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Impactos da seca de 2025 na Bacia do Paraná: cidades, agricultura, pecuária e energia

16 minutos de leitura
Localização da Bacia do rio Paraná na América do Sul. Mapa desenvolvido pela Ecoa.

Índice

  1. Introdução
  2. Apresentação da crise hídrica de 2025
  3. Bacia do Paraná no Brasil
    • Abrangência territorial
    • Importância econômica e populacional
  4. Situação das chuvas e influência do fenômeno La Niña
  5. Estado de São Paulo
    • Área metropolitana da capital
    • Níveis dos reservatórios e histórico de crises
    • Perdas na rede de distribuição de água
    • Outras cidades (Bauru, Ribeirão Preto)
    • Aquífero Guarani
  6. Estado do Paraná
    • Monitoramento ambiental e evolução da seca
  7. Minas Gerais
    • Vazão do rio Uberaba e emergência no abastecimento
  8. Mato Grosso do Sul
    • Sub-bacias e rios em situação crítica
    • Secas recorrentes no rio da Prata
  9. Argentina
    • Baixa do rio Paraná e previsões
    • Situação do rio da Prata
  10. Impactos na produção agrícola
    • Falta de manga na Argentina
    • Produção de limão em São Paulo
  11. Impactos na pecuária
    • Redução da produção de leite no Brasil
    • Mortalidade de gado na Argentina
  12. Energia elétrica
    • Crise hídrica e geração hidrelétrica
    • Relação com secas globais e estudo da NASA

Introdução

Este novo texto sobre seca na bacia do rio Paraná é resultado do monitoramento que faço regularmente sobre os eventos extremos no território da bacia do rio da Prata, do qual o rio Paraná é o maior ‘provedor’. Não retrata na totalidade o que se passou em 2025 nas várias sub-bacias, porém o essencial é mostrado. Registro que é um problema recorrente, requerendo a construção de novas estratégias para que as cidades tenham água garantida, as represas gerem energia e a agropecuária siga produzindo.

Apresentação

O ano de 2025 configurou nova crise hídrica em vários territórios da bacia do rio Paraná/Prata na Argentina, Paraguai e no Brasil, região que concentra a maior parte da economia desses países e da América do Sul.

No Brasil, a unidade ambiental ‘bacia do Paraná’ tem em seu território partes dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, um pequeno trecho de Santa Catarina e do Distrito Federal. Cerca de 65 milhões de pessoas habitam a região e nela estão capitais como São Paulo, Curitiba, Campo Grande e grandes cidades como Ribeirão Preto e Campinas.

A chegada das chuvas no final de outubro de 2025, provavelmente trazidas pela condição ‘La Niña’ no Pacífico, não deve tirar a atenção do fato de que a bacia do Paraná teve, nos últimos meses, condições críticas em várias sub-bacias.

São Paulo

A situação de maior repercussão foi e ainda é a da área metropolitana da capital de São Paulo. Milhões de pessoas sofreram e sofrem as consequências de um período prolongado de pouca chuva em seus territórios de captação de água.

Atualmente os reservatórios do sistema de abastecimento da área da capital têm níveis críticos, similares a outra crise, a de 2013. Vale o registro de que isso ocorre mesmo depois das obras feitas para integrar novos mananciais ao sistema de abastecimento da região metropolitana. Durante a crise hídrica de 2013, o volume de água dos reservatórios ficou muito baixo e foi preciso usar o chamado ‘volume morto’ das represas e racionar a distribuição de água, segundo registro do Instituto Água e Saneamento (IAS), uma organização não governamental dedicada ao tema e que vem acompanhando de perto os níveis dos reservatórios do Sistema Integrado Metropolitano (SIM), em declaração para a Folha de São Paulo em sua edição de 27/10/25. Com base na informação de que novos mananciais foram agregados ao sistema e, mesmo assim, se tem uma crise semelhante, é permitido concluir que a atual crise é maior que a registrada em 2023? Não é possível obter a resposta com as informações disponíveis, pois se sabe que a retirada de água do sistema tem aumentado: em 2013 a Sabesp retirava, em média, 69,8 m3/s, em 2025 essa média, até agosto, subiu para 72 m3/s. Entre 2017 e 2022, a média foi de 62,3 m3/s. Em 2023, subiu para 65,6 m3/s e, em 2024, para 68,5 m3/s.

A crise é agravada por perdas na rede de distribuição. Segundo a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) o volume de água perdida em vazamentos está em 19,4% e as perdas aparentes, conjunto de ligações clandestinas e leituras erradas de hidrômetros, em 29,4%.

Outras regiões do Estado, como Bauru, adotam sistema de rodízio no fornecimento. Os problemas em Bauru se devem a queda nos níveis do rio Batalha, responsável pelo abastecimento de 30% da população. A municipalidade afirma que no longo médio prazo reduzirá a dependência do “sistema Batalha” perfurando poços e acessando outros cursos de água.

Poços profundos e com grande capacidade de fornecimento de água em São Paul, em geral, são perfurados para alcançar o Aquífero Guarani, com resultados preocupantes. Em Ribeirão Preto, centro do agronegócio da cana, o Guarani sofreu um rebaixamento de cerca de 120 metros ao longo dos últimos 70 anos, segundo um estudo da Universidade de São Paulo (USP) divulgado em 2021.

