A cadeia de produtos florestais envolve todas as etapas que conectam a floresta ao consumidor — desde a coleta e o manejo sustentável até o beneficiamento, a comercialização e o consumo. Esses produtos podem ser madeireiros, como toras e madeira serrada, ou não madeireiros, como frutos, sementes, óleos, resinas, fibras, plantas medicinais e mel.
Essa cadeia une saberes tradicionais e tecnologias apropriadas, articulando extrativistas, comunidades locais, cooperativas e mercados consumidores. Quando bem estruturada, ela se torna um instrumento poderoso de conservação dos ecossistemas, geração de renda e fortalecimento da autonomia das comunidades que vivem da floresta.
O manejo sustentável é o alicerce desse processo. Ele assegura a regeneração dos recursos naturais e mantém os serviços ecossistêmicos essenciais, como a regulação climática, a conservação da biodiversidade e a proteção do solo e da água.
Para fortalecer esse potencial na Paisagem Modelo Pantanal, foi realizado um diagnóstico participativo com 22 participantes — 15 mulheres e 7 homens — voltado à reorganização da cadeia produtiva da bocaiúva (Acrocomia aculeata). Os frutos dessa palmeira, abundante na região, podem ser consumidos in natura, transformados em polpa ou farinha e utilizados em diversos preparos culinários.
Durante a oficina, as comunidades identificaram pontos fortes, desafios e oportunidades da cadeia produtiva. Entre as fortalezas, destacam-se as capacitações já realizadas, o uso de resíduos para alimentação animal, o reconhecimento da qualidade dos produtos e a existência de boas matrizes frutíferas. Entre os desafios, aparecem a carência de formação técnica em um dos assentamentos rurais, riscos na coleta, infraestrutura precária, dificuldades de transporte, baixa produção, falta de capital e ausência de sucessão produtiva.
A comercialização ocorre de forma diversificada: porta a porta, por encomenda, em feiras e eventos, além de canais com atacadistas artesanais. O transporte é feito, em geral, por meio de carro próprio ou transporte público, e o preço médio da polpa seca varia entre R$ 25,00 e R$ 30,00 por quilo.
O fluxo produtivo da bocaiúva inclui etapas de coleta, lavagem, secagem (em até três fases), descasque, despolpamento e embalagem. Desses processos resultam produtos como polpa fresca, polpa seca e farinha, além de uma ampla variedade de subprodutos, entre eles fibra, óleo, castanha, geladinho, pudim, pão, geleia, bolo e rapadura.
Entre as oportunidades internas, estão a cooperação entre comunidades tradicionais e assentamentos rurais, o fortalecimento associativo e a formação de novos participantes. Já entre as oportunidades externas, destacam-se o acesso a mercados institucionais, o aproveitamento do potencial nutricional dos produtos e a mitigação dos riscos impostos pelos atravessadores.
Também foram apontadas novas frentes de ação, como o mapeamento de quintais com espécies nativas, o desenvolvimento de viveiros de mudas e a implantação de corredores ecológicos, que conectam a restauração ambiental ao fortalecimento produtivo.
Em síntese, a cadeia produtiva da bocaiúva na Paisagem Modelo Pantanal enfrenta desafios estruturais e organizacionais, mas apresenta um cenário promissor. A articulação comunitária é uma base sólida para a reestruturação produtiva e institucional — desde que acompanhada por formações contínuas, fortalecimento das associações locais e melhoria das condições de trabalho.