Fonte: Aquidauana Mais
A Comunidade Quilombola Furna dos Baianos, onde residem 28 famílias, está situada no distrito de Piraputanga, em Aquidauana-MS. A região, hoje valorizada pelo mercado turístico, também possui potencial para atividades agrícolas e de pecuária leiteira. Com a criação da Associação de Desenvolvimento do Turismo Estrada Parque de Piraputanga (ATUPARK) , da indústria de farinha de mandioca e do auxílio pela Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (AGRAER), os agricultores familiares são motivados a continuar exercendo as atividades na região.
Esta comunidade está inserida no ecótono Cerrado-Pantanal, ou seja, no encontro da savana mais biodiversa do mundo com a maior planície alagável do planeta. Quem conhece sabe o quão especial é este lugar!
Os agricultores familiares Jamil Albuquerque de Moraes e Maria Lucia Dias de Moraes me receberam carinhosamente e foram entrevistados informalmente, fornecendo várias informações, indicando o potencial das atividades na região e os entraves para as mesmas práticas em propriedades vizinhas.
O relato mostra a experiência de uma família rural dependente do turismo, produção de leite e de farinha de mandioca, e a tendência das práticas na região, visando agregar conhecimento nas práticas agroecológicas da região de Aquidauana e contribuir no desenvolvimento da comunidade, aprofundando o debate sobre o histórico das atividades na região.
Os agricultores familiares Jamil e Maria Lucia realizam, desde 2004, atividades de turismo na Comunidade Quilombola Furna dos Baianos, e somado ao incentivo da prefeitura para a produção de farinha de mandioca e o crescente mercado dos produtos lácticos na região, os agricultores adotam práticas que contribuem para o desenvolvimento socioeconômico da comunidade, visto que, a variedade de produtos oferecidos garante renda aos produtores rurais nas diversas épocas do ano e dá visibilidade à gestão sustentável da propriedade rural.
O desenvolvimento das atividades de turismo na Comunidade Quilombola Furna dos Baianos iniciou-se com os próprios produtores entrevistados (Jamil e Maria Lúcia) que após realizarem cursos de técnicas de descida vertical (rapel) e trekking (trilhas), se tornaram aptos à exercerem a atividade na propriedade, e esta representa parcela significativa da renda destes produtores.
O cultivo de mandioca sempre foi exercido na comunidade, porém, a produção de farinha de mandioca foi intensificada após incentivo por parte da prefeitura, com a construção da indústria farinheira, inaugurada em 16 de maio de 2012, e desde então, há um aumento crescente na produção.
A pecuária leiteira é uma atividade econômica que exige certos cuidados como o manejo de pastagens e manutenção de cercas, porém com o auxílio técnico da AGRAER, alguns produtores se mostram incentivados à produzirem de forma sustentável. Além disso, a aquisição de animais de elevada qualidade genética garantem a produtividade e fornecimento da matéria-prima para a fabricação de doces, manteiga, queijo caipira, pão de queijo e outros produtos.
As atividades de turismo, produção de mandioca e de leite permitem a oferta de serviços de café com trilha, como são chamados os deliciosos café-da-manhã depois das atividades físicas de trekking e/ou rapel. No café-da-manhã são servidos sucos naturais, leite in natura, café, chá, bolo de mandioca, biscoitos, beijú(tapioca) recheado com geléias ou queijo, pão de queijo, queijo caipira, bolo de legumes, manteiga caseira e o saboroso pãozinho da Lucia.
As atividades de turismo já vêm sendo realizadas desde 2004, já a pecuária leiteira desde 2011 e a produção de farinha de mandioca desde 2013. Além do apoio oferecido pela prefeitura municipal de Aquidauana, os produtores contam com o apoio das agências de turismo, a AGRAER e o grupo de extensão Anarco Pedagógico Atemporais, que contribuem de forma significativa com a experiência.
PERSPECTIVAS
O uso da terra para o desenvolvimento sustentável de atividades turísticas, de produção de farinha de mandioca e de produtos lácticos se mostra promissora na Comunidade Quilombola Furna dos Baianos. O turismo é incentivado pela Associação De Turismo Da Estrada Parque Piraputanga. De um tempo para cá, nota-se que houve uma valorização das propriedades, principalmente por conta do potencial turístico da região.
Segundo Jamil, a implantação da indústria farinheira, aliada a rica tradição agrícola dos povos quilombolas foi importante para consolidar a agricultura ecológica da mandioca na comunidade, e atualmente, têm-se evidenciado o aumento nas extensões do cultivo de mandioca.
A pecuária leiteira na comunidade, anteriormente pouco produtiva devido à falta de conhecimento, atualmente é incentivada principalmente pela demanda por produtos lácticos processados e apresenta-se como uma atividade econômica promissora.
Para o turismo, as principais dificuldades encontradas são a dificuldade ao acesso e comunicação, bem como a falta de cursos recebidos ou investidos na comunidade para incentivar a atividade. O apoio de grupos de extensão, como o Anarco, contribui com o sucesso do turismo na comunidade.
Já o cultivo de mandioca é dificultado por problemas como pela a falta de estradas para o escoamento da produção de farinha e a demora na implantação do saneamento básico, portanto, sabe-se que os problemas burocráticos são responsáveis por frear o comércio da Farinha de Mandioca Furna dos Baianos.
Para a pecuária leiteira, as dificuldades são o manejo das pastagens e a aquisição de animais de qualidade genética.
Segundo os entrevistados a tendência para as 3 atividades são positivas, principalmente na produção de farinha, pois os resultados obtidos nos primeiros anos estimulam a ampliação das áreas de cultivo e também da indústria. A procura por imóveis aumentou no distrito de Piraputanga, acredita-se que parte por conta do potencial turístico da região, portanto, alguns proprietários rurais criaram a Associação de Turismo da Estrada Parque de Piraputanga, e isso tem alavancado a atividade na Comunidade Quilombola Furna dos Baianos.