Estado do Paraná

Estudo publicado em agosto, realizado pelo Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar) e outras instituições, mostrou um quadro de seca em várias regiões do Estado, evoluindo da categoria moderada para grave, principalmente no Norte, em alguns municípios da divisa com São Paulo.

Minas gerais

A vazão do rio Uberaba, em Minas Gerais, caiu drasticamente, o que impactou o abastecimento de municípios de sua bacia. Em Uberaba o prefeito decretou situação de emergência no abastecimento de água tratada por 30 dias, a partir do dia 9/10. Na época a vazão do rio estava em torno de 1.000 l/s, sendo o mínimo necessário é de 1.200 l/s.

Mato Grosso do Sul

O Estado tem parte de seu território rios que drenam para a bacia do rio Paraná e parte que drenam para a bacia do rio Paraguai.

O Paraguai percorre a fronteira do Brasil com a Bolívia e Paraguai e depois atravessa o Paraguai para desaguar no rio Paraná na divisa com a Argentina. Sub-bacias importantes dos dois rios tiveram em 2025 chuvas deficientes. O sistema de monitoramento da ‘Sala de Situação dos Rios’ do Estado informou, na primeira quinzena de setembro, que os rios Aquidauana, Pardo e Dourados estavam desde o início de agosto em condições críticas. No início de setembro o rio Cuiabá, na divisa entre MS e MT, entrou nessa lista e no dia 15 foi a vez do rio Miranda.

Ainda em setembro rio da Prata, famoso por suas águas claras, secou em um trecho, no município de Jardim. Em 2024, entre julho e novembro aconteceu o mesmo.

Argentina: Paraná – Prata

O rio Paraná atravessa um período de águas baixas que se manterá durante os próximos meses, segundo informou o diretor da Direção Geral de Hidráulica e Obras Sanitárias de Entre Rios, Oscar Pintos. O Instituto Nacional da Água (INA) prevê para o trimestre de outubro, novembro e dezembro uma situação de águas baixas com algumas crescidas em consequência das chuvas originadas nas partes altas do rio Paraná e do rio Paraguai. (El Once)

O rio Paraná em seu trecho final junta-se ao rio Uruguai, formando o rio da Prata, que dá o nome para a grande bacia hidrográfica da América do Sul. Recentemente Organização Meteorológica Mundial (OMM) publicou um relatório detalhando que em 2024, o rio da Prata figura como um dos cursos de água com a caudal mais comprometido na América do Sul, situação mostrada nos últimos quatro relatórios anuais. (TN)

Produção agrícola – da manga ao limão

Na província Argentina de Formosa, parte da bacia do rio Paraná, um site local (El Comercial) publicou no dia 24 de outubro que não havia uma manga, a fruta local mais popular. O agrônomo Rolando Scribano afirma que as razões são as alterações climáticas e as condições de seca.

Em São Paulo, no município de Itajobi, na bacia do rio São José dos Dourados, uma sub-bacia do sistema rio Tietê-Paraná, os produtores de limão informam que o clima seco impede o desenvolvimento normal das plantas e que mesmo nas áreas irrigadas o calor interfere negativamente na qualidade e tamanho dos limões. A informação foi publicada no G1.

Pecuária

A estiagem prolongada afetou a qualidade da pastagem e reduziu a produção de leite no oeste paulista, nos municípios de Presidente Prudente e Rancharia (SP). Os custos aumentaram, pois os pecuaristas foram obrigados a recorrer a silagem. (G1)

Na Argentina o fato mais grave:  A seca prolongada em 2025 foi a causa da morte de pelo menos 317 mil vacas e 155,8 mil bezerros nos últimos 3 anos. A informação é da Bolsa de Valores de Santa Fé e foi publicada por O Globo no dia 22/10/25.

Energia mais cara por falta de água

Estudo do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), publicado recentemente, mostra que uma crise hídrica dos últimos 10 anos ocorreu em bacias hidrográficas estratégicas do Brasil: Paraná, São Francisco e Tocantins. A bacia do Paraná é responsável pela geração de mais de 60% da energia hidroelétrica do Brasil. As águas dos reservatórios a montante de Itaipú, a última hidroelétrica em território brasileiro do sistema Paraná.

A imagem aproximada da bacia no Brasil é a de uma cascata, com águas que passam por diversas hidrelétricas até alcançar Itaipu, na parte final em território brasileiro.

No estudo o Cemaden destaca algumas represas que operaram em regime de crise ou “seca”, cada vez mais severas, nos últimos 10 anos, dentre elas Itaipu, Porto Primavera, Jupiá, Ilha Solteira e São Simão na bacia do rio Paraná.

Menor quantidade de água nos reservatórios, menor geração de energia elétrica, mais geração por usinas térmicas a gás, as quais que têm custo mais alto.

O fenômeno indicado pela pesquisa do Cemaden é de grande importância e com provável conexão com publicação da NASA que registramos em publicação anterior: a queda abrupta da quantidade de água doce global começou com uma seca massiva no Norte e Centro do Brasil, logo seguida por uma série de grandes secas na Australásia, América do Sul, América do Norte, Europa e África, informa texto da NASA de novembro de 2024 com base na publicação “An Abrupt Decline in Global Terrestrial Water Storage and Its Relationship with Sea Level Change”.

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