Por Silvia Zanatta
Silvia é doutoranda do programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Local pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), Campo Grande, MS.
Não é novidade que o barramento de um rio provoque ações ambientais e sociais irreversíveis. Normalmente, a discussão sobre a implementação de uma represa gera muita comoção, principalmente pelo fato de uma considerável área ser inundada, peixes terem suas rotas bloqueadas, o pulso de inundação do rio não ter mais uma constância, mas você sabia que isso vai muito além?
Consegue imaginar que uma única barragem altere até mesmo a dinâmica populacional e comportamental de Araras? Pois é exatamente isso que vem acontecendo numa região do rio Correntes, entre os municípios de Sonora/MS e Itiquira/MT, onde em 2004 foi instalada a Usina Hidrelétrica Ponte de Pedra.
Confira o relato de Saulo Moraes, um antigo morador da região:
“A usina, um tempo atrás, andou segurando de forma tão violenta a água que sai pelo ladrão da vazão do leito natural do rio que a força dessa água, que depois ela soltava, andou derrubando muitos buritis. Os buritis servem de abrigo e de casa para as araras procriarem. Interessante dizer das araras é que elas nos avisam quando vai começar o período de chuva. As araras aqui no entendimento nosso começa no mês de julho a cortar o broto do Buriti pra matar o buriti. Ai em agosto a parte de cima do buriti já está morta e as araras fazem o buraco pra fazer o ninho. No mês de setembro começa a bota os ovos, no mês de outubro nasce os filhotes, final de outubro pra começo de novembro os filhotes já estão voando, exatamente quando já é o período chuvoso. Mas já aconteceu várias vezes da arara avisar que a chuva vinha antes, porque começou a roer o topo do buriti antes do mês de julho. O ciclo das araras é importante para os ribeirinhos. Sem buriti ela não fica aqui na nossa região e ai não sabemos mais quando a chuva vai chegar”.