposta é envolver as pessoas nas tomadas de decisões”, afirma Erwin Pardo, assessor em monitoramento florestal da BdM. Como? Mostrando que as comunidades também produzem ciência e dados relevantes para políticas públicas que ajudem a proteger seus territórios.

A ciência cidadã também ajuda a mensurar impactos positivos do projeto, como aumento do sequestro de carbono, manutenção e recuperação de corpos hídricos, preservação de fauna e resiliência climática.

Saberes e afetos da terra

Em paralelo às atividades técnicas, a visita possibilitou trocas culturais ricas. A convite de Maria José, colaboradora do Ceppec, o grupo participou de uma festa junina, com reza de terço, paçoca de baru, fogueira e pratos típicos, aproximando ainda mais os visitantes bolivianos das famílias locais.

Outro ponto alto da imersão foi a visita ao lote de Eliane Sanches, vice-presidenta do Ceppec. Lá, o grupo pôde conhecer de perto os pés de baru e café cultivados por ela na área de 19 hectares, além do espaço onde quebra os frutos com o marido.

“Eu e meu esposo pegando um baru bom, assim não muito pequeno, a gente consegue tirar 10 quilos de baru em um dia”

Eliane Sanches – Vice-presidenta do Ceppec

Com uma verdadeira aula de quebra de baru Eliane mostrou como conservação da biodiversidade e geração de renda se conectam: segundo ela, na época da colheita, a renda extra da família com a venda da castanha do Cerrado chega a R$ 2 mil.

📷 Confira as imagens:

Dia 1

Dia 2

Dia 3

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