//

Antas “avisam” pesquisadores sobre contaminação humana por agrotóxicos no MS

4 minutos de leitura
Anta fotografada em plantação de milho em agosto de 2022 Foto: INCAB

Além de agrotóxicos como glifosato, moradores do sudeste do estado também apresentaram altos índices de metais no corpo. Antas atuaram como sentinelas

Anta fotografada em plantação de milho em agosto de 2022 Foto: INCAB

Pesquisadores de equipe multidisciplinar identificaram que uma parcela de moradores do sudeste do Mato Grosso do Sul está contaminada com agrotóxicos e metais pesados, provenientes das grandes monoculturas da região. Os resultados foram divulgados na última semana. A descoberta só foi possível graças ao “aviso” dado pelas antas que vivem no local.

O trabalho, conduzido por pesquisadores da Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (INCAB), projeto do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), analisou a presença de 25 tipos de agrotóxicos e nove metais em moradores das cidades de Nova Alvorada do Sul e Nova Andradina. 38% das pessoas analisadas testaram positivo para algum químico ou metal, sendo que em alguns casos havia mais de um composto presente.

Segundo Patrícia Medici, coordenadora do INCAB-IPÊ, a anta é considerada uma “espécie sentilena”, isto é, pode ser utilizada para detectar riscos ou perigos a elas mesmas e a outras espécies, incluindo seres humanos.

Por esta razão, a presença das substâncias nas antas levantou a preocupação nos pesquisadores sobre a saúde das comunidades que vivem na região onde os animais foram amostrados, na qual há a presença de grandes monoculturas de cana-de-açúcar, soja, milho e algodão, além de criação de gado.

“Começamos a pensar que, sendo as antas sentinelas e nos mostrando quais são os compostos presentes no ambiente, as comunidades humanas nessas regiões estariam também expostas  a esses químicos”, disse a pesquisadora.

A pesquisa sobre presença de agrotóxicos e metais em antas foi realizada entre 2015 e 2018. Durante esse período, foram analisadas amostras biológicas das antas, principalmente de carcaças frescas de animais atropelados ao longo de 34 rodovias do Mato Grosso do Sul.

Nos animais amostrados foi possível detectar 13 compostos químicos diferentes, incluindo nove pesticidas e quatro metais.

Brasil dos agrotóxicos

O Brasil é um dos países mais permissivos quando se trata de agrotóxico no mundo. Nos países da União Europeia, por exemplo, a concentração de glifosato na água não pode ultrapassar 0,1 µg/l. No Brasil, esse limite é de 500 µg/l, ou seja, 5.000 vezes maior.

O Centro-Oeste é a região que mais comercializa agrotóxicos no país. Em 2020, segundo dados do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), a região vendeu 237 mil toneladas de agrotóxicos, o que representou 37% do total vendido em todo país naquele ano. O Mato Grosso do Sul, sozinho, comercializou cerca de 19 mil toneladas de glifosato no período.

Altas concentrações de herbicidas no corpo humano podem causar pruridos e lesões na pele, disfunção do fígado e rins, mal-estar, náuseas e vômito, diarreia, tremores, alteração do humor, perda da memória e insônia, entre outros sintomas.

“A gente espera que, com esse conjunto mais amplo de resultados, seja possível iniciar uma conversa com os órgãos governamentais, os laboratórios, as empresas do agronegócio que estão envolvidas com essa cadeia de utilização dos agrotóxicos em nosso país”, diz Medici.

Via O Eco

Deixe uma resposta

Your email address will not be published.

Mais recente de Blog

Em novembro de 2023 a Ecoa participou de reunião com o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ilan Goldfajn, apresentando a necessidade de o Banco tivesse especial atenção para a América do Sul quanto à questão climática. A região precisaria do BID para apoiar projetos voltados para a mitigação de eventos climáticos extremos em diferentes territórios. As cidades “biomas” precisam de apoio especial para medidas básicas como a arborização adequada a esses novos tempos.

Hoje tivemos a alegria de receber na Ecoa, o produtor rural Nelson Mira Martins, criador da RPPN Água Branca – nova reserva reconhecida oficialmente pelo ICMBio, que garante a proteção definitiva da segunda maior cachoeira de Mato Grosso do Sul, no município de Pedro Gomes.Seu Nelson foi recebido pela pesquisadora Fernanda Cano, e Alcides Faria, diretor institucional e um dos fundadores da Ecoa, e conversaram sobre as possibilidades que se abrem com a preservação da cachoeira e a criação da RPPN.

Hoje tivemos a alegria de receber na Ecoa, o produtor rural Nelson Mira Martins, proprietário da