BRASÍLIA, 28 de setembro (Reuters) – A eleição para a Presidência da República de um operário com histórico de lutas sociais encheu os ambientalistas de esperanças quatro anos atrás. Hoje, no entanto, eles têm sentimentos contraditórios quanto aos resultados do governo de Luiz Inácio Lula da Silva na área ambiental.
Por um lado, o desmatamento das florestas continua e há projetos de construção de grandes hidrelétricas que devastariam parte da Amazônia. Por outro, foram criadas reservas nacionais, que agora abrangem 10 por cento da Amazônia.
A existência de duas posturas dentro do governo, segundo os ambientalistas, deve provocar tensão em um eventual segundo mandato.
“Tenho algumas coisas a dizer, mas são misturadas com frustração. Há muito trabalho a ser feito”, disse Ana Cristina Barros, diretora da ONG Nature Conservancy no Brasil.
“Este governo tem duas caras. Uma é guiada por interesses empresariais, a outra por interesses sociais, e as duas estão em constante tensão”, disse Adalberto Marcondes, editor do boletim Envolverde.
As disputas sobre como desenvolver a Amazônia marcaram o primeiro mandato de Lula. Analistas dizem que o país terá uma crise energética até 2010 se a capacidade geradora não acompanhar o crescimento econômico. A construção de mais hidrelétricas é vista como essencial para abastecer a indústria.
Há planos para duas novas usinas hidrelétricas, uma no rio Madeira (RO), e outra mais próxima da fronteira agrícola, no Xingu (PA). Há também projetos de gasodutos cruzando a região.
As empreiteiras fazem pressão por mais projetos de infra-estrutura e se queixam das restrições impostas por leis ambientais.
Os ambientalistas querem barragens menores para as hidrelétricas, e dizem que pequenos projetos sustentáveis seriam mais úteis para os quase 20 milhões de habitantes da floresta.
No primeiro mandato de Lula, a devastação da Amazônia cresceu devido à explosão na demanda mundial de soja e carne, o que fez agropecuaristas avançarem sobre a Amazônia. Isso ajudou a economia, mas fez um pedaço de floresta maior que o Estado de Sergipe desaparecer em um ano.
Depois do auge da devastação, em 2004, o ritmo do desmatamento caiu em um terço em 2005 e deve diminuir mais 10 por cento este ano. Ambientalistas temem, porém, que a única razão para isso seja a diminuição na demanda por soja, carne e madeira.
O Greenpeace deu o prêmio “Moto-serra de ouro” para o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, que é um grande produtor de soja em seu Estado. Lula foi “finalista” do concurso.
Mas os ativistas não deixam de dar crédito a Lula por sua decisão de quase dobrar a extensão das áreas de conservação, que agora cobrem cerca de 10 por cento da Amazônia. Eles também atribuem à ministra Marina Silva a maior parte das iniciativas positivas no setor.
Ela ordenou mais de 12 batidas policiais contra redes de exploração de madeira, algumas envolvendo ramificações no Ibama.
Sérgio Leitão, do Greenpeace, afirma, no entanto, que medidas como a criação de reservas serão apenas um gesto simbólico se o governo não puder policiar a área.
Estudo da entidade WWF concluiu que o Brasil poderia atender às suas necessidades energéticas até 2020 com recursos renováveis e conservação — economizando assim 33 bilhões de reais.
“O Brasil precisa parar de olhar o meio ambiente como um problema e começar a vê-lo como uma solução”, disse Denise Hamu, secretária-geral do WWF no Brasil.